Fragmentos de história e composições etnológicas: marcas indígenas nos caminhos das Minas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2020v25n3p744

Palavras-chave:

Índios no Brasil, Antropologia, Arqueologia e História, Etnologia e história indígena

Resumo

O artigo se apoia em dados marginais da história para reconstruir um problema etnológico: a classificação cultural de grupos indígenas mencionados nas fontes do século XVIII nas regiões dos atuais Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Essas sobras, garimpadas ao longo de uma vasta documentação, tal como ensina o paradigma indiciário, são reveladoras de alguns equívocos e distorções da antropologia e história indígena regional. A partir do reconhecimento de homologias entre essas sobras e sinais oriundos de outros domínios, como a arqueologia e a etnologia, o artigo problematiza e relativiza a filiação Tupi atribuída a alguns dos grupos mencionados nas fontes. Lidos à luz da etnologia contemporânea, os dados documentais ganham nova inteligibilidade e apresentam fortes indícios para uma revisão interpretativa de antigas versões.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marcel Mano, Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Doutor em Antropologia. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia.

Referências

ALMEIDA, Maria Regina Celestino. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003.

ALVES, Marcia A. A arqueologia no extremo oeste de Minas Gerais. Revista Espinhaço, Diamantina, v. 2, n. 2, p. 96-117, 2013.

ALVES, Marcia A. As estruturas arqueológicas do Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro Minas Gerais. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 27-47, 1992.

ANTONIL, André J. Cultura e opulência do Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2013.

APOLINÁRIO, Jusciene. A saga dos Akroá nas fronteiras do sertão. Tellus, São Paulo, v. 3, n. 5, p. 83-94, 2003.

AZEREDO, Jorge P. A. Requerimento do administrador dos contratos das entradas das Minas de Goiás ao Rei. Goiás, 23 fev. 1747. Arquivo Histórico Ultramarino, códice AHU-ACL-CU-008, cx.4, d.326.

BARBOSA, Alexandre de Souza. Descrição dos índios Cayapós e Panarás. Vocabulário e mapa da região ocupada pelos Caiapós, Uberaba, 2 set. 1918. Arquivo Público de Uberaba.

BOCCARA, Guillaume. Etnogénesis mapuche: resistencia y reestructuracion entre los indígenas do Centro-Sur de Chile. The Hispanic American History Review, Durham, v. 29, n. 3, p. 425-461, 1999.

BOCCARA, Guillaume. Genésis y estrutura de los complejos fronterizos euro-indígenas. Repensando los márgens americanos a partir (y mas allá) de la obra de Nathan Wachtel. Memoria Americana, Buenos Aires, v. 13, n. 1, p. 7-19, 2005.

CALDEIRA, Vanessa A. História Kaxixó: aspectos etnográficos. Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 5, n. 6, p. 23-30, 2000.

CAMPOS, Antônio P. Breve notícia do gentio bárbaro que há na derrota das minas de Cuiabá e seu recôncavo, na qual declara-se os reinos [...]. In: TAUNAY, Afonso d'E. (ed.). Relatos sertanistas. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1976. p. 181-200.

CARDIM, Fernão. Tratado da terra e gente do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980.

CIDADE mineira conserva traços de seu passado indígena. G1 Notícias, 5 mar. 2009. Disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1027623-5598,00-CIDADE+MINEIRA+ CONSERVA+TRACOS+DE+PASSADO+INDIGENA.html. Acesso em: 30 maio 2020.

CUNHA, Manuela C. (org.). História dos índios Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1992.

CUNHA, Manuela C.; CASTRO, Eduardo V. Vingança e temporalidade: os Tupinambá. Journal de la Socièté dês Americanistes, Paris, v. 71, p. 191-208, 1985.

DUBY, Georges. História social e ideologia das sociedades. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: novos problemas. 3. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, p. 130-145, 1988.

ELLIS JUNIOR, Alfredo. O bandeirismo paulista e o recuo do meridiano. São Paulo: Nacional, 1934.

EWART, Elizabeth. Space and society in Central Brazil: a Panará ethnografy. London: Bloomsbury Academic, 2013.

FARIA, Manuel de Jesus. Carta ao capitão Manoel Rodrigues da Costa, Vila da Pomba, 30 set. 1770. Biblioteca Nacional, RJ, Arquivo Conde de Valadares, códice 18.2.6-d.112.

FAUSTO, Carlos. Inimigos fiéis: história, guerra e xamanismo na Amazônia. São Paulo: EDUSP, 2001.

