Os Ritos Mortuários no Candomblé e a (Re)Construção da Ancestralidade Negra no Contexto Necropolítico
DOI:
https://doi.org/10.5433/2176-6665.2023v28n3e46969Palavras-chave:
ritos mortuários, morte, necropolítica, violênciaResumo
O presente texto propõe uma reflexão sobre os ritos mortuários no candomblé e a tentativa de reconstruir uma ancestralidade dentro de um contexto de violência epistêmica e necropolítica. A interrupção destes processos litúrgicos nega a estas populações a possibilidade de construção de uma ancianidade onde são transmitidos valores sociais, políticos e filosóficos. Ao relacionar estes processos com o epistemicídio e a necropolítica, o texto traz abordagens acerca da violência enquanto mecanismo de apagamento no qual a morte transita de um status de longevidade e ancestralidade para o status de tecnologia de biopoder no qual o Estado aplica uma política de extermínio sobre a população negra, controlando as possibilidades materiais destes grupos e também negando a possibilidade de ascensão social. A partir de uma perspectiva racial, este ensaio traz reflexões sobre a necropolítica e a destituição da população negra de sua ancestralidade rompida pelo processo colonial.
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