O ensino de português e a problemática abordagem da variação linguística em livros didáticos
DOI:
https://doi.org/10.5433/1519-5392.2023v23n3p28-48Palavras-chave:
variação linguística, livro didático, ensino de português brasileiroResumo
Este trabalho tem por objetivo analisar o tópico “variação linguística” em livros didáticos de língua portuguesa do ensino médio, aprovados no Plano Nacional do Livro Didático 2021. Para realizar a análise, apresentamos pressupostos do ensino de língua portuguesa a partir dos anos 1980, sobretudo Geraldi (2002) e Soares (1986), com destaque para a entrada da concepção de gênero discursivo (Bakhtin, 2003) no final do século passado. Propomos uma análise qualitativo-interpretativista, pelo viés da Linguística Aplicada Indisciplinar (Moita Lopes, 1994, 2006, 2022), realizando um estudo documental, no qual os sete livros aprovados constituem o material selecionado. Os resultados apontam para a presença do tópico “variação linguística” em todos os livros, bem como aspectos ligados a preconceito linguístico. No entanto, a concepção de língua como interação social, consagrada nos estudos de gêneros discursivos, parece não contemplar o referido tópico, apresentado por atividades atreladas à avaliação do uso linguístico, as quais acabam por enfatizar concepções tradicionais de língua. Por fim, defendemos o ensino do português brasileiro como centro do trabalho pedagógico, a partir da metáfora do “roçado linguístico”, abandonando, assim, a noção de “adequação linguística” para assumir o “esperançar” (Freire, 2020) do “agonismo” (Foucault, 2011), para nós, “agonismo linguístico”.
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