FERREIRA FILHO, Aurelino (org.). Índios do Triângulo Mineiro- MG: história, arqueologia, fontes e patrimônio: pesquisas e perspectivas. Uberlândia: EdUFU, 2015.

FRANCO, Francisco A. Dicionário de bandeirantes e sertanistas do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1989.

GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. São Paulo: Cia das Letras, 1989.

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Cia das Letras, 1996.

GIRALDIN, Odair. Cayapó e Panará: luta e sobrevivência de um povo Jê do Brasil central. Campinas: UNICAMP, 1997.

GORDON, Cesar. Economia selvagem: ritual e mercadoria entre os Xikrin Mebêngôkre. São Paulo: EdUNESP/ISA 2006.

GUIMARÃES, Carlos Magno. O quilombo do Ambrósio: lenda, documentos e arqueologia. Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 26, n. 1-2, p. 161-174, dez. 1990.

JOSÉ, Oliam. Indígenas de Minas Gerais: aspectos sociais, políticos e etnológicos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1965.

KARASCH, Mary. Catequese e cativeiro: política indigenista em Goiás:1780-1889. In: CUNHA, Manuela Carneiro (ed.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1992. p. 397-412.

LENDA da Catuira. DescubraMinas.com. Disponível em: http://www.descubraminas.com.br/Turismo/DestinoPagina.aspx?cod_destino=41&cod_pgi=1203. Acesso em: 8 jun. 2020.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Mitológicas: o cru e o cozido. México: Fondo de Cultura Económica, 1996. v. 1.

LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. 11. ed. Campinas: Papirus, 2010.

LOURENÇO, Luis A. B. Populações indígenas e política indigenista no Triangulo Mineiro nos séculos XVIII e XIX. In: FERREIRA FILHO, Aurelino (org.). Índios do Triângulo Mineiro. Uberlândia: Editora Universitária UFU, 2015. p. 25-56.

MAGALHÃES, Wagner. Estudo arqueométrico dos sítios arqueológicos Inhazinha e Rodrigues Furtado, município de Perdizes/MG. 2015. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

MANO, Marcel. Metáforas históricas e realidades etnográficas: a construção de uma história do contato Kayapó no Triângulo Mineiro. Caderno de Pesquisa CDHIS, Uberlândia, v. 23, n. 2, p. 326-347, 2010.

MANO, Marcel. Negros e Índios nos sertões das minas: contatos e identidades. Varia História, Belo Horizonte, v. 31, n. 56, p. 511-546, 2015.

MASCARENHAS, Luis. Regimento que há de observar Antônio Pires de Campos, Vila Boa,15 jul. 1748. Documentos Interessantes para a história e costumes de São Paulo, São Paulo, v. 22, p. 210-213, 1896.

MASCARENHAS, Luis. Regimento que há de usar os Capitães de Cavalo, Vila Boa, 6 jan. 1742. Documentos Interessantes para a história e costumes de São Paulo, São Paulo, v. 22, p. 166-169, 1896.

MASCARENHAS, Luis. Registro de um bando sobre a guerra que se pretende fazer ao gentio Cayapó, Vila Boa, 17 fev. 1745. Documentos Interessantes para a história e costumes de São Paulo, São Paulo, v. 22, p. 185-187, 1896.

MATOSO, Caetano da Costa. Coleção das notícias dos primeiros descobrimentos das minas na América que fez o doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor-geral das do Ouro Preto, de que tomou posse em fevereiro de 1749, & vários papéis. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999.

MATTOS, Izabel M. O litigio Kayapó no sertão da Farinha Podre (1847- 1880). Dimensões, Vitória, v. 18, p. 139-148, 2006.

MEDEIROS, João Cabral. Cultura material lítica e cerâmica das populações pré-coloniais dos sítios Inhazinha e Rodrigues Furtado, município de Perdizes, MG estudo de cadeias operatórias. 2007. Dissertação (Mestrado em Arqueologia) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

MELO, João M. Oficio do ao secretário de Estado. Vila Boa, 7 jun. 1764. Arquivo Histórico Ultramarino, códice AHU-ACL-CU-008, cx.20, d.1220.

METRAUX, Alfred. A religião dos Tupinambás e suas relações com a das demais tribos tupi-guaranis. 2. ed. São Paulo: Nacional: EDUSP, 1979.

MONTEIRO, John M. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Cia das Letras, 1994.

MONTEIRO, John M. Os guarani e a história do Brasil meridional: séculos XVI - XVII. In: CUNHA, Manuela C. (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1992. p. 475-498.

MONTEIRO, John M. Tupis, Tapuias e historiadores: estudos de história indígena e do indigenismo. 2001. Tese (Livre Docência) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001.

