Apresentação do Dossiê – Quando o “Outro” é o antropólogo: reflexões sobre produções etnográficas contemporâneas
DOI:
https://doi.org/10.5433/2176-6665.2022v27n3e46766Palavras-chave:
Antropologia, etnografia, Trabalho de campo, outro, alteridadeResumo
Apesar das diversas transformações pelas quais já passou a antropologia, ainda predomina na disciplina a ideia de que o fazer antropológico se dá no encontro com um “Outro”, muitas vezes distante espacialmente e “culturalmente” daquele que produz o texto etnográfico. Desdobra daí que o trabalho do antropólogo é disparado por um deslocamento físico que o leva da sua “casa” para o “campo”. Este modelo tem sofrido uma desestabilização ainda mais profunda com a maior presença, nos últimos anos, de antropólogos negros e indígenas nos cursos de pós-graduação em antropologia do país. No presente texto, apresentamos um panorama dessas questões, e como elas dialogam com a proposta do dossiê e os textos aqui publicados.
Downloads
Referências
ABU-LUGHOD, Lila. Writing against culture. In: FOX, Richard G. (ed.). Recapturing Anthropology: Working in the Present. Santa Fe: School for American Research Press, 1991, p.137-162.
AMADO, Luiz H. Eloy. Para além da universidade: experiências e intelectualidades indígenas no Brasil. IdeAs, n. 16, p. 1-20, 2020.
ANI, Marimba. Yurugu: an Afrikan-centered critique of European cultural thought and behavior. Baltimore: Afrikan World Books, 2014.
APPADURAI, Arjun. Putting hierarchy in its place. Cultural Anthropology, Washington, n. 3, p. 36-49, 1988. DOI: https://doi.org/10.1525/can.1988.3.1.02a00040
BANIWA, Braulina A.; KAINGANG, Joziléia D. J.; TREMEMBÉ, Lucinha. Vivências diversas: uma coletânea de indígenas mulheres. São Paulo: Hucitec, 2020.
BARRETO, João Paulo L. Wai-Mahsã: peixes e humanos. Um ensaio de antropologia indígena. 2013. 93 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Amazonas. Manaus, 2013.
BARRETO, João Paulo L.; SANTOS, Gilton M. A volta da Cobra Canoa: em busca de uma antropologia indígena. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 60, n. 1, p. 84-98, 2017. DOI: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2017.132068
BOVE, Adrielli L. C.; SÁ, Gabriel S. R.; MACHADO, Rafael S. Dossiê etnografias em tempos de pandemia. Revista Eletrônica de Ciências Sociais, Juiz de Fora, [2022].
CENTRO DE TRABALHO INDIGENISTA. Documento final Marcha das Mulheres Indígenas: “Território, nosso corpo, nosso espírito”. Brasília, DF, 14 ago. 2019. Disponível em: https://trabalhoindigenista.org.br/documento-final-marcha-das-mulheres-indigenasterritorio-nosso-corpo-nosso-espirito/. Acesso em: 22 out. 2022.
CLIFFORD, James. Introduction: partial truths. In: CLIFFORD, James/ MARCUS, George. Writing culture: the poetics and politics of ethnography. Berkeley: University of California, 1986. p. 1-26. DOI: https://doi.org/10.1525/9780520946286-003
CLIFFORD, James. Notes on (Field)notes. In: SANJEK, Roger (ed.). Fieldnotes: the makings of anthropology. Nova York: Cornell University Press, 1990. p. 47-70. DOI: https://doi.org/10.7591/9781501711954-004
CLIFFORD, James; MARCUS, George. Writing culture: the poetics and politics of ethnography. Berkeley: University of California, 1986. DOI: https://doi.org/10.1525/9780520946286
COLETIVO VOZES INDÍGENAS NA SAÚDE COLETIVA (org.). Vozes indígenas na produção do conhecimento: para um diálogo com a saúde coletiva. São Paulo: Hucitec, 2022.
CORREA, Célia Nunes. O barro, o genipapo e o giz no fazer epistemológico de autoria Xakriabá: reativação da memória por uma educação territorializada. 218 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável) – Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília, 2018.
CRUZ, Bárbara Pimentel da Silva. Entre Tempos: Ensaio para uma Antropologia Depois da Encruzilhada. Mediações, v. 27, n. 3, 2022, p. 1-15. DOI: https://doi.org/10.5433/2176-6665.2022v27n3e46577
CUNHA, Olívia M. G. Quando o campo é o arquivo. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 36, p. 3-5, 2005.
DAMÁSIO, Ana Clara. Isso não é uma autoetnografia. Mediações, v. 27, n. 3, 2022, p. 1-14. DOI: https://doi.org/10.5433/2176-6665.2022v27n3e46479
FABIAN, Johannes. Time and the other: how anthropology makes its object. New York: Columbia University Press, 1983.
FIORI, Ana Letícia; ASSÊNCIO, Cibele B.; ANDRADE, Fabiana de; TEIXEIRA, Jacqueline Moraes; PATRIARCA, Letícia; DAL BO, Talita Lazarin. O tempo e o vento: notas sobre a arte de burocratizar políticas de cotas na USP. Revista de
Antropologia, São Paulo, v. 60, n. 1, p. 55-83, 2017.
