Rumo a uma educação antirracista na educação bilíngue: a proposta do “Global Kids”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1519-5392.2022v22n2Esp.p107

Palavras-chave:

Educação antirracista. Educação bilíngue. Interculturalidade crítica.

Resumo

Este artigo apresenta uma possibilidade de promover uma educação antirracista na educação infantil bilíngue, se afastando de discursos hegemônicos e supostamente neutros que geralmente circulam em escolas bilíngues de línguas de prestígio. Para tanto, apresentamos exemplos de propostas baseadas no Letramento Racial Crítico (LRC) para o contexto de Educação Bi/Multilingue de línguas de prestígio, por meio do material Global Kids (EL KADRI; SAVIOLLI, 2022). Apoiados em uma perspectiva de educação bilíngue heteroglóssica, proposta por García (2009) e ancorados pelo viés da interculturalidade crítica em escolas bilíngues (CANDAU, 2008; LIBERALI, 2020; LIBERALI; MEGALE, 2021; WALSH, 2010), analisamos uma das unidades temáticas do material didático “Global Kids” - utilizado em uma escola bilíngue pública - pelo referencial do Letramento Racial Crítico (LRC). Com os exemplos de algumas atividades inspiradas nas temáticas das obras “Sulwe” e “Lara’s Black Dolls”, procuramos demonstrar que, a partir da intencionalidade na escolha de estórias que representam positivamente protagonistas negras e um trabalho baseado no LRC, é possível promover uma educação bilíngue pautada em práticas que quebrem discursos e ideologias racistas desde a educação infantil.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Michele Salles El Kadri, Universidade Estadual de Londrina - UEL

Pós-Doutora em Linguística Aplicada pela UNicamp e Pós dourado em Educação pela UFES (em andamento). Doutora em Estudos da Linguagem (UEL). Professora Adjunta da Universidade Estadual de Londrina.

Vivian Bergantini Saviolli, Universidade Estadual de Londrina - UEL

Doutoranda em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina. 

Cecília Gusson Santos, Universidade Estadual de Londrina - UEL

Doutoranda em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina. Diretora auxiliar do Colégio Estadual Aldo Dallago, no município de Ibaiti.

Referências

ABAYOMI. In: WIKIPEDIA: A enciclopédia livre. [São Francisco: Wikimedia Foundation, 2007]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Abayomi. Acesso em: 27 out. 2022.

ALMEIDA, S. Racismo estrutural: feminismos plurais. São Paulo: Editora Pólen, 2019.

BELL, L. A. Theoretical foundations for social justice education. In: ADAMS, M.; BELL, L.; GRIFFIN, P. (ed.). Teaching for diversity and social justice: a sourcebook. New York: Routledge, 1997. p. 3-15. DOI: https://doi.org/10.4324/9781003005759-2

BENTO, M. A. S. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, I.; BENTO, M. A. S. (org.). Psicologia Social do racismo: estudo sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, c2002. p. 25-57.

BENTO, M. A. S. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. 2002. 169 f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-18062019-181514/publico/bento_do_2002.pdf. Acesso em: 27 out. 2022.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília: MEC, 2018.

CANDAU, V. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: MOREIRA, A. F. B.; CANDAU, V. M. Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 2008.

CARNEIRO, S. A construção do outro como não ser como fundamento do ser. 2005. 339 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: https://negrasoulblog.files.wordpress.com/2016/04/a-construc3a7c3a3o-do-outro-como-nc3a3o-ser-como-fundamento-do-ser-sueli-carneiro-tese1.pdf. Acesso em: 27 out. 2022.

CAVALLEIRO, E. Educação antirracista: compromisso indispensável para um mundo melhor. In: CAVALLEIRO, E. (org.). Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola. São Paulo: Selo Negro, 2001. p. 141-160.

CRENSHAW, K. Mapping the margins: intersectionality, identity politics, and violence against women of color. Stanford Law Review, Stanford, v. 43, n. 6, p. 1241-1299, 2010. DOI: https://doi.org/10.2307/1229039

EL KADRI, M. S.; SAVIOLLI, V. B. Global Kids – Portfolio Bilíngue. Campinas: Pontes Editores, 2022.

