Caleidoscópios de gênero: gênero e interseccionalidades na dinâmica das relações sociais
DOI:
https://doi.org/10.5433/2176-6665.2015v20n2p56Palavras-chave:
Gênero e interseccionalidades, Gênero na dinâmica das Relações Sociais, Caleidoscópios de gêneroResumo
Neste trabalho me proponho a tecer algumas considerações sobre os determinantes de gênero na dinâmica das relações sociais a partir de uma perspectiva feminista. Entendo, porém, que, nas sociedades contemporâneas, capitalismo, sexismo, racismo, etarismo, e lesbo/homofobia, dentre outras matrizes de opressão, não agem independentemente. Estão imbricadas ou em "simbiose", constituindo-se como matrizes de opressão que se entrelaçam e se reforçam, forjando sistemas de estratificação e opressão interseccionados. Da mesma forma, gênero, raça e classe e demais marcadores de diferença e elementos constitutivos das relações sociais não atuam separadamente. Esses elementos se intersectam e recortam uns aos outros, modificando, mutuamente, uns aos outros. Isso implica dizer que as respectivas categorias de gênero, raça, classe e outras categorias sociais similares não são categorias autônomas. Daí porque precisamos pensar em instrumentos conceituais que nos permitam identificar e analisar como estruturas de privilégio e opressão se intercruzam em diferentes níveis e se manifestam na vida cotidiana das mulheres e na construção de suas identidades. Nesse intuito, baseio-me aqui na noção de "caleidoscópios de gênero" que, acredito, nos permite melhor dar conta desses processos.Downloads
Referências
AWID: Association for Women's Rights in Development. Intersectionality: A Tool for Gender and Economic Justice. Women's Rights and Economic Change, n. 9, 2004.
BARRETT, Michelle. Women's Oppression Today. Londres: Verso, NLB, 1980.
BARROS, Zelinda. Escola, racismo e violência. In: Projeto Gênero, Raça e Cidadania no Combate à Violência. Caderno para professores. Salvador: NEIM, UFBA, 2005, p. 35-39.
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. São Paulo: Nova Fronteira (volume único), 2009 [1949].
BEBEL, August. La mujer y el socialismo. Espanha: Akal Editor, 1977.
BETTIE, Julie. Women without class: chicas, cholas, trash, and the presence/absence of class identity. Signs: Journal of Women in Culture and Society, v. 26, n. 1, p.01-35, 2000.
BRAH, Avtar. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu, n. 26, p.329- 376, 2006.
BRITTO DA MOTTA, Alda. A Relação Impossível. In: HARDMAN, F. et al. Relações de Trabalho e relações de poder: mudanças e permanências. Fortaleza: Imprensa Universitária da UFCe, 1986, p.229-238.
BRITTO DA MOTTA, Alda. As dimensões de gênero e classe social na análise do envelhecimento. Cadernos Pagu, n. 13, p.191-221, 1999.
BURNHAM, Linda; LOUIE, Miriam. The Impossible Marriage: A Marxist Critique of Socialist Feminism. Line of March, Spring, nº 17, Special Issue, 1985.
BUTLER, Judith. Gender Trouble: feminism and the subversion of identity. Nova Iorque: Routledge, 1990.
CASTRO, Mary. Alquimia de categorias sociais na produção de sujeitos políticos. Revista Estudos Feministas, Rio de Janeiro, v. 0, n. 0, p.57-73, 1992.
COLLINS, Patricia Hill. Black feminist thought: knowledge, consciousness and the politics of empowerment. 2. ed. Nova Iorque: Routledge, 2000.
COLLINS, Patricia Hill. Fighting words. Black women and the search for justice. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1999, p. 201-228.
COLLINS, Patricia Hill. Learning from the Outsider Within: The Sociological Significance of Black Feminist Thought. In: FONOW, M. M.; COOK, J. A. (Eds.). Beyond Methodology: Feminist Scholarship as Lived Research. Bloomington, Indiana: Indiana University Press, 1991, p.35-59.
