Habitando incertezas: reflexões sobre deficiência e práticas de cuidado na luta moradias assistida

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2018v23n3p103

Palavras-chave:

Deficiência Cognitiva, Cuidado, Moradias Assistidas, Relações Familiares

Resumo

O tema das moradias assistidas é recente tanto nos debates públicos quanto na legislação brasileira. Com um trabalho etnográfico realizado na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, junto a mães de adultos com deficiência cognitiva que se organizaram enquanto um movimento que luta pela causa das moradias assistidas, proponho, neste trabalho, uma reflexão sobre deficiência e práticas de cuidado que parta de suas práticas e discursos. Ao buscar arranjos outros que não junto ao seio familiar, essas mulheres trazem à tona julgamentos que muito dizem sobre a experiência da deficiência. Foco, portanto, minha análise nas tensões, controvérsias e acusações morais que permeiam este pleito para, com isto, chamar atenção para os modos como suas trajetórias são perpassadas por regimes em que tanto a deficiência quanto os trabalhos do cuidado são desvalorizados. Argumento, por fim, que discussões que versam sobre a promoção de direitos, autonomia e independência das pessoas com deficiência devem vir acompanhadas de uma reflexão acerca da experiência das cuidadoras, em especial das mães. Uma experiência que permite uma melhor compreensão sobre os modos pelos quais a deficiência cognitiva é percebida e abordada em nossa sociedade.

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Biografia do Autor

Helena Moura Fietz, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Professora da Rice University.

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Publicado

2018-12-29

Como Citar

FIETZ, Helena Moura. Habitando incertezas: reflexões sobre deficiência e práticas de cuidado na luta moradias assistida. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 23, n. 3, p. 103–131, 2018. DOI: 10.5433/2176-6665.2018v23n3p103. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/34304. Acesso em: 24 nov. 2024.

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Dossiê

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