EL KADRI, M. S.; SAVIOLLI, V. B.; MOLINARI, A. C. “Tough guys have feelings too” e “Mae among the stars”: recriando identidades de gênero na educação infantil bilíngue por meio de um material didático para a escola bilíngue pública. In: EL KADRI, M. S.; SAVIOLLI, V. B.; MOLINARI, A. C. Conversa com Educadores de Educação Bi/Multilíngue: o que pesquisadores tem a nos dizer?. Campinas: Pontes Editores. No prelo.

FAIRCLOUGH, N. Language and Power. London: Routledge, 2001.

FERREIRA, A. J. Educação antirracista e práticas em sala de aula: uma questão de formação de professores. Revista de Educação Pública, Cuiabá, v. 1, p. 275-288, 2012.

FERREIRA, A. J. Epistemologies of critical racial literacy in the Brazilian context: identities of foreign language teachers, and intersectionality with race, gender and social class. Revista Virtual Lingu@ Nostr@, Vitória da Conquista, v. 8, n. 1, p. 130-156, 2021.

FERREIRA, A. J. Identidades sociais de raça, gênero, sexualidade e classe nos livros didáticos de língua estrangeira na perspectiva da Linguística Aplicada. In: FERREIRA, A. J. (org.). As políticas do livro didático e identidades sociais de raça, gênero, sexualidade e classe em livros didáticos. Campinas: Pontes Editores, 2014a. p. 91-120.

FERREIRA, A. J. Narrativas autobiográficas de professoras/es de línguas na universidade: letramento racial crítico e teoria racial crítica. In: FERREIRA, A. J. (org.). Narrativas autobiográficas de identidades sociais de raça, gênero, sexualidade e classe em estudos da linguagem. Campinas: Pontes Editores, 2015. p. 127-160.

FERREIRA, A. J. Teoria racial crítica e letramento racial crítico: narrativas e contra-narrativas de identidade racial de professores de línguas. Revista da ABPNI, Guarulhos, v. 6, n. 14, p. 236-263, 2014b.

FERREIRA, A. J. What has race/ethnicity got to do with EFL teaching?. Linguagem e Ensino, Pelotas, v. 10, n. 1, p. 211-233, 2007.

GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st Century: a global perspective. Malden: Basil; Oxford: Blackwell, 2009.

GARCÍA, O. Prefácio. In: MEGALE, A (org.). Educação bilíngue no Brasil. São Paulo: Fundação Santillana, 2019.

GARCÍA, O.; WEI, L. Translanguaging: language, bilingualism and education. London: Palgrave, 2014. DOI: https://doi.org/10.1057/9781137385765_4

GOLEMAN, D. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. 2. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

GOMES, N. L. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. In: BRASIL. Ministério da Educação. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03. Brasília: MEC, 2005. p. 39-62. Disponível em: https://www.livrosgratis.com.br/ler-livro-online-26934/educacao-anti-racista--caminhos-abertos-pela-lei-federal-no-1063903-colecao-educacao-para-todos. Acesso em: 27 out. 2022.

GONÇALVES, L. A. O.; SILVA, P. B. G. O Jogo das Diferenças: o multiculturalismo e seus contextos. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2006.

LADSON-BILLINGS, G. But that’s just good teaching! The case for culturally relevant pedagogy. Theory into Practice, Philadelphia, v. 34, n. 3, p. 159-165, 1995. DOI: https://doi.org/10.1080/00405849509543675

LANDER, E. Ciencias sociales: saberes coloniales y euro cêntricos. In: LANDER, E. (org.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales - perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: Clacso, 2000. p. 11-40.

LIBERALI, F. O desenvolvimento de agência e a Educação Multi/Bilíngue. In: MEGALE, A. (org.). Desafios e práticas na educação bilíngue. São Paulo: Fundação Santillana, 2020, p. 77-92.

LIBERALI, F.; MEGALE, A. Como implementar a multiculturalidade. In: MEGALE, A (org.). Educação Bilíngue: como fazer?. São Paulo: Fundação Santillana, 2021.

