Treinamentos de deus e treinamentos da terra: parteiras e cursos de capacitação em melgaço, Pará

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2006v11n2p225

Palavras-chave:

Parteiras, Cursos de treinamento, Pará

Resumo

Treinamentos para parteiras têm sido oferecidos há muitas décadas pelo mundo, sob a influência de agências internacionais, ministérios de saúde e organizações não governamentais. Na região de Melgaço, no Pará, uma série de treinamentos vêm acontecendo mais intensamente desde 1998. Neste artigo, pretendo priorizar a opinião das 22 parteiras que atuam na cidade. Com base na distinção que tecem entre os treinamentos de deus e os treinamentos da terra, desejo apresentar como elas participam e concebem esses cursos. Meu argumento central é que os cursos de treinamento lhes proporcionam um alargamento de oportunidades, sobretudo ao priorizarem a apropriação discursiva e simbólica dos cursos ao invés de se restringirem aos seus desdobramentos obstétricos.

Biografia do Autor

Soraya Fleischer, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. 

Referências

ABOUZAHR, Carla. Lecciones sobre maternidad sin riesgo. Foro Mundial de la Salud, v. 19, p. 261-269, 1997.

ALTO, William A.; ALBU, Ruth E.; lRABO, Garabinu. An alternative to unattended delivery: A training programme for village midwives in Papua New Guinea". Social Science and Medicine, v. 32, n. 5, p. 613-128, 1991.

BAIA, Helio Pena. Acidade no tempo, o tempo na cidade. Elementos para a compreensão da formação histórica e geográfica da cidade de Melgaço, PA. 2004. Dissertação (Conclusão de curso em Geografia) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2004.

BARROSO, Iraci C. Saberes e práticas das parteiras tradicionais do Amapá: histórias e memórias. 2001. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2001.

BEEMAN, William O.; BHATIACHARYYA, Amit K. Toward an assessment of the social role of rural midwives and its implication for the family planning program: An Iranian case study. Human Organization, v. 37, n. 3, p. 295-300, 1978.

BESSA, Lucineide F. Condições de trabalho de parteiras: Algumas características no contexto domiciliar rural. 1997. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1997.

BONETII, Alinne de Lima. Não basta ser mulher tem de ter coragem – Uma etnografia sobre gênero, poder, ativismo feminino popular eo campo político feminista de Recife. 2003. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

BROWNER, Carole. "Commentary". Social Science and Medicine 28, 1989, pp. 925-944.

CARDOSO, Roberto de Oliveira. Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo: Livraria Editora Pioneira, 1976.

CHAMILCO, Rosilda Alves da Silva Isla. Práticas obstétricas adotadas pelas parteiras tradicionais a assistência ao parto e nascimento domiciliar na Amazônia Legal, Santana, AP. 2001. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.

COSMINSKY, Sheila. El papel de la comadrona en Mesoamerica", América Indígena, v.37, n. 2, p. 305-351, 1977.

DAVIDSON ,Judith. The delivery of rural reproductive medicine. In: WULFF, Robert M.; FISKE, Shirley. (org.).Anthropological praxis: Translating knowledge into action. Boulder: Westview Press, 1987, p. 262-272.

FAUST, Betty. When is a midwife a witch?. In: WHELEHAN, Patrícia (ed.). Women and health, cross-cultural pel'spectives. Massachussets, Bergin and Garvery Publishers, Inc., p. 21-38, 1989.

FLEISCHER, Soraya. Então, minha filha, vamos se afomentar? Puxação, parteiras e saúde reprodutiva em Melgaço, Pará. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL HISTÓRIA DOS TRABALHADORES DA SAÚDE. 1., 2006, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Casa Osvaldo Cruz/FIOCRUZ, 2006. Disponível em: http:// www.coc.fiocruz.br/observatoriohistorialsimposio/completos/fleischer.

FLEISCHER, Soraya. Parteiras, buchudas e aperreios. Uma etnografia do cotidiano obstétrico em Melgaço, Pará. 2007. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.

GOLDMAN, Noreen; GLEI, Dana A. Evaluation of mid wifely care: Results from a survey in rural Guatemala. Social Science and Medicine, v. 56, p. 685-700, 2003.

GREENBERG, Linda. Midwife training programs in Highland Guatemala. Social Science and Medicine, v. 16, p. 1599-1609, 1982.

HINCAPIÉ, Elizabeth; VALENCIA, Claudia Patrícia. Capacitación de las parteras y su relación com la mortalidad perinatal dei município de Quinchía, Colombia. Colombia Medica, v. 31, p. 11-15, 2000.

JORDAN, Brigitte. Cosmo political obstetrics: Some insights from the training of traditional midwives. Social Science and Medicine, v. 28, p. 925-944, 1989.

