Corpos que transgridem, palavras que resistem: um debate sobre gênero e testemunho

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2021v26n3p621

Palavras-chave:

Gênero, Memória, Testemunho, Trauma

Resumo

O objetivo deste artigo é assinalar a importância dos estudos de gênero aos debates sobre trauma e testemunho. Tendo como base a discussão sobre a necessidade de um outro que possa acolher as palavras em ruínas dos testemunhos, apontamos o corpo como local da memória para experiências traumáticas individuais e coletivas. Os procedimentos metodológicos adotados nesta pesquisa consistem tanto na revisão bibliográfica sobre trauma e testemunho como na análise de diferentes modalidades testemunhais de presas políticas nas ditaduras da Argentina e do Brasil. Nossos resultados apontam como o debate sobre gênero oferece novas possibilidades para se trabalhar com as ressignificações presentes nos testemunhos, especialmente ao problematizar convenções de feminilidades e masculinidades. Por fim, concluímos que os testemunhos são potencialmente desestabilizadores dos discursos hierarquizados e das práticas hegemônicas quando estudados a partir da união intrínseca entre corpo, memória e gênero.

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Biografia do Autor

Danielle Tega, Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul- UEMS

Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas. Pós doutora  no Núcleo de Estudos de Gênero - Pagu.

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Publicado

2021-12-30

Como Citar

TEGA, Danielle. Corpos que transgridem, palavras que resistem: um debate sobre gênero e testemunho. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 26, n. 3, p. 621–638, 2021. DOI: 10.5433/2176-6665.2021v26n3p621. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/42400. Acesso em: 3 nov. 2024.

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