“Ninguém Quer Ir para o Hospital” – Gramáticas Morais e Redes de Abortamento entre Mulheres no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2024v29n1e49134

Palavras-chave:

aborto, redes sociais, Estado, políticas públicas, ativismos

Resumo

Este texto tem como objetivo compreender as gramáticas morais por meio das redes de abortamento construídas por e entre mulheres no contexto brasileiro. Nosso intuito é analisar como a organização entre essas atrizes sociais é arquitetada nas omissões do Estado e nas insuficiências das políticas públicas. Para tanto, realizamos uma pesquisa empírica em rede (on e offline), considerando o fluxo de informações em plataformas de redes sociais e sites, a análise de cartilhas e materiais informativos e entrevistas com ativistas que atuam no atendimento de mulheres que desejam abortar. Notamos que as redes conduzidas por mulheres reconfiguram gramáticas morais em torno da noção de vítima, assim como evidenciam uma fronteira porosa entre legalidades e clandestinidades, uma vez que ocupam lacunas da realização de abortos legais, da educação em saúde reprodutiva e segurança jurídica, e da promoção de relações de gênero não vulnerabilizantes.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lara Rodrigues Facioli, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Doutora em Sociologia pela Universidade de São Carlos (2017). Docente junto ao Departamento e ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná.

Ana Júlia da Costa, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná. Integrante do Núcleo de Estudos da Universidade Federal do Paraná.

Rafaela Zimkovicz , Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Graduada em História pela Universidade Federal do Paraná (2023). Mestranda em História pela Universidade Federal do Paraná.

Referências

AHMED, Sara. Viver uma vida feminista. Tradução de Jamille Pinheiro Dias, Mariana Ruggieri e Sheyla Miranda. São Paulo: Ubu, 2022.

ÁLVAREZ, Sonia; FRIEDMAN, Elisabeth; BECKMAN, Ericka; BLACKWELL, Maylei; CHINCHILLA, Norma; LEBON, Nathalie; NAVARRO, Marisa; TOBAR, Marcela. Encontrando os feminismos latino-americanos e caribenhos. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 11, n. 2, p. 541-575, dez. 2003. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-026X2003000200013

ANUÁRIO brasileiro de segurança pública 2023. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ano 17, 2023.

BALIEIRO, Fernando. Não se meta com meus filhos: a construção do pânico moral da criança sob ameaça. Cadernos Pagu, Campinas, n. 53, p. 1-15, 2018. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8653414. Acesso em: 13 out. 2023. DOI: https://doi.org/10.1590/18094449201800530006

CARVALHO, Jess; VELLA, Letícia; ASSIS, Mariana Prandini. Boas práticas de cobertura feminista sobre aborto no Brasil. [S. l.]: Nem pressa nem morta; Catarinas, 2023. Disponível em: https://catarinas.info/wp-content/uploads/2023/04/Guia_Boas_praticas_de_cobertura_feminista_sobre_aborto_no_-Brasil.pdf. Acesso em: 13 out. 2023.

COLETIVO MARGARIDA ALVES. Guia de defesa popular da justiça reprodutiva. [S. l.: s. n.], 2020. Disponível em: https://www.mulheres.org.br/wp-content/uploads/2020/02/guia-defesa-popular-justica-reprodutiva.pdf. Acesso em: 13 out. 2023.

COSTA, Marli Marlene da; SOARES, Etyane Goulart. Biopolítica e controle dos corpos femininos: um debate sobre maternidade compulsória e aborto: Revista Húmus, Porto Alegre, v. 12, n. 35, p. 369-386, 2022. DOI: https://doi.org/10.18764/2236-4358v12n35.2022.17. DOI: https://doi.org/10.18764/2236-4358v12n35.2022.17

DANTAS, Ana Carolina Lessa. Credibilidade pública, saberes localizados: disputa epistêmica sobre o dispositivo Essure no Distrito Federal. Mediações, vol. 28, n. 3, p. 1-15, 2023. DOI: https://doi.org/10.5433/2176-6665.2023v28n3e47895. DOI: https://doi.org/10.5433/2176-6665.2023v28n3e47895

DINIZ, Débora; MADEIRO, Alberto. Cytotec e aborto: a polícia, os vendedores e as mulheres. Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 7, p. 1795-1804, 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000700018

DINIZ, Débora; MEDEIROS, Marcelo; MADEIRO, Alberto. Pesquisa nacional de aborto Brasil, 2021. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 6, n. 28, p. 1601-1606, jun. 2023. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232023286.01892023 DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232023286.01892023

FACIOLI, Lara Roberta Rodrigues. Mídias digitais e horizontes de aspiração: um estudo sobre a comunicação em rede entre mulheres das classes populares brasileiras. Tese (Pós-Doutorado em Sociologia) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2017.

