Papel, caneta e um mic na minha mão: o rap como forma em “Fábrica de Fazer Vilão"

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/boitata.2024v19.e50430

Palavras-chave:

Literatura marginal-periférica, Conto, Rap, Ferréz, Intermidialidade

Resumo

O presente artigo busca analisar o conto “Fábrica de fazer vilão” de Ferréz (2009), observando o modo como são construídas no texto referências intermidiáticas (Elleström, 2017; Rajewsky, 2012) entre literatura e música a partir da incorporação de elementos da palavra cantada e rítmica do rap (Ferreira, 2020; Hankin, 2021; Oliveira, 2019). Tal estratégia estética é responsável por tensionar os limites da escrita literária em direção às formas periféricas de elaboração narrativa, criando, dessa maneira, fissuras na forma tradicional do conto literário. O texto apresenta a história de um narrador-personagem jovem e negro, morador de um bairro da periferia de São Paulo, que vê o bar da sua mãe ser alvo de uma abordagem policial violenta. A ação descrita no entrecho é breve, porém o uso da técnica do flow, ao ritmar o relato, potencializa a leitura do enredo e imprime no leitor o medo e o terror que a ação policial provoca nos personagens da trama. Na obra de Ferréz, a violência policial afeta ainda outro aspecto da subjetividade do protagonista, aqui entendido como uma alegoria do produtor de arte periférico, que dentro do contexto descrito vê-se continuamente entre a criação artística e o peso da realidade que o circunda.

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Biografia do Autor

Alan Brasileiro de Souza, Universidade de Brasília

Doutor em Literatura pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura (PósLit) da Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF. Professor da Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SECBA

Filipe Rosa, Universidade de Brasília

Mestrando em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB), Brasilia, DF. Professor na Secretaria da Educação do Estado da Bahia.

Referências

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Publicado

2024-09-23

Como Citar

Souza, A. B. de, & Dias, F. R. dos S. (2024). Papel, caneta e um mic na minha mão: o rap como forma em “Fábrica de Fazer Vilão". Boitatá, 19(37), 26–38. https://doi.org/10.5433/boitata.2024v19.e50430

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