"Eles estão por todos os lugares”: Reflexões e Apontamentos a partir da circulação de pessoas em situação de rua
DOI:
https://doi.org/10.5433/2176-6665.2022v27n3e44708Palavras-chave:
Situação de Rua, Circulação, Volta Redonda, Redes de acolhimentoResumo
Viver em situação de rua é viver em circulação, “habitando todos os espaços” sem, contudo, permanecer em algum deles. Os sujeitos que vivenciam o espaço das ruas reconfiguram as noções de casa e evidenciam o descompasso e a fragilidade das instituições. O presente artigo tem como objetivo fazer apontamentos sobre a centralidade da circulação na vida de pessoas em situação de rua, destacando principalmente as formas de se ganhar e reproduzir a vida. Temos como chave analítica breves notas etnográficas de trabalhos de campo ainda em desenvolvimento em Volta Redonda, município localizado no sul do Estado do Rio de Janeiro, trazendo as primeiras impressões sobre o circular e permanecer a partir de uma média cidade. Entendemos, por fim, que as formas de assistência, acesso a equipamentos de saúde e de tratamentos possibilitam condições mínimas de um cotidiano fragmentado, mas que também apontam para uma forma indireta de abandono desta minoria indesejada, evidenciando também que estes sujeitos “estão por todos os lugares” – o paradoxo do visível e invisível tratado pelos estudos da situação de rua.
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