FASSIN, Didier. As economias morais revisitadas. In: RIFIOTIS, Theofilus; SEGATA, Jean (org.). Políticas etnográficas no campo da moral. Porto Alegre: UFRGS, 2019. p. 51-87.

FOUCAULT, Michel. A sociedade punitiva. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2016.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. Tradução: Maria Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2007.

GARCIA, Pedritta M. Pais poderão proibir filhos em atividades de gênero nas escolas: projeto de lei semelhante já tramita na câmara dos deputados. Câmara Municipal de Curitiba, Curitiba, 23 set. 2023. Disponível em: https://www.curitiba.pr.leg.br/informacao/noticias/pais-poderao-proibir-participacao-de-filhos-em-atividades-de-genero-nas-escolas. Acesso em: 10 out. 2023.

IBGE. Outras formas de trabalho: 2019. Rio de Janeiro: IBGE, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101722. Acesso em: 13 out. 2023.

KUMPERA, Julia Aleksandra Martucci. O lesbianismo é um barato: o GALF e o ativismo

lésbico-feminista no Brasil (1979-1990). 2021. 221 f. Dissertação (Mestrado em História Cultural) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2021.

LARA, Walace; KOYAMA, Natália. Após 3 decisões da Justiça, Prefeitura de SP diz estar 'tomando providências' para voltar a realizar aborto legal no Hospital Vila Nova Cachoeirinha. G1, São Paulo, 1 fev. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/02/01/apos-3-decisoes-da-justica-prefeitura-de-sp-diz-estar-tomando-providencias-para-voltar-a-realizar-aborto-legal-no-hospital-vila-nova-cachoeirinha.ghtml. Acesso em: 03 fev. 2024.

LAZARUS, A. Psychiatric sequelae of legalized first trimester abortion. Journal of Psychosomatic Obstetrics & Gynaecology, London, v. 4, n. 3, p. 140-50, 1985. DOI: https://doi.org/10.3109/01674828509019579

LUNA, Naara; GOMES, Edlaine de Campos. O debate legislativo sobre aborto e diversidade sexual e as eleições de 2018: uma mirada antropológica sobre a onda conservadora. Dados, Rio de Janeiro, v. 67, n. 1, p. 1-54, 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/dados.2024.67.1.309

LUNA, Naara; PORTO, Rozeli. Aborto, valores religiosos e políticas públicas: a controvérsia sobre a interrupção voluntária da gravidez na audiência pública da ADPF 442 no Supremo Tribunal Federal. Religião & Sociedade, Rio de Janeiro, v. 43, p. 151-180, 2023. DOI: https://doi.org/10.1590/0100-85872023v43n1cap06

MACHADO, Lia Zanotta. O aborto como direito e o aborto como crime: o retrocesso neoconservador. Cadernos Pagu, Campinas, v. 50, p. 1-48, 2017. DOI: https://doi.org/10.1590/18094449201700500004

MACHADO, Maria das Dores. O discurso cristão sobre a “ideologia de gênero”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 26, n. 2, p. 1-18, jun. 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9584-2018v26n247463

MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria das mídias digitais. Petrópolis: Vozes, 2014.

MCCLINTOCK, Anne. Couro imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas: Editora da UNICAMP, 2010.

MESMO com a pandemia, Curitiba é a cidade com o maior PIB do Sul do país, diz IBGE. Prefeitura Municipal de Curitiba, Curitiba, 16 dez. 2022. Disponível em: https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/mesmo-com-a-pandemia-curitiba-e-a-cidade-com-o-maior-pib-do-sul-do-pais-diz-ibge/66691#:~:text=Apesar%20da%20pandemia%2C%20Curitiba%20manteve,Geografia%20e%20Estat%C3%ADstica%20(IBGE). Acesso em: 13 de out. 2023

NUNES, Rodrigo. Nem vertical nem horizontal: uma teoria da organização política. São Paulo: Ubu, 2023.

PAASONEN, Susanna. Surfing the waves of feminism: cyberfeminism and its others. Labrys, Estudos Feministas, [s. l.], n. 7, jan./jul. 2005. Disponível em: https://www.labrys.net.br/labrys7/sumarios/cyber.htm. Acesso: 27 set. 2023.

