A Morte Ressignificada: Do Feminicídio à Devoção a Isabel Maria, Santa do Povo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2023v28n2e46960

Palavras-chave:

feminicídio, catolicismo popular , devoção , morte feminina

Resumo

O presente estudo tem como objetivo discutir a ressignificação da morte de Isabel Maria, a partir de seu feminicídio e posterior processo de “santificação”, situando-a no contexto machista do Nordeste brasileiro. O material empírico que embasa o presente artigo foi constituído por trabalho de campo para pesquisa doutoral que se realizou de 2016 a 2020, através de andanças e observação participante na capela construída a Isabel, em Guaraciaba, especialmente, no Dia de Finados, bem como através do encontro com interlocutoras/es e escuta de suas narrativas. Utilizando um diálogo com Segato (2005, 2010, 2015), Titus Riedl (2002) e Rodrigues (2005), dentre outros/as autores/as, ensaiamos compreender que os fios condutores da santificação no caso em questão estão entrelaçados aos sentidos do morrer no Ceará, ao assassinato de mulheres e à dimensão simbólica do corpo em sofrimento/martírio na cultura fúnebre cearense.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Daniele Ribeiro Alves, Universidade Federal do Ceará (UFC)

Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (2021). Docente convidada junto ao Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará.

Antônio Cristian Saraiva Paiva , Universidade Federal do Ceará (UFC)

Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Cearán (2004). Docente junto ao Departamento de Ciências Sociais e ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará.

Referências

ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

ALVES, Daniele Ribeiro. O gênero da devoção: corpo feminino, sofrimento e testemunho na devoção a Isabel Maria, a Santa Protetora das Mulheres Agredidas. 2021. 337 f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2021.

BANDEIRA, Lourdes Maria; MAGALHÃES, Maria José. A transversalidade dos crimes de feminicídio/femicídio no Brasil e em Portugal. Revista da Defensoria Pública do Distrito Federal, Brasília, DF, v. 1, n. 1, p. 29-56, 2019.

BECKER, Howard Saul. Métodos de pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Editora Hucitec, 1994.

BESSE, Susan Kent. Modernizando a desigualdade. São Paulo: Edusp, 1999.

BLAY, Eva Alterman. Assassinato de mulheres e direitos humanos. São Paulo: Editora 34, 2008.

BOESCH-GAJANO, Sofia. Santidade. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude (coord.). Dicionário temático medieval. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002. p.449-463.

BOUILLOUD, Jean Philippe. A autobiografia: um desafio epistemológico. In: TAKEUTI, Norma; NIEWIADOMSKI, Christophe (org.). Reinvenções do sujeito social: teorias e práticas biográficas. Porto Alegre: Sulina, 2009. p. 33-60.

BRASIL. Ministério da Justiça. Decreto-lei nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, p. 23911, 31 dez. 1940.

BRASIL. Ministério da Justiça. Lei nº 13.104, de 09 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 152, n. 46, p. 1, 10 mar. 2015.

CASCUDO, Luis da Câmara. Superstição no Brasil. 2 ed. São Paulo: Global, 2002.

CORBIN, Alain; VIGARELLO, Georges; COURTINE, Jean-Jacques. História do corpo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. Tradução de Sonia Coutinho. 5. ed. Rio de janeiro: Graal, 1986.

DE CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1998.

FERNANDES, Kamila. Protetora das espancadas é venerada no Ceará. Folha de São Paulo, São Paulo, 8 mar. 2003. Cotidiano. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0803200312.htm. Acesso em: 22 set. 2017.

FERNANDES, Rubem César. Os cavaleiros de Bom Jesus. São Paulo: Brasiliense, 1982.

FREHSE, Fraya. Os informantes que jornais e fotografias revelam: para uma etnografia da civilidade nas ruas do passado. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 36, p. 131-156, 2005.Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2247. Acesso em: 30 jul. 2017.

GAETA, Maria Aparecida Junqueira Veiga. “Santos” que não são santos: estudos sobre a religiosidade popular brasileira. Mimesis, Bauru, v. 20, n. 1, p. 57-76, 1999.

GROSSI, Miriam Pillar; MINELLA, Luzinete Simões; PORTO, Rozeli. Depoimentos: trinta anos de pesquisas feministas brasileiras sobre violência. Florianópolis: Ed. Mulheres, 2006.

HASTRUP, Kirsten. O conhecimento incorporado. Revista Repertório, Teatro & Dança, Bahia, ano 13, n.14, p. 65-73, 2010.