COLLINS, Patricia Hill. Toward a new vision: race, class and gender as categories of analysis and connection. Memphis, Tenn: Center for Research on Women, Dept. of Sociology and Social Work, Memphis State, University,1989.
COMBAHEE RIVER COLLECTIVE. A black feminist statement. In: MORAGA, Cherrié; ANZALDÚA, Gloria (Eds.). This bridge called my back: writings by radical women of color. Berkeley, CA: Bookpeople (Kitchen Table), 1981, p. 210-218.
CONNELLY, Patricia. On Marxism and Feminism. In: HAMILTON, R; BARRETT, M. (Eds.). The Politics of Diversity. Londres: Verso, 1986, p.241-248.
CRENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, Rio de Janeiro, v.10, n. 1, p.171-189, 2002.
CRENSHAW, Kimberlé. Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and Violence against Women of Color. Stanford Law Review, v. 43, n. 6, p. 1241-1299, 1991.
DAVIS, Kathy. Intersectionality as buzzword: a sociology of science perspective on what makes a feminist theory successful. Feminist Theory , v. 9, n. 1, p. 67- 85, 2008.
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Senhoras e ganhadeiras: elos na cadeia dos seres. In: DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidano e Poder em São Paulo no Século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1984, p.83-113.
EISENSTEIN, Zillah R. Hacia el desarollo de una teoria de patriarcado capitalista y el feminismo socialista. In: EISENSTEIN, Zillah R. (Org.). Patriarcado Capitalista y Feminismo Socialista. Mexico, D.F: Siglo XXI, 1980, p.15-47.
ENGELS, Friederich. The Origin of the Family, Private Property and the State. Nova Iorque: International Publishers, 1972 [1884].
FEE, Elizabeth. The Sexual Politics of Victorian Social Anthropology. In: HARMAN, M; BANNER Lois W. (Eds.). Clio's Consciousness Raised. New
Perspectives on the History of Women. Nova Iorque: Harper Colophon Books, 1974, p.86-102.
FIRESTONE, Shulamith. A Dialética do Sexo. São Paulo: Ed. Labor do Brasil, 1976 [1970].
GODELIER, Maurice. Parties mortes, idées vivantes dans la pensée de Marx sur les sociétés primitives. Marxisme et evolutionnisme. In: GODELIER, Maurice. Horizon, trajets marxistes en anthropologie, Tome I, Paris: Maspero, 1977.
GOLDMAN, Emma. The Traffic in Women. In: GOLDMAN, Emma. Anarchism and Other Essays. Second Revised Edition. Nova Iorque & Londres: Mother Earth Publishing Association, 1911, p. 183-200.
GONÇALVES, Terezinha. Crossroads of Empowerment: The Organization of Women Domestic Workers in Brazil. In: CORNWALL, A; EDWARDS, J. (Eds.). Feminisms, Empowerment and Development. Londres: Zed Books, 2014, p.210-227.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Como Trabalhar com "Raça" em Sociologia. Educação e Pesquisa, v.29, n.1, p.93-107, 2003.
HANCOCK, Ange-Marie. Intersectionality as a Normative and Empirical Paradigm. Politics and Gender, v. 3, n. 2, p.248-253, 2007.
HARTMANN, Heidi. The Unhappy Marriage of Marxism and Feminism: Towards a More progressive union. Capital & Class, v. 8, p.1-33, 1979.
HIMMELWEIT, Susan. The Real Dualism of Sex and Class. Radical Review of Political Economy, v. 16, n. 1, p. 167-183, 1984.
HULKO, Wendy. The Time-and-Context-Contingent Nature of Intersectionality and Interlocking Oppressions. Affilia: Journal of Women and Social Work, v. 24, n. 1, p.44-55, 2009.