PEDROSO, Daniela. Aborto e saúde mental. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 64, n. 2, p. 38-39, 2012. DOI: https://doi.org/10.21800/S0009-67252012000200016

PIMENTEL, André de Pieri; PINHO, Isabela Vianna. A gestão dos ilegalismos enquanto mercado sobre o roubo e o furto de veículos em São Paulo, Brasil. Runa, Buenos Aires, v. 43, n. 2, p. 305-324, 2022. DOI: https://doi.org/10.34096/runa.v43i2.8505

PORTO, Rozeli; SOUSA, Cassia. Percorrendo caminhos da angústia: Cytotec e os itinerários abortivos em uma capital do Nordeste brasileiro. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 593-616, 2017. DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n2p593

RAMÍREZ, Martha Celia. A propriedade do corpo: o lugar da diferença nos discursos de homens e mulheres acerca do aborto voluntário. Cadernos Pagu, Campinas, n. 15, p. 297-335, 2000. Disponível em: <https://ieg.ufsc.br/storage/articles/October2020//Pagu/2000(15)/C_Ramirez.pdf>

SABSAY, Leticia. The political imaginary of sexual freedom: subjectivity and power in the new sexual democratic turn. London: Palgrave Macmillan, 2016. DOI: https://doi.org/10.1057/978-1-137-26387-2

SALLE, Grégory. De l’illégalisme à la gestion différentielle des illégalismes: retour sur un concept. Materiali Foucaultiani, Guyancourt, v. 3, n. 6, p. 307-322, 2014.

SARTI, Cynthia. A vítima como figura contemporânea. Caderno CRH, Salvador, v. 24, n. 61, p. 51-61, 2011. DOI 10.9771/ccrh.v24i61.19193. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-49792011000100004

SE HOMEM engravidasse, o aborto não seria discutido: Câmara dos Deputados. Belo Horizonte: TV Band Minas, 2023. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal TV BAND MINAS. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=F7okh7lGeoo. Acesso em: 13 out. 2023.

SEDGWICK. Eve Kosofsky. A epistemologia do armário. Cadernos Pagu, Campinas, v. 28, p. 19-54, 2007. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-83332007000100003

SILVA, Vitória Régia. A maré verde da descriminalização do aborto na América Latina. Gênero e Número, Rio de Janeiro, fev. 2022. Disponível em: https://www.generonumero.media/reportagens/aborto-america-latina/. Acesso em: 8 out. 2023.

SIMMEL, George. O segredo. Revista Política & Trabalho, João Pessoa, v. 15, p. 221-226, 1999. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/politicaetrabalho/article/view/6442. Acesso em: 13 out. 2023.

SIMÕES, Julian. Sobre gramáticas emocionais e violência sexual: notas a partir de dois casos de interrupção legal de gestação realizados por mulheres com deficiência intelectual, Anuário Antropológico, Brasília, DF, v. 44, n. 1, p. 117-113, 2019. DOI: https://doi.org/10.4000/aa.3496

SOCORRISTAS EN RED. ¿Cómo hacerse un aborto seguro con medicamentos?. Argentina: Socorristas en Red, 2022. Disponível em: https://socorristasenred.org/. Acesso em: 13 out. 2023.

SOCORRISTAS EN RED. Quiénes Somos. Socorristas en Red: Feministas y Transfeministas que Abortamos. Socorristas en Red, 2022. Disponível em: socorristasenred.org/quienes-somos/. Acesso em: 13 out. 2023.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar?. Tradução de Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa e André Pereira. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.

SUTTON, Barbara. Zonas de clandestinidad y “nuda vida:” mujeres, cuerpo y aborto. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 889-902, maio/ago. 2017. DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9584.2017v25n2p889

TELLES, Vera da Silva. A cidade nas fronteiras do legal e do ilegal. Belo Horizonte: Fino Traço Editora, 2010.

TOLEDO, Roselaine; LORETO, Maria das Dores Saraiva. Reflexos das representações sociais de gênero no funcionamento da guarda compartilhada. Gênero & Direito, Paraíba, v. 9, n. 4, p. 146-177, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/ged/article/view/52149. Acesso em: 8 out. 2023.

VERDE-Esperanza: aborto legal na América latina. Direção: Maria Lutterbach. Produção: Aline Gatto Boueri; Maria Lutterbach; Vitória Régia da Silva. Roteiro: Giulliana Bianconi. [S. l.]: Filmes da Fonte, 2023. (42 min). Disponível em: https://tamandua.tv.br/filme/default.aspx?name=verde_esperanza. Acesso em: 13 out. 2023.

WAJCMAN, Judy. Feminist theories of technology. Cambridge Journal of Economics, Oxford, v. 34, n. 1, p. 143-152, 2010. DOI 10.1093/cje/ben057 DOI: https://doi.org/10.1093/cje/ben057

Publicado

2024-03-28

Como Citar

FACIOLI, Lara Rodrigues; COSTA, Ana Júlia da; ZIMKOVICZ , Rafaela. “Ninguém Quer Ir para o Hospital” – Gramáticas Morais e Redes de Abortamento entre Mulheres no Brasil. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 29, n. 1, 2024. DOI: 10.5433/2176-6665.2024v29n1e49134. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/49134. Acesso em: 21 nov. 2024.

Edição

Seção

Dossiê

Dados de financiamento

Artigos Semelhantes

<< < 1 2 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.