Sobre a Revista
A Revista Boitatá (ISSN 1980-4504) é uma publicação de fluxo contínuo vinculada a Universidade Estadual de Londrina (UEL), de acesso livre, do GT de Literatura Oral e Popular da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Letras e Linguística (ANPOLL). Ela tem por objetivo principal disseminar trabalhos inéditos decorrentes de produções científicas de pesquisadores nacionais e estrangeiros que investigam as poéticas orais e a literatura popular. A partir de 2023 a revista passou a adotar a licença CC BY.
Edição Atual
Editorial
Artigos Fluxo Contínuo
LETRAS E VOZES CONTRACOLONIAIS E ANTIRRACISTAS
Submissões até 13 de Fevereiro de 2023
ORGANIZADORAS: Ana Lúcia Liberato Tettamanzy (UFRGS), Cristina Mielczarski dos Santos, Mônica de Souza Chissini (UFRGS/IFRS) e Vera Lúcia Cardoso Medeiros (UNIPAMPA).
Inspirados pela contundência anticolonial de Aimé Césaire (1978), acrescentamos que a as formas do neocolonialismo extrativista e transnacional permanecem moralmente, epistemologicamente, esteticamente e ontologicamente indefensáveis. Do mesmo modo, o enfrentamento da “zona do não ser” (FANON, 2008) imposta pelo olhar imperial sobre sujeitos racializados segue inspirando existências que se fazem na afirmação geopolítica de identidades e corpos-território dissidentes. O grupo Modernidade/Colonialidade (ESCOBAR, 2003) retoma essa linhagem a partir de várias disciplinas e em diálogo com tradições críticas como as dos estudos subalternos e dos estudos pós-coloniais, examinando o reverso da modernidade e seus desdobramentos na América Latina. Assim, a decolonialidade contesta o universalismo abstrato e homogeneizante eurocêntrico ou nortecêntrico que pretendeu subalternizar ou mesmo aniquilar práticas e subjetividades não brancas (de sujeitos e coletivos marcados como “outros”) com a proposição de vários mundos e formas de conhecimento (o pluriverso). Como educadoras e acadêmicas, buscamos aproximar teoria e prática ou a realidade habitada e as criações e proposições de autorias negras, indígenas e periféricas num projeto que se quer político e acadêmico. Se admitimos nossa ignorância sobre essas/es outras/os, não deixamos de buscar práticas pedagógicas decoloniais e parcerias de intervenção social como reação à violência epistêmica sobre os sistemas próprios de simbolização, subjetivação e representação desses sujeitos e coletivos subalternizados. Por exemplo, somos desafiados tanto pelas escritas e performances no artivismo de Jaider Esbell como pelas provocações de Denilson Baniwa em sua “reantropofagia”, ação anticolonial e insurgente no espaço racista e predador do circuito da arte contemporânea. Igualmente buscamos atuar na “guerra pelo reencantamento do mundo” a partir das formulações de Luiz Rufino, que consideram ancestralidade, alteridades e vinculação entre formas de vida e existência (material e espiritual) como bases de uma educação comunitária (dialogando, entre outros, com o pensamento de Abdias Nascimento sobre quilombismo, com as formulações de Lélia Gonzales sobre amefricanidade e, mais recentemente, com a proposta de Antônio Bispo dos Santos de contracolonização pelos povos afropindorâmicos). Acompanhamos eventos e experiências poéticas e narrativas que se fazem presentes nos espaços públicos e periféricos, como saraus, certames de poesia falada (slam), circuitos de arte urbana e da cultura hip hop, ou ainda expressões performáticas de matrizes religiosas e culturais afrocentradas, enfim, uma multiplicidade de manifestações artístico-culturais que instabilizam os cânones. Desse modo, o Dossiê acolherá propostas que a partir de letras e vozes de lugares empíricos ou simbólicos (territórios ou textos) contestem a manutenção do racismo-etnocentrismo-colonialismo nos campos das artes, das poéticas da voz, do pensamento crítico, da educação e da (cosmo)política.