Duas teorias para o problema regulatório da democracia digital: tecnofeudalismo , teoria da dependência e a economia política dos algoritmos
DOI:
https://doi.org/10.5433/2176-6665.2025v30e52678Palavras-chave:
democracia digital, tecnofeudalismo, teoria da dependência, regulação algorítmica, soberania digitalResumo
Este artigo explora duas abordagens teóricas – o tecnofeudalismo e a teoria dadependência – para analisar os desafios regulatórios da democracia digital. Examina como as plataformas digitais, dominadas por corporações privadas, minam os princípios democráticos tradicionais ao centralizar o controle sobre dados, algoritmos e infraestrutura digital. A perspectiva tecnofeudalista compara essa dinâmica a estruturas feudais, em que “senhores digitais”(grandes empresas de tecnologia) exploram dados gerados por usuários sem reciprocidade justa, criando lacunas regulatórias devido à opacidade e ao caráter transnacional de suas operações. Já uma atualização da teoria da dependência interpreta esses problemas como uma extensão das assimetrias históricas entre Norte e Sul globais, em que o Sul permanece dependente tecnológica e economicamente do Norte, perpetuando uma exploração de tipo colonial por meio da extração de dados e do domínio algorítmico. O artigo destaca a tensão entre esforços regulatórios nacionais e a natureza globalizada e privatizada do espaço digital, enfatizando a erosão da soberania digital e da legitimidade democrática. Defende a urgência de marcos regulatórios que alinhem a governança digital a princípios constitucionais, garantindo transparência, responsabilização e participação equitativa no ambiente digital.
Downloads
Referências
AVELINO, Rodolfo. Colonialismo digital: dimensões da colonialidade nas grandes plataformas. In: CASSINO, J. F.; SOUZA, J.; SILVEIRA, S. A. da (org.). Colonialismo de dados: como opera a trincheira algorítmica na guerra neoliberal. São Paulo: Autonomia Literária, 2021. p. 69-86.
ÁVILA PINTO, Renata. Soberanía digital o colonialismo digital? nuevas tensiones alrededor de la privacidad, la seguridad y las políticas nacionales. Sur – Revista Internacional de Derechos Humanos, São Paulo, v. 15, n. 27, p. 15-28, 2018.
BOLAÑO, Cesar Ricardo Siqueira; VIEIRA, Eloy. Economia política da internet e os sites de redes sociais. Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, São Cristóvão, v. 16, n. 2, p. 71-84. 2014. Disponível em: https://periodicos.ufs.br/eptic/article/view/2168
BRAGA, José Carlos; OLIVEIRA, Giuliano Contento de; WOLF, Paulo José Whitaker; PALLUDETO, Alex Wilhans Antonio; DEOS, Simone Silva de. Por uma economia política da financeirização: teoria e evidências. Economia e Sociedade, Campinas, v. 26, p. 829-856, 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/1982-3533.2017v26n4art1 DOI: https://doi.org/10.1590/1982-3533.2017v26n4art1
CEBALLOS, Luis Dario; MAISONNAVE, Marcelo Andrés; LONDOÑO, Carlos Rafael Britto. Soberanía tecnológica digital en Latinoamérica. Revista Propuestas para el Desarrollo, Sonora, n. 6, p. 151-168, 2020. Disponível em: https://www.propuestasparaeldesarrollo.com/index.php/ppd/article/view/108
CELESTE, Edoardo. Digital Constitutionalism: the role of internet bills of rights. London: Routledge, 2022. DOI: https://doi.org/10.4324/9781003256908 DOI: https://doi.org/10.4324/9781003256908
CIPOLLA, Francisco Paulo; PINTO, Geane Carolina Rodrigues. Crítica das teorias da financeirização. Revista da SEP, São Domingos, v. 1, n. 27, p. 6-28, 2010. Disponível em: https://revistasep.org.br/index.php/SEP/article/view/904
COLOMBINI, Iderley. Limites lógicos da tese do capitalismo cognitivo e do tecnofeudalismo. Revista da SEP, São Domingos, n. 65, p. 163-190, 2023. Disponível em: https://revistasep.org.br/index.php/SEP/article/view/973
COULDRY, Nick; MEJIAS, Ulises. A. The costs of connection: how data is colonizing human life and appropriating it for capitalism. Redwood City, CA: Stanford University Press, 2019. DOI: https://doi.org/10.1515/9781503609754 DOI: https://doi.org/10.1515/9781503609754
DE GREGORIO, Giovanni. Digital Constitutionalism in Europe: reframing rights and powers in the algorithmic society. Cambridge: Cambridge University Press, 2022. DOI: https://doi.org/10.1017/9781009071215 DOI: https://doi.org/10.1017/9781009071215
DOS SANTOS, Theotonio. Teoria da dependência: balanço e perspectivas. Florianópolis: Insular Livros, 2020.
