"A gente combinamos de não morrer": a heterodiscursividade no conto de Conceição Evaristo
DOI:
https://doi.org/10.5433/1678-2054.2025vol45n2p78Palavras-chave:
Conceição Evaristo, Olhos d'água, Heterodiscurso, Autoria negraResumo
Neste artigo, apresentamos uma breve leitura crítica e teórica a partir do conto “A gente combinamos de não morrer”, texto que encerra o conjunto harmonioso de quinze narrativas presentes na obra Olhos d’água, publicada em 2014, composta pela escritora brasileira contemporânea Conceição Evaristo (1946-). No texto, a escrita poética da autora constrói mundos possíveis estruturados em vozes calcadas na categoria de “heterodiscurso”, conceito gestado nos estudos teóricos e filosóficos de Mikhail Bakhtin (2011; 2015; 2016; 2023), em torno da literatura representada de forma artística, considerada um acontecimento estético vivo. Ao lermos a heterodiscursividade no conto em pauta, destacam-se, de forma mais expressiva, os elementos de representatividade étnico-racial, violências urbanas periféricas, bem como a problematização da autoria feminina negra dentro e fora das páginas: temas habitualmente lidos na escrita de Conceição Evaristo, que aqui são discutidos em diálogo com Fernanda Miranda (2019), Regina Dalcastagné (2012), Gabriel Nascimento (2019), entre outros pesquisadores.
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