Estudantes africanos dos PALOP em Redenção, Ceará, Brasil: representações, identidades e poder
DOI:
https://doi.org/10.5433/2176-6665.2020v25n1p64Palavras-chave:
Identidades, Relações étnico-raciais, Cooperação internacional, Regimes de representação, Poder.Resumo
O presente artigo propõe uma reflexão sobre as representações que envolvem estudantes africanos em Redenção, Ceará, Brasil que são parte da experiência social promovida pelas novas políticas públicas de integração e inclusão com a criação da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira (Unilab) em 2010. O percurso investigativo desta reflexão foi realizado a partir da observação e participação das autoras no campo empírico em sua busca por conexões entre imagens, discursos e situações. As diferenças sentidas e vividas pelos estudantes estrangeiros vindos dos países africanos de língua portuguesa nas suas interações cotidianas passam a ser percebidas teoricamente como uma construção identitária marcada por elementos raciais e étnicos dentro de circunstâncias particulares e situacionais (BARTH, 2003). A partir dos conflitos e da ausência de comunicação entre estrangeiros e brasileiros, o artigo identifica a experiência herdada de regimes dominantes de representação sobre os povos negros (HALL, 1990) no Ceará e avança em questões que conectam os processos identitários, o racismo e o exercício de poder no mundo contemporâneo.Downloads
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