DURAND, Cédric. Tecnofeudalismo: crítica de la economía digital. Adrogué: La Cebra; Donostia: Kaxilda, 2021.
FAUSTINO, Deivison; LIPPOLD, Walter. Colonialismo digital: por uma crítica hacker-fanoniana. São Paulo: Boitempo, 2023.
FERREIRA, Sandro Rodrigo da Silva. O que é (ou o que estamos chamando de) ‘Colonialismo de Dados’?. Paulus: Revista de Comunicação da FAPCOM, São Paulo, v. 5, n. 10, p. 49-61, 2021. https://doi.org/10.31657/rcp.v5i10.458 DOI: https://doi.org/10.31657/rcp.v5i10.458
FLORIDI, Luciano. The fight for digital sovereignty: what it is, and why it matters, especially for the EU. Philosophy & Technology, London, v. 33, p. 369-378, 2020. DOI: https://doi.org/10.1007/s13347-020-00423-6 DOI: https://doi.org/10.1007/s13347-020-00423-6
FRANCO, Sebastián Fernández; GRAÑA, Juan M.; RIKAP, Cecilia. Dependency in the digital age? The experience of Mercado Libre in Latin America. Development and Change, Oxford, v. 55, p. 429-464, 2024. DOI: https://doi.org/10.1111/dech.12839 DOI: https://doi.org/10.1111/dech.12839
FUMAGALLI, Andrea. Nada será como antes: dez teses sobre a crise financeira: a crise da economia global: mercados financeiros, lutas sociais e novos cenários políticos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
GARCÍA-MARZÁ, Domingo; CALVO, Patrici. Algorithmic democracy: a critical perspective based on deliberative democracy. Cham: Springer, 2024. DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-031-53015-9 DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-031-53015-9
GILBERT, Jeremy. Techno-feudalism or platform capitalism? Conceptualising the digital society. European Journal of Social Theory, London, v. 27, n. 4, p. 561-578, 2024. DOI: https://doi.org/10.1177/13684310241276474 DOI: https://doi.org/10.1177/13684310241276474
GROHMANN, Rafael. Plataformização do trabalho: entre dataficação, financeirização e racionalidade neoliberal. Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação da Comunicação e da Cultura, São Cristovão, v. 22, n. 1, p. 106-122, 2020.
GROHMANN, Rafael. Financeirização, midiatização e dataficação como sínteses sociais. Mediaciones de la Comunicación, Montevideo, v. 14, n. 2, p. 97-117, 2019. DOI: https://doi.org/10.18861/ic.2019.14.2.2916 DOI: https://doi.org/10.18861/ic.2019.14.2.2916
HILDEBRANDT, M. Algorithmic regulation and the rule of law. Philosophical Transactions of the Royal Society A, London, v. 376, 2018. DOI: http://doi.org/10.1098/rsta.2017.0355 DOI: https://doi.org/10.1098/rsta.2017.0355
JURI, Eliana; YAMILA. La gobernanza de los datos de la soberanía territorial a la soberanía digital. Quaestio Iuris (QI), Rio de Janeiro, v. 16, n. 2, p. 802-820, 2023. DOI: https://doi.org/10.12957/rqi.2023.72434 DOI: https://doi.org/10.12957/rqi.2023.72434
KATZ, Claudio. Teoria da dependência 50 anos depois. São Paulo: Expressão Popular, 2020.
KWET, Michael. Digital colonialism: US empire and the new imperialism in the Global South. Race & Class, London, v. 60, n. 4, p. 3-26, 2019. DOI: https://doi.org/10.1177/0306396818823172 DOI: https://doi.org/10.1177/0306396818823172
LIPPOLD, Walter; FAUSTINO, Deivison. Colonialismo digital, racismo e acumulação primitiva de dados. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 14, n. 2, p. 56-78. 2022. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/revistagerminal/article/view/49760
. Acesso em: 31 jul. 2024.
MACHADO, Henrique Felix de Souza. Algoritmos, regulação e governança: uma revisão de literatura. Journal of Law and Regulation, Brasília, v. 4, n. 1, p. 39-62, 2018. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/rdsr/article/view/19131
. Acesso em: 16 mar. 2025.
