Os multiletramentos na BNCC: desafios e possibilidades para uma educação linguística decolonial?
DOI:
https://doi.org/10.5433/1519-5392.2025v25n1p235-255Palavras-chave:
BNCC, Multiletramentos, Educação decolonial, Linguística Aplicada CríticaResumo
Este artigo analisa as implicações teóricas e práticas da Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio (BNCCEM) para o ensino de Língua Portuguesa (BRASIL, 2018) sob a perspectiva dos multiletramentos (New London Group,1996) e de uma educação decolonial e crítica. Fundamentado na Linguística Aplicada Crítica e Transgressora (Pennycook, 2001) e nos estudos de letramentos, discute como a BNCCEM, ao alinhar-se a epistemologias eurocêntricas, reforça uma "matriz (neo)colonial de poder" nas práticas educacionais brasileiras. A análise revela que, embora a BNCCEM promova a inclusão de novos (multi)letramentos, apresenta dificuldades em contextualizar os conhecimentos propostos às realidades sociais e culturais dos estudantes e professores. Com base nas discussões de Monte Mór (2017, 2023), Biesta (2022), Veronelli (2015), Ballestrin (2013) e Sousa Silva (2022), apontamos a necessidade de um currículo que valorize os saberes locais e as experiências culturais de sujeitos marginalizados, promovendo uma educação linguística que desafie as relações de poder hegemônicas e a injustiça social. O artigo propõe estratégias que integrem o discurso da colaboração crítica, voltada à transformação de práticas sociais no ensino de língua portuguesa, contribuindo para uma Educação decolonial e emancipadora que possa subverter as políticas curriculares coloniais vigentes.
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