A umbanda e os processos de saúde-doença

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1679-0383.2020v41n2p215

Palavras-chave:

Religião, Saúde, Umbanda, Doença e cura

Resumo

O envolvimento em atividades de cunho religioso pode constituir uma estratégia de enfrentamento diante das demandas de saúde-doença. No Brasil, a umbanda destaca-se como religião fortemente associada aos processos de cura, sendo procurada por fiéis de diferentes filiações religiosas. O objetivo deste estudo foi compreender como os processos saúde-doença são interpretados nos estudos científicos que possuem como cenário a umbanda. Trata-se de uma revisão integrativa nas bases/bibliotecas Lilacs, SciELO, PePSIC, PsycINFO e Medline (2007 a 2018). Por meio da aplicação dos critérios de inclusão/ exclusão por dois juízes independentes, foram recuperados 22 estudos na íntegra. A partir dos sentidos disponíveis nessas publicações, pode-se afirmar que, na umbanda, os processos de saúde-doença são identificados como forma de remissão e resgate dos resquícios de vidas passadas, como influências de energias externas do universo espiritual, ou ainda como forma de merecimento pessoal. O tratamento espiritual foi referido neste corpo de literatura como meio complementar à medicina tradicional, fortalecendo uma perspectiva de saúde-doença que integra aspectos biológicos, psicológicos e culturais tanto na compreensão do adoecimento como nos itinerários terapêuticos.

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Biografia do Autor

Luciana Macedo Ferreira Silva, Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, Minas Gerais, Brasil.

Fabio Scorsolini-Comin, Universidade de São Paulo

Doutorado em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Professor da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP), Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.

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Publicado

31.08.2020

Como Citar

SILVA, L. M. F.; SCORSOLINI-COMIN, F. A umbanda e os processos de saúde-doença. Semina: Ciências Sociais e Humanas, [S. l.], v. 41, n. 2, p. 215–228, 2020. DOI: 10.5433/1679-0383.2020v41n2p215. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/39607. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos Seção Livre