HOORNAERT, Eduardo. A Igreja no Brasil-colônia: 1500-1800. São Paulo: Brasiliense, 1982.

LAUWERS, Michel. “Morte e mortos”. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude (coord.). Dicionário temático do ocidente medieval. São Paulo: EDUSC, 2002. V. II, p.243 - 259.

LE BRETON, David. A sociologia do corpo. 2. ed. Tradução de Sonia Maria da Silva Fuhrmann. Petrópolis: Vozes, 2007.

LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude (coord.). Dicionário temático medieval. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002.

MESLIN, Michel. A Experiência humana do divino: fundamentos de uma antropologia religiosa. Petropolis: Vozes, 2014.

MIRANDA, Júlia. A invenção do sagrado. O Povo Online, Fortaleza. 6 abr. 2011. Disponível em: http://www.opovo.com.br/app/opovo/cadernosespeciais/santificadosiii/2011/06/04/noticiasjornalsantificados3. Acesso em: 2 jan. 2020.

O DESTINO na Ladeira das Pedras. O POVO Online, Fortaleza, 14 maio 2011. Santificados II. Disponível em: https://www20.opovo.com.br/app/opovo/cadernosespeciais/santificadosii/2011/05/14/noticiasjornalsantificados2,2241005/o-destino-na-ladeira-das-pedras.shtml. Acesso em: 20 jun. 2018.

PASINATO, Wânia. “Femicídios” e as mortes de mulheres no Brasil. Cadernos Pagu, São Paulo, n. 37, p. 219-246, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-83332011000200008

PEREZ, Léa Freitas. Fazer corpo na duração do fazer corpo. Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, v. 44, n. 2, p. 150-166, 2013.

PORTELLI, Alessandro. História oral como arte da escuta. São Paulo: Letra e Voz, 2016.

RIEDL, Titus. Últimas lembranças: retratos da morte no Cariri, região do Nordeste brasileiro. São Paulo: Annamblume, 2002.

RODRIGUES, Cláudia. Nas fronteiras do além: a secularização da morte no Rio de Janeiro (Séculos XVIII e XIX). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005.

SÁEZ, Oscar Calavia. Fantasmas falados: mitos e mortos no campo religioso brasileiro. Campinas: Editora Unicamp, 1996.

SANTOS, Cicero Joaquim dos. No entremeio dos mundos: tessituras da morte da Rufina na tradição oral. 2009. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2009.

SEGATO, Rita Laura. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário estratégico descolonial. E-Cadernos CES, Coimbra, v. 18, p. 1-5, 2012. DOI: https://doi.org/10.4000/eces.1533

SEGATO, Rita Laura. La norma y el sexo: frente estatal, patriarcado, desposesión, colonialidad. In: BELAUSTEGUIGOITIA, Marisa; SALDAÑA, Josefina (org.). Des/posesión: Género, Territorio y luchas por la naturaleza. México: PUEG-UNAM, 2015. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-026X2014000200012

SEGATO, Rita Laura. Los cauces profundos de la raza latinoamericana: una relectura del mestizaje. Crítica y Emancipación, Buenos Aires, ano 2, n. 3, p.11-44, 2010.

SEGATO, Rita Laura. Território, soberania e crimes de segundo Estado: a escritura nos corpos das mulheres de Ciudad Juarez. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 13, n. 2, p. 265-285, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ref/v13n2/26882.pdf. Acesso em: 20 abr. 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-026X2005000200003

STEIL, Carlos Alberto. Romeiros e turistas no santuário de Bom Jesus da Lapa. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, n. 20, p. 249-261, 2003.

STEIL, Carlos Alberto; HERRERA, Sonia Reyes. Catolicismo e ciências sociais no Brasil: mudanças de foco e perspectiva num objeto de estudo. Sociologias, Rio Grande do Sul, n. 23, p. 354-393, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S1517-45222010000100013

VAUCHEZ, André. Milagre. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude (coord.). Dicionário temático medieval. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002. p. 202-203. WOODWARD, Kenneth. A fábrica de santos. São Paulo: Siciliano, 1992.

Downloads

Publicado

2023-05-05

Como Citar

ALVES, Daniele Ribeiro; PAIVA , Antônio Cristian Saraiva. A Morte Ressignificada: Do Feminicídio à Devoção a Isabel Maria, Santa do Povo. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 28, n. 2, p. 1–20, 2023. DOI: 10.5433/2176-6665.2023v28n2e46960. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/46960. Acesso em: 24 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos

Dados de financiamento

Artigos Semelhantes

1 2 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.