O Processo de Individuação Psicanalítico como Modo de Subjetivação em Contextos Neoliberais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2020v25n3p695

Palavras-chave:

Psicanálise Lacaniana, Subjetivação, Individualismo, Neoliberalismo

Resumo

Este artigo busca entender o processo de construção de um modo subjetivação implícito na concepção de sujeito desejante produzida pela teoria psicanalítica lacaniana e operacionalizada pelos psicanalistas no processo terapêutico. Por meio da análise dos dados recolhidos em etnografia realizada em instituições lacanianas de formação de psicanalistas, o objetivo aqui é apreender como estes psicanalistas concebem a articulação entre teoria e clínica psicanalítica, como tal articulação resulta em uma concepção específica de pessoa que orienta a produção de realidades psicológicas. A terapêutica direciona o gerenciamento da vida/saúde a partir de conceitos como falta estrutural, singularidade e responsabilização, que são mobilizados pelos psicanalistas e incorporados pelos analisantes no modo de compreensão de si. Argumenta-se a relação da psicanálise com o sistema de pensamento neoliberal, uma vez que mobiliza certa noção de pessoa presente nas sociedades ocidentais, a saber, o indivíduo autônomo, livre, porém em incessante busca por satisfação. A psicanálise se mostra não só como reflexo do contexto social no qual se insere, como espaço de elaboração de seus mecanismos de agenciamentos. Com isso, se evidencia, através da etnografia, os processos de individuação presentes no modo de subjetivação inerente aos contextos neoliberais.

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Biografia do Autor

Maria Carolina Araujo Antonio, Universidade Estadual de Londrina (DCS-UEL) - Londrina - PR

Doutorado  em Antropologia Social pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR. Professora  da Universidade Estadual de Londrina - UEL.

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Publicado

2020-12-29

Como Citar

ANTONIO, M. C. A. O Processo de Individuação Psicanalítico como Modo de Subjetivação em Contextos Neoliberais. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 25, n. 3, p. 695–711, 2020. DOI: 10.5433/2176-6665.2020v25n3p695. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/39692. Acesso em: 28 mar. 2024.

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Artigos