LIBERALI, F.; MEGALE, A. Elite bilingual education in Brazil: an applied linguistic perspective. Colombian Applied Linguistic Journal, Bogotá, v. 18, n. 2, p. 95-108, 2016. Disponível em: https://revistas.udistrital.edu.co/index.php/calj/article/view/10022/11671. Acesso em: 27 out. 2022. DOI: https://doi.org/10.14483/calj.v18n2.10022

LUPITA NYONG'O. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (3 min 32 seg). Publicado pelo canal Lupita Nyong'o. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Go55eGL-1nQ. Acesso em: 27 out. 2022.

MEGALE, A. Educação bilíngue no Brasil. São Paulo: Fundação Santillana, 2019.

MEGALE, A.; EL KADRI, M. S.; SAVIOLLI, V. B. Sonhar, ousar e esperançar: a construção de inéditos viáveis em uma escola bilíngue pública. Submetido.

MEJÍA, A. M. Power, prestige and bilingualism. Clevedon: Multicultural Matters Limited, 2002.

MIGNOLO, W. D. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 32, n. 94, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/nKwQNPrx5Zr3yrMjh7tCZVk/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 27 out. 2022. DOI: https://doi.org/10.17666/329402/2017

MOSLEY, M. ‘That really hit me hard’: moving beyond passive anti‐racism to engage with critical race literacy pedagogy. Race Ethnicity and Education, [s. l.], v. 13, n. 4, p. 449-471, 2010. DOI: https://doi.org/10.1080/13613324.2010.488902

PEREIRA, A. L.; LACERDA, S. S. P. Letramento racial crítico: uma narrativa autobiográfica. Travessias, Cascavel, v. 13, n. 3, p. 90-106, 2009.

RESENDE, V. M.; RAMALHO, V. Análise de Discurso Crítica. São Paulo: Editora Contexto, 2019.

RIBEIRO, D. O que é lugar de fala?. Belo Horizonte: Letramento, 2017.

ROSA, J.; FLORES, N. Unsettling race and language: toward a raciolinguistic perspective. Language in Society, Cambridge, v. 46, n. 5, p. 621-647, 2017. DOI: https://doi.org/10.1017/S0047404517000562

Disponível em: https://www.cambridge.org/core/services/aop-cambridge-core/content/view/30FFC5253F465905D75CDFF1C1363AE3/S0047404517000562a.pdf/unsettling-race-and-language-toward-a-raciolinguistic-perspective.pdf. Acesso em: 27 out. 2022.

SANTOS, B. S.; MENESES, M. P. (org.) Epistemologias do Sul. São Paulo: Editora Cortez. 2010.

SANTOS, B. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. 63, p. 237-280, 2002. DOI: https://doi.org/10.4000/rccs.1285

SANTOS, R. Maioria minorizada: um dispositivo analítico de racialidade. Rio de Janeiro: Telha, 2020.

SANTOS; C. G.; SANTOS, J. R.O. S.; EL KADRI, M.S. Letramento Racial Crítico na construção da Educação. Entretextos, v. 21, n.2, p. 153 DOI: https://doi.org/10.5433/1519-5392.2021v21n2p153

SKERRETT, A. English teachers’ racial literacy knowledge and practice. Race Ethnicity and Education, [s. l.], v. 14, n. 3, p. 313-330, 2011. DOI: https://doi.org/10.1080/13613324.2010.543391

VAN DIJK, T. A. Discurso e Poder. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2018.

WALSH, C. Estudios (inter)culturales en clave decolonial. Tabula Rasa, Bogotá, n. 12, p. 209-227, 2010. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=39617422012. Acesso em: 27 out. 2022. DOI: https://doi.org/10.25058/20112742.393

Downloads

Publicado

30-11-2022

Como Citar

EL KADRI, M. S.; SAVIOLLI, V. B.; SANTOS, C. G. Rumo a uma educação antirracista na educação bilíngue: a proposta do “Global Kids”. Entretextos, Londrina, v. 22, n. 2Esp., p. 107–129, 2022. DOI: 10.5433/1519-5392.2022v22n2Esp.p107. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/entretextos/article/view/46465. Acesso em: 28 mar. 2024.