Vol. 42 No. 2 (2022): Outras modernidades: releituras literárias (1922-2022)
Ana Lígia Leite e Aguiar (UFBA), Roniere Menezes (CEFET-MG; CNPq) e Laura Brandini (UEL; CNPq), orgs.
Que Modernismo? Quando? A Semana de Arte Moderna completou 100 anos em fevereiro de 2022 e motivos não faltam para continuarmos a conversa acerca da primeira geração do Modernismo Brasileiro, bem como sobre seus contínuos impactos na vida acadêmica e além. A importação de linguagens e de estéticas estrangeiras ganhou outros ares quando estas foram deglutidas pela cultura local. A questão da identidade nacional e cultural ganhou novas modelagens na contemporaneidade. Entre tantos campos de estudo, pesquisas em arquivos literários, ligadas à literatura como campo expandido, têm proposto novas formas de diálogos entre criações nacionais e estrangeiras, trazendo instigantes perspectivas em relação ao trabalho na área da Literatura Comparada.
Das vanguardas europeias ao Modernismo Brasileiro: ou se entendeu que nós, brasileiros(as), somos antropofágicos(as), ou não se entendeu muita coisa. Alia-se ao conceito de Antropofagia, proposto por Oswald de Andrade, a noção de “traição da memória”, pensada por Mário de Andrade: esquecimentos em relação à arte, à cultura e à literatura hegemônicas impulsionariam o processo de (re)invenção brasileira visando uma expressão singular no “concerto das nações”. Manifestos, revistas, ensaios, correspondências e expansões da arte em geral foram remodelando as gerações de um movimento que parece pedir uma permanente atualização via novas e provocativas leituras, assim como reflexões sobre os apagamentos que as correntes artísticas sempre causam.
Propusemos, nesta edição da Terra Roxa e Outras Terras, rever o que significa voltar ao Modernismo de 22, que buscava majoritariamente a tomada de consciência da realidade e da cultura brasileiras, ao tempo em que se propunha discutir criticamente – 100 anos após a Independência, e apenas 34 anos após a abolição da escravatura – os problemas sociopolíticos nacionais. A enorme caixa de pandora dos desajustes brasileiros foi aberta com a ajuda da Semana de Arte Moderna de 1922. No presente, surge a pergunta: como ser antropófago(a) em tempos de patologias nacionalistas? No Brasil haveria outra medida senão reimaginar o futuro regressando, uma vez mais, ao passado, oferecendo-lhe sobrevivências transformadoras, avaliando suas heranças, questionando seus limites, pensando, no presente, conforme assinala Oswald de Andrade no Manifesto Antropófago, “contra as escleroses urbanas”? Algumas pesquisas atuais relativas à cultura afro-brasileira e indígena, aos estudos de gênero e à criação de regiões distantes dos centros de maior prestígio econômico e cultural, por exemplo, têm dado novas cores a reavaliações do modernismo, o que ocorre tanto nesta quanto em outras edições de revistas e jornais acadêmicos.