A psicopatologizacão e a medicalização das infâncias: o que pode a psicanálise frente aos efeitos da segregação?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-7939.2024v9n4p1063

Palavras-chave:

Segregação, Medicalização, Psicopatologização, Infância, Psicanálise

Resumo

A psicopatologização e medicalização das infâncias, apresentam-se contemporaneamente com um caráter epidêmico de proporções nacionais e internacionais. Tornou-se uma questão de saúde pública, na qual as crianças são tomadas como objetos de avaliação e intervenções médico-psiquiátricas, atuantes principalmente na regulação de seus comportamentos e corpos, destituindo-as da posição de sujeitos. É irrefutável que há nichos de mercado em expansão com propostas diagnósticas e terapêuticas, as quais legitimam a si mesmas como ciências verdadeiras, baseadas em evidências. Os demais saberes, como a psicanálise, passam a ser denominadas de pseudociências. A saúde mental é um grande negócio em que para cada novo transtorno, há novos medicamentos e tratamentos. Nesse contexto, o que poderia a psicanálise frente aos efeitos da segregação decorrente da aliança entre o discurso do capitalismo e da ciência? Qual lugar para o discurso do analista na cidade dos discursos, que produzem grupos fechados, novas identidades para esses sujeitos? Ao analista caberia assumir uma posição ortopédica, servindo a ideologia da criança feliz e funcional, ou sustentar a ética do desejo do sujeito inconsciente, não recuando ante a criança que faz com o seu sintoma uma via de preservação de sua singularidade, continuamente ameaça pelos ideais de normalidade.   

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Biografia do Autor

Halanderson Raymisson da Silva Pereira, Universidade Federal de Rondônia

Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, professor da Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, RO, BR. Endereço eletrônico: halandersonpereira@gmail.com.

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Publicado

17-12-2024

Como Citar

PEREIRA, Halanderson Raymisson da Silva. A psicopatologizacão e a medicalização das infâncias: o que pode a psicanálise frente aos efeitos da segregação?. Educação em Análise, Londrina, v. 9, n. 4, p. 1063–1082, 2024. DOI: 10.5433/1984-7939.2024v9n4p1063. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/educanalise/article/view/51895. Acesso em: 6 mar. 2025.

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