Racializando a Língua de Eulália: a releitura de conceitos a partir do Sul Global
DOI:
https://doi.org/10.5433/1519-5392.2025v25n2p152-172Palavras-chave:
A Língua de Eulália, Raciolinguística, Raça, LínguaResumo
O presente artigo objetivou produzir considerações acerca da obra "A Língua de Eulália: novela sociolinguística", de autoria de Marcos Bagno (2006), no tocante às categorias analíticas Língua e Raça. Dito isso, após quase três décadas da publicação desse livro, torna-se necessário refletir sobre o não uso da categoria Raça como um elemento para caracterizar a personagem Eulália. Para isso, utilizamos como referencial teórico autores como Gonzalez (1988), Makoni e Meinhof (2006) e Nascimento (2019, 2022), além da perspectiva Raciolinguística de Rosa e Flores (2017). As características metodológicas deste estudo referem-se a uma abordagem qualitativa de caráter bibliográfico, utilizadas para analisar a obra referida. Nessa perspectiva, algumas conclusões gerais mostraram que racializar a Língua de Eulália: novela sociolinguística, inserindo a categoria Raça no foco da discussão em relação à categoria Língua, a partir de perspectivas epistemológicas do Sul Global, pôde propiciar a construção de sentidos acerca das produções linguísticas da personagem Eulália, que poderia ser reconhecida como uma falante de "pretoguês" (Gonzalez, 1988), o qual defendemos tratar-se de usos de variedades do português faladas por pessoas negras no Brasil, resultantes de traços da história marcados pela escravização de povos africanos.
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