JUCÁ, Luiza; MOULIN, Nilson. Parindo um mundo novo: Janete Capiberibe e as parteiras do Amapá. São Paulo: Cortez, 2002.

KELLY, Isabel. El adiestramiento de parteras empíricas desde el punto de vista antropológico, em América Indígena, v. 15, n. 2, 1955.

MAGLACAS, A. M.; SIMONS. (ed.) The potential of the traditional birth attendant. Geneva: World Health Organization, 1986.

MAGLACAS, A. M.; SIMONS. (ed.) The potential of the traditional birth attendant. Geneva: World Health Organization, 1986.

MANGAY-MAGLACAS, A.; PIZURKI, H. (ed.) 71 Je traditional birth attendant in seven countries. Case studies in utilizatilm and training. Public Health Papers, n. 75. World Health Organization, Geneva, 1981.

MANI, S. B. A review of midwife training programs in Tamil Nadu. Studies in Family Planning, v. 11, n. 12, p. 395-400, 1980.

MENDONÇA, Lúcia G. Parteiras em Londrina: 1958-1995. 2004. Dissertação (Mestrado em História das Ciências da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz-FIOCRUZ, Rio de Janeiro, 2004.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. O livro da parteira/Grupo Curumim Gestação e Parto (ONG). Área técnica da Saúde da Mulher; Brasília, Ministério da Saúde, 2000.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Trabalhando com parteiras tradicionais/Grupo Curumim Gestação e Parto (ONG) . Área técnica da Saúde da Mulher; Brasília, Ministério ela Saúde, 2000.

MOTI, Maria Lucia. Fiscalização e formação de parteiras em São Paulo (1880-1920). Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 12, n. 1, p. 143-146, 2001.

MOTI, Maria Lucia. O curso de parteiras: Deve ou não haver parteiras?. Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, v. 108, p. 133-160, 1999.

PARRA, Pilar. Midwives in the Mexican health system, Social Science and Medicine, v. 37, n. 11, 1993, p. 1321-1329.

PEREIRA, Maria Luiza Garnelo. Fazendo parto, fazendo vida: Doença, reprodução e percepção de gênero na Amazônia.1993. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1993.

PIGG, Stacy Leigh. Auth Olity in translation: Finding, knowing, naming, and training 'traditional birth attendants' in Nepal". In: DAVIS-FLOYD, Robbie; SARGENT, Carolyn F. (ed.) Childbirth and authol"itative knowledge: Cross-cultural perspectives. Berkeley: University of California Press, 1997.

PINTO, Benedita Celeste de Moraes. Nas veredas da sobrevivência. Memória, gênero e símbolos de poder feminino em povoados amazônicos. Belém: Paca-Tatu, 2004.

ROZARIO, Santi. Thedai and the doctor: DiscOllrses on women's reproductive healh in rural Bangladesh". In: KAPLANA Ram; Margaret]olly (ed.) Maternitíes and modernities: Colonial and postcolonial experiences in Asia and the Pacific. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

SIMMEL, Georg. O estrangeiro. Revista Brasileira de Sociologia das Emoções, v. 4, n. 12, p. 265-271, 2005. Tradução de Mauro G. Pinheiro KOllry.

STEPHENS, Carolyn. Training urban TBAs: Balancing international policy and local reality. PreliminalY evidence from the slllms of India on the attitudes and practices of clients and practitioners. Social Science and Medícine, v. 35, n. 6, p. 811-17, 1992.

TORNQUIST, Carmen Susana; LINO, Fernanda. Relatos de partos y parteras campesinas en Brasil: Los cuentos hacen pensar. Intersecciones en Antropologia, n. 6, p. 211-21, 2005.

TORNQURST, Carmen Susana. Parto e poder: O movimento pela humanização do parto no Brasil. 2004. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

VELIMIROVIC, H.; B. VELIMIROVIC. The role of traditional bitth attendants in health services, Medical Anthropology, n. 5, p. 89-105, 1981.

VERDERESE, M. L.; TURJ"l'BULL, L. M. The traditional birth attendant in maternal and child health and family planning: A guide to her training and utilizatíon. World Health Organization offset publications n. 18. Geneva: World Health Organization, 1975.

WORLD HEALTH ORGAl"l'IZATION. traditional birth attendant. Afield guide to their training, evaluation and articulatíon with health services. World Health Organization offset publications n. 44. Geneva: World Health Organization, 1979·

Downloads

Publicado

2006-12-15

Como Citar

FLEISCHER, Soraya. Treinamentos de deus e treinamentos da terra: parteiras e cursos de capacitação em melgaço, Pará. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 11, n. 2, p. 225–246, 2006. DOI: 10.5433/2176-6665.2006v11n2p225. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/8995. Acesso em: 22 jul. 2024.

Edição

Seção

Dossiê