O que fazem os números? produções, usos e efeitos da quantificação da vida cotidiana

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2021v26n2p241

Palavras-chave:

Números, Processos de quantificação, Tecnologias de governo, Escalas, Classificações

Resumo

A deflagração da pandemia da Covid-19 casou uma intensa circulação de tabelas, gráficos, estatísticas e rankings que buscam narrar o comportamento das infecções e mortes pelo novo vírus. Tais ‘dados’ se tornaram o cerne de disputas e negociações, evidenciando a centralidade e efeitos políticos das narrativas numéricas. Há muito pesquisadores e pesquisadoras têm abordado processos de mensuração de populações e de fenômenos sociais como instrumentos de poder e, mais recentemente, pesquisas têm avançado a discussão sobre os efeitos políticos da redução de processos sociais complexos a números. Nessa apresentação, introduzimos alguns dos problemas e subtópicos que povoam os debates contemporâneos sobre processos de quantificação no campo das ciências sociais e dos estudos sociais da ciência e tecnologia. Em específico, abordamos alguns dos problemas que estariam no cerne das discussões sobre os números na produção de narrativas oficiais e introduzimos debates em torno do papel das classificações, dos efeitos de escala e da linguagem dos números nas tecnologias de governo.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Glaucia Maricato, Universidade Livre de Berlim - FUB

Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pós-doutoranda do Instituto de Antropologia Social e Cultural da Universidade Livre de Berlim.

Vitor Simonis Richter, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pós-doutorando no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Referências

ADAMS, Vincanne. Metrics: what counts in global health. Durham, NC: Duke University Press, 2016.

BOWKER, Geoffrey C.; STAR, Susan Leigh. Sorting things out: classification and its consequences. Cambridge: The MIT Press, 1999.

BRUNO, Isabelle. La déroute du «benchmarking social: la coordination des luttes nationales contre l'exclusion et la pauvreté en Europe. Revue Française de Socio-Économie, Paris, n. 5, p. 41-61, 2010.

BRUNO, Isabelle. La recherche scientifique au crible du benchmarking. Petite histoire d'une technologie de gouvernement. Revue D’histoire Moderne & Contemporaine, Paris, n. 55, p. 28-45, 2008.

BRUNO, Isabelle; DIDIER, Emmanuel. Benchmarking: L’État sous pression statistique. Paris: Zones, 2013.

CAMARGO, Alexandre de Paiva Rio; LIMA, Renato Sérgio de; HIRATA, Daniel Veloso. Quantificação, Estado e participação social: potenciais heurísticos de um campo emergente. Sociologias, Porto Alegre, v. 23, n. 56, p. 20-40, jan./abr. 2021.

CARDOSO, Alexandre; MOTTA Cardoso, Eugênia de Souza Mello Guimarães; MOURÃO, Victor Kuiz Alves. Números emergentes: temporalidade, métrica e estética da pandemia de COVID-19. Mediações, vol. 26, n. 2, mai/ago. 2021.

CARDOSO, Bruno. Benchmarking et sécurité à Rio de Janeiro. Statistique et Société, v. 7, p. 25-30, 2019.

CARR, E. Summerson; LEMPERT, Michael (org.). Scale: Discourse and dimensions of social life. Oakland: University of California Press, 2016.

DAS, Veena; POOLE, Deborah (ed.). Anthropology in the margins of the state. Santa Fe: School of American Research Press, 2004.

DEAN, Mitchell. Governing the unemployment self in an active society. International Journal of Human Resource Management, London, n. 24, p. 559-583, 1995.

DEAN, Mitchell. Governmentality: power and rule in modern society. Londres: SAGE, 2009.

DESROSIÈRES, Alain. The politics of large numbers: a history of statistical reasoning. Cambridge: Harvard University Press, 1998.

DIDIER, Emmanuel; BRUNO, Isabelle. O «estativismo» como uso militante da quantificação. Sociologias, Porto Alegre, ano 23, n56, jan-abr. 2021, p. 82-109.

DINIZ, Débora. Zika em Alagoas: a urgência dos direitos. Brasília: Letras Livres, 2017.

ESTUPIÑAN, Juan Pablo. ¿Negro o Afrocolombiano? Disputas por las Clasificaciones Raciales/Étnicas en los Censos Colombianos. Mediações, vol. 26, n. 2, mai/ago. 2021.

FOUCAULT, Michel. A governamentalidade. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1998.

FOUCAULT, Michel. Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes, 1987.

HACKING, Ian. Historical ontology. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2002.

HACKING, Ian. The taming of chance. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, Campinas, n. 5, p. 7-41, 1995.

HIRATA, Daniel; COUTO, Maria Isabel; GRILLO, Carolina; OLLIVEIRA, Cecilia. Échanges de tirs. La production de données sur la violence armée dans des opérations de police à Rio de Janeiro. Statistique et Société, Paris, v. 7, n. 1, p. 31-39, jun./jul. 2019.

