A psicopatologizacão e a medicalização das infâncias: o que pode a psicanálise frente aos efeitos da segregação?
DOI:
https://doi.org/10.5433/1984-7939.2024v9n4p1063Palavras-chave:
Segregação, Medicalização, Psicopatologização, Infância, PsicanáliseResumo
A psicopatologização e medicalização das infâncias, apresentam-se contemporaneamente com um caráter epidêmico de proporções nacionais e internacionais. Tornou-se uma questão de saúde pública, na qual as crianças são tomadas como objetos de avaliação e intervenções médico-psiquiátricas, atuantes principalmente na regulação de seus comportamentos e corpos, destituindo-as da posição de sujeitos. É irrefutável que há nichos de mercado em expansão com propostas diagnósticas e terapêuticas, as quais legitimam a si mesmas como ciências verdadeiras, baseadas em evidências. Os demais saberes, como a psicanálise, passam a ser denominadas de pseudociências. A saúde mental é um grande negócio em que para cada novo transtorno, há novos medicamentos e tratamentos. Nesse contexto, o que poderia a psicanálise frente aos efeitos da segregação decorrente da aliança entre o discurso do capitalismo e da ciência? Qual lugar para o discurso do analista na cidade dos discursos, que produzem grupos fechados, novas identidades para esses sujeitos? Ao analista caberia assumir uma posição ortopédica, servindo a ideologia da criança feliz e funcional, ou sustentar a ética do desejo do sujeito inconsciente, não recuando ante a criança que faz com o seu sintoma uma via de preservação de sua singularidade, continuamente ameaça pelos ideais de normalidade.
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