Uma investigação funcionalista da voz passiva analítica no português culto falado: da norma ao uso
DOI:
https://doi.org/10.5433/1519-5392.2022v22n3p174-198Palavras-chave:
Voz passiva, Funcionalismo, Língua em usoResumo
Na tradição gramatical, a categoria voz tem sido descrita principalmente a partir de suas propriedades formais. As gramáticas escolares, em geral, apresentam as características formais das construções passiva sintética e analítica e propõem exercícios de passagem de um tipo de construção para o outro. O conhecimento formal, embora necessário, não revela, no entanto, as motivações discursivas e pragmáticas para o uso da voz passiva pelos falantes. Por outro lado, na perspectiva funcionalista as propriedades formais e as propriedades pragmáticas são tratadas de forma integrada, com prioridade para as do último tipo. Neste trabalho, analisam-se, sob a perspectiva funcionalista, ocorrências da voz passiva analítica em um córpus formado por aulas de curso superior e por entrevistas com pesquisadores. A partir da análise do córpus verificou-se que as explicações para o uso da passiva são de ordem funcional e partem de motivações discursivas e pragmáticas, por exemplo, manter um referente (o paciente) como sujeito, no início da oração, por se tratar de informação dada; apresentar um referente (o agente) como informação nova na posição final da sentença; omitir o agente por considerá-lo irrelevante ou pela impossibilidade de identificá-lo.
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