Neoliberalismo e sofrimento psíquico: a psiquiatrização dos padecimentos no âmbito laboral e escolar
DOI:
https://doi.org/10.5433/2176-6665.2020v25n2p302Palavras-chave:
Capital humano, Educação, Sofrimento psíquico, Psiquiatrização, InfânciaResumo
O neoliberalismo é um espaço de produção de subjetividade cujo eixo é a noção de capital humano. Considerando-se que, para o discurso neoliberal, a construção desse capital humano deve ter início na primeira infância, mostramos que, nesse contexto, a educação é entendida como um investimento destinado a hierarquizar e valorizar esse capital. Partindo dos trabalhos de Dardot e Laval, propomos estudar o impacto efetivo que esse modo neoliberal de entender educação tem no âmbito escolar, sublinhando seu vínculo com a proliferação de diagnósticos psiquiátricos na infância. Finalmente, analisamos de que modo esse processo de psiquiatrização dos sofrimentos psíquicos, e de apagamento de fatores e conflitos sociais, impacta na saúde mental das crianças quando elas fracassam no processo educativo.Referências
APA - AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-5. Arlington: APA, 2013.
BALL, Stephen J. Educação global S. A.: novas redes políticas e o imaginário neoliberal. Ponta Grossa: UEPG, 2014.
BAUMAN, Zygmunt. Miedo líquido: la sociedad contemporánea y sus temores. Buenos Aires: Paidos, 2007.
BECKER, Gary. Investment in human capital: a theoretical analysis. The Journal of Political Economy, Chicago, v. LXX, n. 5, p. 9–49, out. 1962.
BOURDIEU, Pierre. A essência do neoliberalismo. Le Monde Diplomatique, São Paulo, p. 10-13 , fev. 1998.
BOURDIEU, Pierre. Capital cultural, escuela y espacio social. Buenos Aires: Siglo XXI, 2008.
CAMPBELL, Denis; MARSH, Sarah. Quarter of a million children receiving mental health care in England. The Guardian, New York, 3 Oct. 2016. Disponível em: https://www.theguardian.com/society/2016/oct/03/quarter-of-a-million-children-receiving-mental-health-care-in-england. Acesso em: 13 jun. 2020.
CARVALHO, José Sérgio Fonseca. Educação, uma herança sem testamento: diálogos com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: FAPESP, 2017.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
DARÉ, Patricia K. A definição das políticas públicas educacionais brasileiras a partir do discurso neoliberal. Tese de doutorado, Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, 2019.
FARIAS, Francisco Ramos. O fracasso escolar no cenário das patologias da contemporaneidade. Arquivos Brasileiros de Psicologia, Rio de Janeiro, v. 59, n. 2, dez. 2007.
FOUCAULT, Michel. Naissance de la biopolitique. Paris: Gallimard, 2005.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petropolis: Ed. Vozes, 1999.
GOFFMAN, Ervin. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de janeiro: LTC, 1988.
INSEL, Thomas. Transforming diagnosis. NIMH Director’sbBlog, 29 Apr. 2013. Disponível em: http://www.nimh.nih.gov/about/director/2013/transforming-diagnosis.shtml. Acesso em: 13 jun. 2020.
LAVAL, Christan. A escola não é uma empresa: o neoliberalismo em ataque no ensino público. Londrina: Planta, 2004.
LAVAL, Christian. Foucault, Bourdieu et la question néolibéral. Paris: La Découvert, 2018.
LAVAL, Christian; BLAY, Michel. Neuropédagogie: le cerveau au centre de l´école. Paris: Tschann & Cie, 2019.
LAVAL, Christian; DARDOT, Pierre. Común: ensayo sobre la revolución en el siglo XXI. Barcelona: Gedisa Editorial, 2015.
MONCRIEFF, Joanna. Magic bullets for mental disorders: the emergence of the concept of an “antipsychotic” drug. Journal of the History of the Neurosciences, London, v. 22, n. 1, p. 30-46, 2013.
MONCRIEFF, Joanna. Neoliberalism and biopsychiatry: a marriage of convenience. In: COHEN, C.; TIMIMI, S. (ed.). Liberatory psychiatry: philosophy, politics and mental health. Cambridge: Cambridge University Press, 2008. p. 235-256. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/books/liberatory-psychiatry/neoliberalism-and-biopsychiatry-a-marriage-of-convenience/73EDE3E8FF1797F891BDF1FC36C2A739. Acesso em: 13 jun. 2020.
OECD - ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. Lessons from PISA for Korea. Paris: OECD, 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1787/9789264190672-en. Acesso em: 13 jun. 2020.
PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Intermeios, 2015.
PIGNARRE, Phyllipe. Les malheurs des psys: psychotropes et médicalisation du social. Paris: La Découverte, 2006.
ROSE, Nikolas. Our psychiatric future. Cambridge: Polity Press, 2019.
SCHULTZ, Theodor W. O capital humano: investimentos em educação e pesquisa. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: o desaparecimento das virtudes com o novo capitalismo. Rio de Janeiro: BestBolso, 2012.
SOUZA, Aracy Mendes. Arqueologia do fracasso escolar nas práticas discursivas relativas ao ensino fundamental em Mato Grosso do Sul. 2011. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, 2011.
VARSAVSKY, Julián. Parasite no es fantasía. Página 12, Buenos Aires, 27 fev. 2020.
WHITAKER, Robert. Anatomia de uma epidemia: medicamentos psiquiátricos y el asombroso aumento de las enfermedades mentales. Madrid: Capitan Swing, 2015.
WHITAKER, Robert. Mad in America: bad science, bad medecine, and the enduring mistratment of the mentallu ill. New York: Basic Books, 2010.
WHITAKER, Robert; COSGROVE, Lisa. Psychiatry under the influence: institutional corruption, social injury, and prescriptions for reform. Chennal: Palgrave MacMillan, 2015.
YOUNG MIND. 2020. Disponível em: https://youngminds.org.uk/. Acesso em: 13 jun. 2020
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Sandra Caponi, Patricia Kozuchovski Daré
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os direitos autorais relativos aos artigos publicados em Mediações são do(a)s autore(a)s; solicita-se aos(às) autore(a)s, em caso de republicação parcial ou total da primeira publicação, a indicação da publicação original no periódico.
Mediações utiliza a licença Creative Commons Attribution 4.0 International, que prevê Acesso Aberto, facultando a qualquer usuário(a) a leitura, o download, a cópia e a disseminação de seu conteúdo, desde que adequadamente referenciado.
As opiniões emitidas pelo(a)s autore(a)s dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.