Qual a classe, a cor e o gênero da justiça? Reflexões sobre as (im)possibilidades de combate à violência doméstica e familiar contra as mulheres negras pelo poder judiciário brasileiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2016v21n1p103

Palavras-chave:

Interseccionalidade, Poder Judiciário, Violência Doméstica, Feminismo Negro

Resumo

Forçado a se pronunciar sobre problemas sociais antes ignorados, o Poder Judiciário tem sido desafiado a atuar na proteção de grupos historicamente excluídos e reconhecer a existência das desigualdades raciais, sociais, econômicas e de gênero. Neste contexto, o presente trabalho propõe lançar algumas reflexões sobre as (im) possibilidades de combate à violência doméstica e familiar contra as mulheres negras por parte do Poder Judiciário Brasileiro, considerando os marcadores sociais de raça, gênero e classe e os dados apresentados no Mapa da Violência 2015 – Homicídio de Mulheres no Brasil. O mito da democracia racial ainda tem fortes impactos na invisibilidade da questão junto ao Sistema de Justiça e influencia consideravelmente a recusa deste em olhar de forma mais atenta para as mulheres negras no âmbito da violência doméstica e familiar.

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Biografia do Autor

Tatyane Guimarães Oliveira, Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Doutora em Estudos Interdisciplinares Sobre Mulheres pela Universidade Federal da Bahia - UFBA. Professora da Universidade Federal da Paraíba - UFPB.

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Publicado

2016-06-19

Como Citar

OLIVEIRA, T. G. Qual a classe, a cor e o gênero da justiça? Reflexões sobre as (im)possibilidades de combate à violência doméstica e familiar contra as mulheres negras pelo poder judiciário brasileiro. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 21, n. 1, p. 103–123, 2016. DOI: 10.5433/2176-6665.2016v21n1p103. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/24677. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê