Humanos e não-humanos no universo transformacional dos ribeirinhos do rio Tapajós – Pará

Autores

  • João Valentin Wawzyniak Universidade Estadual de Londrina - UEL

DOI:

https://doi.org/10.5433/2176-6665.2012v17n1p17

Palavras-chave:

Ribeirinhos, Cosmologia, Amazônia

Resumo

A partir de dados etnográficos resultantes da pesquisa de campo realizada, entre 2005 e 2007, em comunidades situadas às margens do baixo rio Tapajós, Pará, esta comunicação abordará a dimensão social da relação entre humanos e não-humanos presente na cosmologia e no cotidiano dos ribeirinhos nelas residentes. Os princípios orientadores dessa relação são fornecidos pelo sistema cultural que postula a não existência de dicotomia ou antagonismo entre as dimensões natural, cultural e sobrenatural, mas, em seu lugar, postula um universo transformacional e povoado por uma pluralidade de agentes, humanos e não humanos. Tais seres, com poder de encantamento e agenciamento, transformam-se, em certas circunstâncias, uns nos outros. Transfiguram suas aparências e comportamentos, regulam e afetam o corpo e a vida cotidiana individual e coletiva. Nesse contexto etnográfico, algumas qualidades de seres — animais, humanos, objetos, espíritos e instituições — são apreendidas como pessoas com quem podem estabelecer relações sociais, particularmente “acordos”.

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Biografia do Autor

João Valentin Wawzyniak, Universidade Estadual de Londrina - UEL

Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR. Professor da Universidade Estadual de Londrina - UEL.

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Publicado

2012-03-18

Como Citar

VALENTIN WAWZYNIAK, J. Humanos e não-humanos no universo transformacional dos ribeirinhos do rio Tapajós – Pará. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 17, n. 1, p. 17–32, 2012. DOI: 10.5433/2176-6665.2012v17n1p17. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/2012.v17n1p17. Acesso em: 3 maio. 2024.

Edição

Seção

Dossiê