Rocío Cerón, Divisible Corpóreo (poemário expandido) e a "musica universalis" do futuro

Resumen

Neste artigo, estuda-se o poemário expandido-multi/transmídia Divisible Corpóreo (2022) da poeta mexicana Rocío Cerón (1972), com o objetivo de contextualizar seu caráter performativo sonoro e viso-conceptual dentro de sua obra. Propõe-se, igualmente, que o trabalho realizado pela poeta com o espaço linguístico do poema, no qual confluem aspectos místicos e científicos (cosmologia e teoria quântica), além de aproximá-la da figura paradigmática (hoje: avatárica) de Sor Juana Inés de la Cruz, enquanto mulher que escreve e pensa (nos mistérios do mundo) e da experiência da noite intelectual, no caso de Cerón, não tanto em relação à escuridão da linguagem, mas à da capacidade cognitiva do observador humano ("A Observadora"), imaginado a partir de nossa herança antropocêntrica que, no século XXI, busca libertar-se, na poesia, das licenças retóricas e autorreferentes do eu. Desse modo, ao realizar essa operação, a poeta redescobre a música universalis (ontem: música das esferas; hoje: teoria das cordas; amanhã: ?) que pulsa em tudo o que existe, que expressa o Universo a partir de sua mais íntima materialidade, da qual essa divisão celular que acabamos por chamar de corpo (biológico), sem dúvida, participa por direito próprio. DC é, para além de suas variadas modulações genéricas, um cântico do futuro que toma a forma de uma canção de ninar vital.