O sujeito endividado como doppelgänger do empreendedor de si: subjetivação pela dívida na crise do neoliberalismo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2020v25n3p675

Palavras-chave:

Empreendedor de si, Sujeito endividado, Subjetivação, Doppelgänger, Neoliberalismo

Resumo

Tendo como pressuposto a intuição marxista de vincular subjetivação e trabalho, tomamos a via foucaultiana para pensar o neoliberalismo enquanto uma razão governamental que produz sua própria subjetividade funcional, o empreendedor de si, que mobiliza a essência do mercado pela concorrência. Avançando pela via crítica de Lazzarato, levando em conta a financeirização e a sociedade de controle nos deparamos com o sujeito endividado como o principal produto subjetivo neoliberal. Desse modo, introduzimos o conceito de Doppelgänger para pensar o sujeito endividado como o duplo do empreendedor de si, formando uma relação constitutiva entre estes opostos-similares. A subjetivação se dá por esse processo que encarna os personagens conceituais da razão neoliberal em simultaneidade, formando uma síntese disjuntiva que escancara a natureza paradoxal do neoliberalismo e o limite de suas promessas. Por fim exploramos brevemente a hipótese de Lazzarato de que o aparecimento do sujeito endividado seria uma substituição do empreendedor de si (antes que simultâneo), o que acompanharia a tendência autoritária ou fascista do capitalismo atual; mas acabamos por argumentar que, com a noção de Doppelgänger e a duplicidade dos personagens, estamos diante de uma continuidade neoliberal, mesmo se “autoritária”.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Émerson Pirola, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS

Doutorado em Programa de Pós-Graduação em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul- PUCRS.

Referências

ANDRADE, Daniel Pereira; OTA, Nilton Ken. Uma alternativa ao neoliberalismo: Entrevista com Pierre Dardot e Christian Laval. Tempo Social, São Paulo, v. 27, n. 1, p. 275-316, jun. 2015.

COCCO, Giuseppe; CAVA, Bruno. New neoliberalism and the other: biopower, anthropophagy, and living money. London: Lexington Books, 2018.

DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo: Editora 34, 1992.

DELEUZE, Gilles. Foucault. Tradução de Claudia Sant' Anna Martins. São Paulo: Brasiliense, 1991.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2010.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34, 1992.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. Curso no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008.

GAGO, Veronica. A razão neoliberal: economias barrocas e pragmática popular. São Paulo: Elefante, 2018.

GAGO, Verónica; CAVALLERO, Luci. Uma leitura feminista da dívida: vivas, livres e sem dívidas nos queremos. Porto Alegre: Criação Humana, 2019.

GRAEBER, David. Dívida: os primeiros 5.000 anos. São Paulo: Três Estrelas, 2016.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.

HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Assembly: a organização multitudinária do comum. Tradução de Lucas Carpinelli e Jefferson Viel. São Paulo: Editora Filosófica Politéia, 2018.

HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Empire. Cambridge: Harvard University Press, 2000.

HUR, Domenico Uhng. Deleuze e a constituição do diagrama de controle. Fractal: Revista de Psicologia, Niterói, v. 30, n. 2, p. 173-179, maio-ago. 2018.

LAGASNERIE, Geoffroy de. A última lição de Michel Foucault. São Paulo: Três Estrelas, 2013.

LAZZARATO, Maurizio. Fascismo ou revolução: o neoliberalismo em chave estratégica. Trad. Takashi Wakamatsu e Fernando Scheibe. Rio de Janeiro: n-1 editora, 2019a.

LAZZARATO, Maurizio. La fabrique de l’homme endetté: Essai sur la condition néolibérale. Paris: Éditions Amsterdam, 2011.

LAZZARATO, Maurizio. Le capital déteste tout le monde: fascisme ou révolution. Paris: Éditions Amsterdam, 2019b.

LAZZARATO, Maurizio. O governo do homem endividado. Rio de Janeiro: n-1 editora, 2017.

LAZZARATO, Maurizio. Signos, máquinas, subjetividades. Rio de Janeiro: n-1 editora, 2014.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2015. Livro I: O processo de produção do capital.

NIETZSCHE, Friedrich. A genealogia da moral. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

PEREIRA, Paula Cardoso. O ranking do homem endividado: sobre modos de subjetivação a partir do novo Cadastro Positivo. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL LAVITS, 6., 2019, Salvador. Anais [...]. Salvador: LAVITS, 2019. Disponível em: http://lavits.org/wp-content/uploads/2019/12/Pereira-2019-LAVITSS.pdf. Acesso em: 10 abr. 2020.

ST-GERMAIN, Philippe. Doubles and doppelgangers: religious meaning for the young and old. Observatoire de L'imaginaire Contemporain,2010. Disponível em: ttp://oic.uqam.ca/fr/publications/doubles-and-doppelgangers-religious-meaning-for-the-young-and-old. Acesso em: 27 fev. 2020.

STRIKE DEBT. The debt resistors operations manual. New York: Members of the Strike Debt assembly, 2012. Disponível em: https://strikedebt.org/The-Debt-Resistors-Operations-Manual.pdf. Acesso em: 15 fev. 2020.

VARDOULAKIS, Dimitris. The return of negation: the doppelgänger in Freud’s “The ‘Uncanny’”. SubStance, Madison, v. 35, n. 2, p. 100-116, 2006.

ŽIVKOVIĆ, Milica. The double as the "unseen" of culture: toward a definition of doppelganger. Facta Universitatis: Linguistics and Literature, Niš, v. 2, n. 7, p. 121-128, 2000.

Downloads

Publicado

2020-12-29

Como Citar

PIROLA, Émerson. O sujeito endividado como doppelgänger do empreendedor de si: subjetivação pela dívida na crise do neoliberalismo. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 25, n. 3, p. 675–694, 2020. DOI: 10.5433/2176-6665.2020v25n3p675. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/39838. Acesso em: 22 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos

Artigos Semelhantes

1 2 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.