HULL, Gloria; SCOTT, Patricia; SMITH, Barbara (Eds.). But Some of Us Are Brave: All the Women Are White, All the Blacks Are Men: Black Women's Studies. Old Westbury, Nova Iorque: The Feminist Press, 1982.
KOWARICK, Lúcio. As Lutas Sociais e a Cidade: impasses e desafios. In: KOWARICK, Lúcio. (Ed.). As Lutas Sociais e a Cidade. São Paulo: Paz e Terra, 1988.
LEACOCK, Eleanor B. Introduction. In: ENGELS, F. The origin of the family, private property, and the state. Nova Iorque: International Publishers, 1972 [1884].
LERNER, Gerda. The creation of patriarchy. Oxford University Press, Inc: Nova Iorque, 1986.
MACHADO NETO, Zahidé. As Meninas: sobre o trabalho da criança e da adolescente em família proletária. In: AGUIAR, N. (Org.). Mulheres na Força de Trabalho na América Latina: análises qualitativas, Petrópolis: Vozes, 1984, p.220-246.
MARX, Karl; KRADER, Laurence. The Ethnological Notebooks of Karl Marx. Assen: Van Gorcum, 1972.
MILLET, Kate. Política Sexual. México, DF: Aguillar Editores, 1975. [1971].
MITCHELL, Juliet. A mais longa revolução. Revista Civilização Brasileira, São Paulo, v. 3, n. 14, p.05-41, 1967.
MORAGA, Cherríe; ANZALDUA, Gloria (Eds.). This Bridge Called my Back: Writings by Radical Women of Color. Nova Iorque: Kitchen Table, Women of Color Press,1981.
MORGAN, Lewis H. Ancient Society. Tucson, Arizona: University of Arizona Press, 1985 [1877].
PAOLI, Maria Célia. Os trabalhadores urbanos na fala dos outros. Tempo, espaço e classe na história operária brasileira. In: LOPES, J. S. Leite (Org.). Cultura e identidade operária. Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ; São Paulo: Marco Zero, 1987.
OAKLEY, Ann. Sex, gender and society. Nova Iorque: Harper, 1972.
PAOLI, Maria Célia; SADER, Éder. Sobre "classes populares" no pensamento sociológico brasileiro (notas de leitura sobre acontecimentos recentes). In: CARDOSO, R. (Org.). A Aventura Antropológica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
ROWBOTHAM, Sheila. Caro Dr. Marx: carta de uma feminista socialista. Cadernos Pagu, n. 32, p.159-182, jan.-jun. 2009.
RUBIN, Gayle. The Traffic in Women: Notes on the "political economy" of sex. In: REITER, R. (Ed.). Toward an Anthropology of Women. Nova Iorque: Monthly Review Press, 1975, p.157-210.
SACKS, Karen. Engels revisitado: a mulher, a organização da produção e a propriedade privada. In: ROSALDO, Michelle. Z.; LAMPHERE, Louise (Orgs.). A Mulher, a Cultura e a Sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p.185- 206.
SAFFIOTI, Heleieth. A ontogênese do gênero. In: STEVENS, C.; SWAIN, T. (Orgs.). A construção dos corpos. Perspectivas feministas. Florianópolis: Editora Mulheres, p.149-181, 2008.
SAFFIOTI, Heleieth. Quem tem medo dos esquemas patriarcais de pensamento? Crítica Marxista, Campinas, v. 71, 1996.
SAFFIOTI, Heleieth. Rearticulando gênero e classe social. In: BRUSCHINI, C.; COSTA, A. O. (Orgs.). Uma Questão de Gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 1992, p.183-215.
SARDENBERG, Cecilia. Migrações Perigosas: As (des)aventuras semânticas do conceito de gênero nos projetos e políticas para mulheres no Brasil. In: GONÇALVES, E. et al. (Orgs.). Iguais? Gênero, trabalho e lutas sociais. Goiânia: Ed. da PUC Goiás, 2014a, p.19-48.
