Religião e metáfora social: a semana santa como memória e encenação da hierarquia em Mariana- MG

Autores

  • Paulo Gracino Júnior Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2009v14n2p285

Palavras-chave:

Cidade, Fenômeno religioso, Hierarquia social

Resumo

Neste trabalho, recupero a perspectiva de análise durkheimiana, que vê o fenômeno religioso tanto como uma projeção das relações sociais quanto uma fonte normativa para a sociedade. Mais especificamente, pretendo descrever, através da etnografia da Sexta-Feira Santa, a forma como a hierarquia e as disputas por poder vividas pela cidade mineira de Mariana são projetadas em sua vida religiosa. Para esse intento, baseei-me em um leque amplo de pesquisa, que contou com trabalho de campo, documental e entrevistas, através dos quais observei de que forma, a partir de um intenso processo de urbanização ocorrido dentre as décadas de 1970-1980, a cidade viu seu cenário marcado por uma contundente polarização sócio-espacial, envolvendo a população já estabelecida e o contingente recém-chegado. Em meu entendimento, essa polarização incidiu de forma crucial na vida religiosa da cidade, sendo a religião não só uma projeção desse contexto, mas lugar privilegiado onde se encenam e re-atualizam as disputas de poder e dilemas dessa sociedade.

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Biografia do Autor

Paulo Gracino Júnior, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Doutor em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Professor da Universidade Candido Mendes - UCAM.

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Publicado

2009-11-22

Como Citar

GRACINO JÚNIOR, P. Religião e metáfora social: a semana santa como memória e encenação da hierarquia em Mariana- MG. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 14, n. 2, p. 285–312, 2009. DOI: 10.5433/2176-6665.2009v14n2p285. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/4531. Acesso em: 27 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos