A palavra cantada nos rituais da união do vegetal
um estudo de poéticas orais
DOI:
https://doi.org/10.5433/boitata.2022v17.e46727Resumo
Compondo uma pesquisa mais ampla, o presente artigo pretende estudar as poéticas orais presentes nos rituais do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (CEBUDV), a partir do uso da “música lato sensu”. Tal assunto, embora seja de interesse do universo acadêmico, “tem recebido pouca atenção da literatura até o momento” (LABATE & PACHECO, 2009, p. 14). Assim música e experiência religiosa instigam esse trabalho, tendo como foco a União do Vegetal, que é uma religião de fundamentação cristã reencarnacionista, criada na floresta amazônica, por José Gabriel da Costa, que utiliza em seus rituais um Chá de nome Hoasca, também chamado de Vegetal, considerado sagrado por seus adeptos (outras religiões ou grupos que fazem uso dessa bebida a intitulam de Ayahuasca, um termo que se popularizou no meio acadêmico e na mídia). Sob efeito desse Chá, durante os rituais, os participantes das Sessões de Vegetal entram em um estado ampliado de consciência em que podem ter a oportunidade de receber revelações, através de mirações ou de um mergulho profundo na memória, possíveis de provocar transformações em suas vidas. Esses rituais são organizados, desde a origem desta instituição, de forma a privilegiar a tradição oral, buscando “desenvolver a memória”. Nesse contexto, a música se faz presente, formando uma antologia própria dessa religião, seja através das Chamadas — categoria nativa que designa uma espécie de cânticos sagrados evocados durante os rituais —, seja através de seleção criteriosa de algumas canções do universo popular brasileiro. Para auxiliar nessa empreitada, serão utilizadas, como base teórica, as ideias de Edil Silva Costa, Hampate BA, Paul Zumthor, Jean-Noël Pelen, dentre outros que compõem essa vasta epistemologia sobre as poéticas orais e sobre as religiões Ayahuasqueiras.
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