MOROZOV, Evgeny. Critique of techno-feudal reason. New Left Review, London, n. 133/134, p. 67-98, jan./abr. 2022. Disponível em: https://newleftreview.org/issues/ii133/articles/evgeny-morozov-critique-of-techno-feudal-reason
PAULANI, Leda Maria. A dependência revisitada: relações de mercado, a fase 4.0 e o caso do Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política, São Domingos, n. 64, p. 68-106, 2022. Disponível em: https://revistasep.org.br/index.php/SEP/article/view/1009
PINTO NETO, Moyses. Nuvem: Plataforma: Extração. Revista Percursos, Florianópolis, v. 21, n. 45, p. 5-23, 2021. DOI: https://doi.org/10.5965/1984724621452020005 DOI: https://doi.org/10.5965/1984724621452020005
RAPOSO, Bruna Ferraz. Ensaio para uma crítica da economia política da financeirização. Marx e o Marxismo, Niterói, v. 11, n. 21, p. 155-175, 2023. DOI: https://doi.org/10.62782/2318-9657.2023.568 DOI: https://doi.org/10.62782/2318-9657.2023.568
SALAS-PORRAS, Alejandra. Think Tanks Networks in Mexico: how they shape public policy and dominant discourses. In: SALAS-PORRAS, A.; MURRAY, G. (ed.). Think tanks and global politics: key spaces in the structure of power. Nova Iorque: Palgrave Macmillan US, 2017. p. 25-51. DOI: https://doi.org/10.1057/978-1-137-56756-7 DOI: https://doi.org/10.1057/978-1-137-56756-7_2
SCHIAV, Iara Franco. O colonialismo de dados sob a ótica da teoria da dependência: as especificidades e desafios dos países periféricos no novo contexto sociotécnico. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, 20., 2020, Belém. Anais [...]. Belém: UFPA, 2020. p. 1-20.
SETO, Kenzo Soares. Subimperialismo de dados: uma crítica ao colonialismo de dados diante das Big Techs sul-americanas. Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação da Comunicação e da Cultura, São Cristóvão, v. 25, n. 2, p. 165-184, 2023. DOI: https://doi.org/10.54786/revistaeptic.v25i2.19199 DOI: https://doi.org/10.54786/revistaeptic.v25i2.19199
SILVEIRA, S. A. Discursos sobre regulação e governança algorítmica. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 25, n. 48, p. 63-85, 2020. DOI: https://doi.org/10.52780/res.13530 DOI: https://doi.org/10.52780/res.13530
SILVEIRA, Sergio Amadeu da. A hipótese do colonialismo de dados e o neoliberalismo. In: CASSINO, J. F.; SOUZA, J.; SILVEIRA, S. A. da (org.). Colonialismo de dados: como opera a trincheira algorítmica na guerra neoliberal. São Paulo: Autonomia Literária, 2021. p. 33-52.
SLOBODIAN, Quinn. Globalists: the end of empire and the birth of neoliberalism. Cambridge: Harvard University Press, 2018. DOI: https://doi.org/10.4159/9780674919808 DOI: https://doi.org/10.4159/9780674919808
SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet: construção e aplicação. Juiz de Fora: Editar Editora Associada, 2016.
SRNICEK, Nick. Platform Capitalism. Cambridge: Polity Press, 2016.
TELLO, Andrés. Sobre el colonialismo digital: dados, algoritmos e colonialidade tecnológica do poder no sul global. Mediaciones de la Comunicación, Montevideo, v. 18, n. 2, p. 89-110, 2023. DOI: https://doi.org/10.18861/ic.2023.18.2.3523 DOI: https://doi.org/10.18861/ic.2023.18.2.3523
VAROUFAKIS, Yanis. Technofeudalism: what killed capitalism. London: Penguin Random House UK, 2023.
VERCELLONE, Carlo. A crise da lei do valor e o tornar-se rentista do lucro: a crise da economia global: mercados financeiros, lutas sociais e novos cenários políticos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. p. 107-149.
WASSERMAN, Claudia. A teoria da dependência. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2022.
YAN, J. Techno-feudalism as primitive accumulation: a Marxist perspective on digital capitalism. Critical Sociology, Eugene, p. 1-15, 2024. DOI: https://doi.org/10.1177/08969205241302838 DOI: https://doi.org/10.1177/08969205241302838
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Pedro Odebrecht Khauaja

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os direitos autorais relativos aos artigos publicados em Mediações são do(a)s autore(a)s; solicita-se aos(às) autore(a)s, em caso de republicação parcial ou total da primeira publicação, a indicação da publicação original no periódico.
Mediações utiliza a licença Creative Commons Attribution 4.0 International, que prevê Acesso Aberto, facultando a qualquer usuário(a) a leitura, o download, a cópia e a disseminação de seu conteúdo, desde que adequadamente referenciado.
As opiniões emitidas pelo(a)s autore(a)s dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.






























