Responsividade na escrita argumentativa – olhares para si e para o outro

Resumo

As práticas de escrita têm sido examinadas sob vieses teóricos e metodológicos que ora focalizam a materialidade linguística com foco na textualidade, ora consideram as condições enunciativas que propiciam a emergência e a constituição dos enunciados, na interação discursiva. Inspirado nos estudos de feição interdisciplinar da Linguística Aplicada, sob perspectiva sociodiscursiva de análise (VOLÓCHINOV, 2017; BAKHTIN, 2011), adotando-se procedimento metodológico de natureza interpretativista de base indiciária (GINZBURG, 1990), em diálogo com estudiosos de gêneros discursivos e de autoria como efeito da ação do sujeito nas esferas de atividades humanas (BAKHTIN, 2011), este artigo objetiva expor resultados de uma experiência de produção de texto dissertativo-argumentativo, baseado na proposta de redação do ENEM – 2016, por graduandos de Letras. O exame dos dados (textos elaborados pelos estudantes; avaliação dos próprios textos produzidos; questionários e entrevistas semiestruturadas) possibilita apreender concepções de texto que emergem das interações vivenciadas, bem como nos aponta para a necessidade de rever as práticas de ensino de escrita, especialmente de gêneros em que predomina a argumentação, em que se evocam outras vozes, o que salienta a polifonia discursiva marcada pela responsividade, alteridade e heterogeneidade e pelos indícios de autoria e subjetividade, nem sempre legitimados pelas orientações das avaliações oficiais.