FLORES, Alba Rosa. Cuerpos y Otredades en la Antropología como Práctica de Observación Corresponsal y la Etnografía como Escritura para Habitar. Mediações, v. 27, n. 3, 2022, p. 1-18. DOI: https://doi.org/10.5433/2176-6665.2022v27n3e46458
FONTES, Francineia B. Hiipana, Eeeno Hiepolekoa: construindo um pensamento antropológico a partir da mitologia Baniwa e de suas transformações. 2019. 225 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.
GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 1997.
GUPTA, Akhil; FERGUSON, James. Discipline and practice: "the field" as site, method, and location in anthropology. In: Anthropological locations: boundaries and grounds of a field science. Los Angeles: University of California, 1997. p. 1-46. DOI: https://doi.org/10.1525/9780520342392-002
HELENA, Diádiney; FEITOSA, Dandara. Saberes indígenas e produção de conhecimento desde os Territórios. São Paulo: Hucitec, 2020.
INGOLD, Tim. The perception of environment: essays on livelihood, dwelling and skill. Routledge: London, 2000.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. 2. ed. Rio de Janeiro: 34, 1994.
LIMÓN, José E. Representation, ethnicity, and the precursory ethnography. Notes of a native anthropologist. In: FOX, Richard G. Recapturing Anthropology: working in the present. Santa Fe: School for Advanced Research Press, 1991. p. 115-135.
MALINOWSKI, Bronislaw. Um diário no sentido estrito do termo. Rio de Janeiro: Record, 1997. McGRANE, Bernard. Beyond anthropology: society and the other. New York: Columbia University Press, 1989.
MONTEIRO, Marko S. A. Reconsiderando a etnografia da ciência e da tecnologia: tecnociência na prática. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 27, n. 79, p. 139- 232, 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-69092012000200009
NARAHARA, Karine. Em território mapuche: petroleiras e cosmopolíticas na Patagônia argentina. Rio de Janeiro: Ape’ku, 2022.
NARAYAN, Kirin. How Native is a “Native” Anthropologist? American Anthropologist, [s.l.]v. 95, n. 3, p. 671-686, Sep. 1993. DOI: https://doi.org/10.1525/aa.1993.95.3.02a00070
NASCIMENTO, Aline M.; CRUZ, Barbara P. S. Apresentação: reflexões a partir da experiência do Museu Nacional. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 60, n. 1, p. 9-15, 2017.
NASCIMENTO, Francisco Elionardo de Melo. Fazendo Família e Etnografia Entre Irmãos de Farda. Mediações, v. 27, n. 3, 2022, p. 1-14. DOI: https://doi.org/10.5433/2176-6665.2022v27n3e46391
OLIVEIRA, Giovana A.; SANTOS, Bárbara H. Português indígena, Hunsrückisch e o português quilombola: um retrato dos contatos linguísticos no Brasil. Revista da Abralin, Aracaju, v. 19, n 2, 2020. DOI: https://doi.org/10.25189/rabralin.v19i2.1589
REZENDE, Justino S. Paneiro de saberes: transbordando reflexividades indígenas. Brasília: Mil Folhas, 2021.
STOLLER, Paul. The taste of ethnographic things: the senses in Anthropology. Philadelphia: University of Pennsylvania, 1989. 182 p. DOI: https://doi.org/10.9783/9780812203141
STRATHERN, Marilyn. Os limites da autoantropologia. In: FERRARI, Florencia. O efeito etnográfico e outros ensaios. São Paulo: Cosac & Naify, 2014. p. 133-157.
TAVARES, Inara N. Terra, água e sementes: do corpo território das mulheres indígenas a uma concepção de soberania alimentar. In: INSTITUTO POLÍTICAS ALTERNATIVAS PARA O CONE SUL. Mulheres e soberania alimentar: sementes de mundos possíveis. Rio de Janeiro: PACS, 2019. p. 58-66.
TODOROV, Tzvetan. The Conquest of America: the question of the other. New York: Harper & Row, 1984. 274 p.
TROUILLOT, Michel-Rolph. Anthropology and the savage slot: the poetics and politics of otherness. In: FOX, Richard G. Recapturing Anthropology: Working in the Present. Santa Fe: School for Advanced Research Press, 1991a. p. 17 - 44.
TROUILLOT, Michel-Rolph. Anthropology as metaphor: the savage’s legacy and the postmodern world. Review, New York, v. 14, n. 1, p. 29-54, 1991.
TROUILLOT, Michel-Rolph. Transformaciones globales: la antropologia y el mundo moderno. Cauca: Universidad del Cauca, 2011.
VIRGILIO, Nathan. Pensa que é só dar o de-comer? Criando e pelejando com parente e bicho bruto na comunidade do Góis-CE. 2018. 142 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.
WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac & Naify, 2010.
WESTON, Kath. The virtual anthropologist. In: Gupta, Akhil & Ferguson, James. Anthropological locations: boundaries and grounds of a field science. Los Angeles: University of California, 1997. p. 163-184. DOI: https://doi.org/10.1525/9780520342392-010
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Karine Lopes Narahara, Inara do Nascimento Tavares

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os direitos autorais relativos aos artigos publicados em Mediações são do(a)s autore(a)s; solicita-se aos(às) autore(a)s, em caso de republicação parcial ou total da primeira publicação, a indicação da publicação original no periódico.
Mediações utiliza a licença Creative Commons Attribution 4.0 International, que prevê Acesso Aberto, facultando a qualquer usuário(a) a leitura, o download, a cópia e a disseminação de seu conteúdo, desde que adequadamente referenciado.
As opiniões emitidas pelo(a)s autore(a)s dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.