Provincializando a Sociedade de Risco e o Antropoceno: Uma Análise a Partir da "Geopolítica da Nuclearidade"
DOI:
https://doi.org/10.5433/2176-6665.2024v29n2e50038Palavras-chave:
sociedade de risco, nuclearidade, mineração de urânioResumo
O objetivo deste trabalho é questionar o caráter genérico de algumas concepções em torno da “sociedade de risco”. Para isso, apresentamos dados de uma pesquisa baseada em entrevistas semiestruturadas sobre a mineração de urânio em Caetité (BA). Argumentamos que o universalismo presente nas teorizações sobre riscos ambientais é decorrente de um viés eurocentrado que desconsidera situações de injustiças ambientais e a especificidade de contextos periféricos. Fundamentamos nosso posicionamento a partir do que denominamos “geopolítica da nuclearidade”, processo através do qual são obliterados os riscos de atividades nucleares e, consequentemente, ignoradas as vulnerabilidades de populações marginalizadas. Concluímos, então, que são necessárias perspectivas sensíveis à desigual distribuição de riscos entre centros e periferias, de forma a provincializar as teorizações sobre riscos ambientais.
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