LAKOFF, Andrew. What is an epidemic emergency? In: KELLY, Ann; KECK, Frédéric; LYNTERIS, Christos (ed.). The anthropology of epidemics. London: Routledge, 2019. p. 59-69.

LATOUR, Bruno. Reassembling the Social. An introduction to Actor-Network Theory. Nova Iorque: Oxford University Press, 2005.

LATOUR, Bruno. A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru: EDUSC, 2001.

LATOUR, Bruno. Ciência em ação. Como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

LATOUR, Bruno. Visualisation and Cognition: Thinking with eyes and hands. In: JONES, Alun; KUKLICK, Henrika. Knowledge and Society: Studies in the Sociology of Culture and Present. Cambridge: MIT Press, 1986. p. 1-40.

LATOUR, Bruno; WOOLGAR, Steve. A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997.

MARICATO, Glaucia. Fábulas do fim: classificações e consequências no campo da saúde. In: ROHDEN, Fabíola; PUSSETTI, Chiara; ROCA, Alejandra. Biotecnologias, transformações corporais e subjetivas: saberes, práticas e desigualdades. Brasília, DF: ABA Publicações, 2021. p. 305-330.

MARCHESINI, Natalia Romero. Muertes que cuentan: La producción de números sobre femicidios, transfemicidios y travesticidios como una política de Estado. Mediações, vol. 26, n. 2, mai/ago. 2021.

MERRY, Sally Engle. Measuring the world: indicators, human rights, and global governance. Current Anthropology, Chicago, n. 52, supl. 3, p. 583-595, 2011.

MOTTA, Eugênia. Les favelas: normalité et subnormalité dans le recensement national brésilien. Statistique et Société, Paris, v.7, n. 1, p. 9-15, 2019a.

MOTTA, Eugênia. Resistência aos números: a favela como realidade (in)quantificável. Mana, Rio de Janeiro, v. 25, p. 72-94, 2019b.

ONG, Aiwa. Buddha is hidding: refugees, citizenship, the new America. Berkley: University of California Press, 2003.

PORTER, Theodore M. Trust in Numbers. The pursuit of objectivity in science and public life. Princeton: Princeton University Press, 1995.

QUEIMADAS atingiram 4,5 milhões de hectares no Pantanal durante 2020 segundo levantamento do MP. G1, Rio de Janeiro, 23 abril. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2021/04/23/queimadas-atingiram-45-milhoes-de-hectares-no-pantanal-durante-2020-segundo-levantamento-do-mp.ghtml. Acesso em: 28 jun. 2021.

RABOSSI, Fernando. La contrebande au Brésil. Statistique et Sociéte, Paris, v. 7, n. 1, p. 17-24, 2019.

ROSE, Nikolas. Powers of freedom: reframing political thought. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

ROSE, Nikolas; MILLER, Peter. Political power beyond the State: problematic of government. British Journal of Sociology, Oxfordshire, v. 43, n. 2, p. 271-303, jun. 1992.

SANTOS, Elisângela Oliveira. A luta de um comando e o uso dos dados como instrumento para a elaboração de estratégias de atuação de um batalhão da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Mediações, vol. 26, n. 2, mai/ago. 2021.

SCHUCH, P. A Legibilidade como gestão e inscrição política de populações: notas etnográficas sobre a política para pessoas em situação de rua no Brasil. In: FONSECA, Claudia; MACHADO, Helena (org.). Ciência, identificação e tecnologias de governo. Porto Alegre: CEGOV, 2015, v. 1, p. 121-145.

SCOTT, James C. Seeing like a state: How certain schemes to improve the human condition have failed. New Haven: Yale University Press, 1998.
SEGATA, Jean. A pandemia e o digital. Revista Todavia, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 7-15, 2020.

SEGATA, Jean; SCHUCH, Patrice; DAMO, Arlei Sander; VICTORA, Ceres. A Covid-19 e suas múltiplas pandemias. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 27, n. 59, p. 7-25, jan./abr. 2021.

SHORE, Cris; WRIGHT, Susan. Governing by numbers: audit culture, rankings and the new world order. Social Anthropology, Cambridge, n. 23, v. 1, p. 22-28, 2015.

STRATHERN, Marilyn (org.). Audit cultures: anthropological studies in accountability, ethics and the academy. Londres: Routledge, 2000.

STRATHERN, Marilyn. Partial connections. New York: Altamira Press, 2004.

TSING, Anna L. Friction: an ethnography of global connection. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2005.

TSING, Anna L. On nonscalability: the living world is not amenable to precision-nested scales. Common Knowledge, Durham, v. 18, n. 3, p. 505-524, 2012.

Publicado

2021-08-31

Como Citar

MARICATO, G.; RICHTER, V. S. O que fazem os números? produções, usos e efeitos da quantificação da vida cotidiana. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 26, n. 2, p. 241–255, 2021. DOI: 10.5433/2176-6665.2021v26n2p241. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/44048. Acesso em: 26 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê

Dados de financiamento