NORONHA, D. Marcos. Carta ao Padre Bento Soares. Vila Boa, 16 mar. 1751. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, Goiânia, n. 9, p. 130-1, 1980.

NORONHA, D. Marcos. Carta ao rei D. João V. Vila Boa, 29 dez. 1749. Arquivo Histórico Ultramarino. Códice AHU-ACL-CU-008, cx. 5, d.427.

NORONHA, D. Marcos. Carta ao rei D. José. Vila Boa, 24 jan. 1751. Arquivo Histórico Ultramarino AHU-ACL-CU-008, cx. 6, d.465.

OLIVEIRA, João P. O nascimento do Brasil e outros ensaios: "pacificação", regime tutelar e formação de alteridades. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2016.

OLIVEIRA, Machado. Os Cayapó, suas origens, descobrimentos, acometimentos [...]. Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 24, p. 491-525, 1973.

PAMPLONA, Ignácio C. Carta a d. Rodrigo José de Menezes. Quartel das Cabeceiras dos Dourados, 23 abr. 1781. Arquivo Público Mineiro, Casa dos Contos, códice: APM-CC-cx. 87, d.20256.

PAMPLONA, Ignácio Correia. Carta ao conde de Valadares, São Simão do Rio da Ajuda, 7 out. 1769a. Biblioteca Nacional, Secção de manuscritos, Arquivo Conde de Valadares, códice 18.2.6, d.2.

PAMPLONA, Ignácio Correia. Carta ao conde de Valadares. [s. d.]. Biblioteca Nacional, Arquivo Conde de Valadares, microfilme, códice MS 575(1), d.7.

PAMPLONA, Ignácio Correia. Carta ao conde de Valadares. 15 nov. 1769b. Biblioteca Nacional, Arquivo Conde de Valadares, códice: 18.2.6, d.19.

PONTES, Hildebrando. História de Uberaba e a civilização no Brasil central. Uberaba: Academia de Letras do Triângulo Mineiro, 1970.

PROVISÃO do rei D. José, ao governador e capitão general de Goiás, Lisboa, 28 maio 1753. Arquivo Histórico Ultramarino, códice AHU-ACL-CU-008, cx.6, d.569

RAVAGNANI, Oswaldo Martins. Aldeamentos goianos em 1750 - os jesuítas e a mineração. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 30-32, p. 111-132, 1989.

REMANESCENTE dos índios Arachás representa Minas na Rio+20. Clarim.net, 17 jul. 2012. Disponível em: https://clarim.net.br/index.php/noticia/2816. Acesso em: 7 abr. 2020.

RIBEIRO, Nubia B. Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII. 2008. Tese (Doutorado em História) - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências, Universidade de São Paulo, 2008.

RODRIGUES, Ayron D. Macro-Jê. In: DIXON, R.M.W.; AIKHENVALD, A.Y. (org.). The amazonian languages. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. p. 164-206.

RODRIGUES, Ayron. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas no Brasil. São Paulo: Loyola, 2002.

ROSA, João Guimarães. Minha gente. In: ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. p. 165-205.

SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem às nascentes do rio São Francisco e pela Provincia de Goyaz. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1934.

SPIX, Johann Baptist; MARTIUS, Karl Friedrich Philipp. Viagem pelo Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1938. v. 1.

TAUNAY, Afonso. História das bandeiras paulistas. São Paulo: Melhoramentos, 1975.

TORREZÃO, Alberto. Vocabulário Puri. Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, t. 52, p. 511-514, 1889.

TURNER, Terence. Os Mebengokre Kayapó: história e mudança social, de comunidades autônomas para a coexistência interétnica. In: CUNHA, Manuela C. (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1992. p. 311-338.

VASCONCELOS, Diogo. História antigas das Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1934.

VASCONCELOS, Simão. Crônica da Companhia de Jesus. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1977.

VERSWIJVER, Gustaaf. The club-figthers of the Amazon. Warfare among the Kayapó indians of Central Brazil. Gent: Rijksuniversiteit te Gent, 1992.

VIDAL, Lux B. Morte e vida de uma sociedade indígena brasileira: os kayapó-xikrin do Rio Catete. São Paulo: Hucitec, 1977.

Downloads

Publicado

2020-12-29

Como Citar

MANO, Marcel. Fragmentos de história e composições etnológicas: marcas indígenas nos caminhos das Minas. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 25, n. 3, p. 744–763, 2020. DOI: 10.5433/2176-6665.2020v25n3p744. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/40780. Acesso em: 6 dez. 2025.

Edição

Seção

Artigos

Dados de financiamento