SARDENBERG, Cecilia. Revisitando o campo: autocrítica de uma antropóloga feminista. Revista Mora, v. 20, p. 30-60, 2014b.
SARDENBERG, Cecilia. A igualdade racial na perspectiva da interseccionalidade de gênero, raça e etnia. In: COSTA, A. A.; TEIXEIRA, A.; Vanin, I. (Orgs.). Ensino e gênero: perspectivas transversais. Salvador: NEIM,UFBa, 2011, p.75-88.
SARDENBERG, Cecilia. Classe, gênero e raça: lidando com diferenças e combatendo desigualdades. In: WATANABE, C. H.; CORREA, M. P. V.; ALMEIDA, R. (Org.). Identidades Culturais, Recife, v. 1, p.23-36, 2001.
SARDENBERG, Cecilia. O gênero da memória: lembranças de operários e operárias. In: ALVES, I.; MACEDO, M.; PASSOS, E. (Orgs.). Metamorfoses: gênero e interdisciplinaridade. Salvador: NEIM/UFBA, 1998.
SARDENBERG, Cecilia. O Bloco do Bacalhau: protesto ritualizado de operárias na Bahia. In: Costa, A. A.; ALVES, I. (Orgs.). Ritos, Mitos e Fatos. Mulher e Relações de Gênero na Bahia. Salvador, Bahia: NEIM/FFCH/UFBA, 1997.
SARDENBERG, Cecilia. De sangrias, tabus e poderes: A menstruação em uma perspectiva transcultural. Revista Estudos Feministas, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p.314-344, 1994.
SCOTT, Joan. Gender: a useful category of historical analysis. In: SCOTT, Joan. Gender and the politics of history. Nova Iorque: Columbia University Press, 1988, p.28-52.
SPADE, Joan Z.; VALENTINE, Catherine G. (Eds.). The kaleisdoscope of gender. Thousand Oaks, California: Pine Forge Press; Londres: Sage Publications, 2. ed., 2008.
SOUZA-LOBO, Elisabeth; SOARES, Vera. Masculino e feminino na linha de montagem. In: SOUZA-LOBO, E. A classe operária tem dois sexos. São Paulo: Brasiliense, 1991, p.47-62.
STEPAN, Nancy L. Raça e gênero o papel analogia na ciência. In: HOLLANDA, H. B. (Org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p.72-96.
STOLCKE, Verena. O enigma das intersecções: classe, raça, sexo, sexualidade. A formação dos impérios transatlânticos do século XVI ao XIX. Revista Estudos Feministas, Rio de Janeiro, v.14, n. 1, p.15-42, 2006.
TERRAY, Emmanuel. Marxism and "primitive" societies. Nova Iorque: Monthly Review, 1972.
THOMPSON, Edward. The making of the English working class. Harmondsworth: Penguin, 3. ed., 1980
TRAVERSO-YÉPEZ, Martha A.; PINHEIRO, Verônica. Socialização de gênero e adolescência. Revista Estudos Feministas, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p.147-162, 2005.
TRUTH, Sojourney. Ain't I a Woman. In: Women's Convention, 1851, Ohio. Analls...Akron, Ohio, 1851.
YUVAL-DAVIS, Nira. Intersectionality and Feminist Politics. European Journal of Women's Studies, v. 13, n. 3, p.193-209, 2006.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2015 Cecilia Sardenberg

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os direitos autorais relativos aos artigos publicados em Mediações são do(a)s autore(a)s; solicita-se aos(às) autore(a)s, em caso de republicação parcial ou total da primeira publicação, a indicação da publicação original no periódico.
Mediações utiliza a licença Creative Commons Attribution 4.0 International, que prevê Acesso Aberto, facultando a qualquer usuário(a) a leitura, o download, a cópia e a disseminação de seu conteúdo, desde que adequadamente referenciado.
As opiniões emitidas pelo(a)s autore(a)s dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.






























