Vol. 39 (2020): Perdas e ausências na literatura contemporânea
Ricardo Augusto de Lima (UEL) e Willian André (UNESPAR), orgs.
Na antiguidade grega, aprendemos a sofrer nas tragédias e nas elegias, por enfrentarmos os nossos erros essenciais e por lamentarmos as nossas perdas. Na comédia "Much Ado about Nothing", a personagem Benedick afirma "everyone can master a grief but he that has it" - todos sabemos como sofrer, exceto aquele que sofre. Na contemporaneidade, apesar das guerras e dos genocídios, parecia que a morte havia sido domada ou apagada da vida diária, pelos procedimentos sanitários e pelo encapsulamento do episódio final nos porões refrigerados dos hospitais. A grandeza da população urbana, em seus movimentos frenéticos, anulou a figura do herói, pois somos quase todos desconhecidos no mundo das centenas de milhares ou dos milhões de habitantes. Foi preciso uma pandemia para enfrentarmos novamente a noção de uma finitude palpável, imediata, aterrorizante. A arte, momentaneamente em compasso de espera, é para muitos o refúgio ou o divertimento, no sentido de Pascal, o afastar-se da dor. Mas é nela que vamos encontrar as emoções, não aquelas profusas, conscientes e imediatas, como anotou T. S. Eliot, mas os sentimentos capazes de nos tornar humanos novamente.