Para além das fronteiras discursivas: uma análise desconstrutora de Iracema, uma Transa Amazônica (1974)

Autores

  • Maria Elisa de Carvalho Sonda Universidade Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.5433/2237-9126.2019v13n24p66

Palavras-chave:

Ditadura Militar, Cinema Brasileiro, Transamazônica, Cinema-verdade, Jacques Derrida.

Resumo

Iracema, uma transa amazônica é uma ficção-documental que busca retratar as consequências sociais e ambientais do período de crescimento acelerado e modernização que marcou o início da década de 1970 no Brasil. A narrativa é construída por meio de aspectos de linguagem fílmica do cinema verdade, em que a câmera na mão e as cenas não ficcionais intencionam reproduzir um efeito do real para denunciar a exploração predatória na Amazônia com a construção da rodovia Transamazônica. A problematização que este artigo busca levantar parte da compreensão de pesquisadores sobre a história e a teoria de filmes documentários que consideram as produções cinematográficas com caráter de denúncia como uma produção também exploratória - sendo que o tema desses cineastas é, também, a desgraça da vida de seus objetos -, e de alguns conceitos do filósofo Jacques Derrida para melhor fundamentar uma desconstrução do maniqueísmo que coloca a resistência intelectual e artística como heroica na denúncia das barbáries cometidas pelos militares.

Biografia do Autor

Maria Elisa de Carvalho Sonda, Universidade Federal do Paraná

Mestranda no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba – PR

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Publicado

2019-12-26

Como Citar

Sonda, M. E. de C. (2019). Para além das fronteiras discursivas: uma análise desconstrutora de Iracema, uma Transa Amazônica (1974). Domínios Da Imagem, 13(24), 66–85. https://doi.org/10.5433/2237-9126.2019v13n24p66

Edição

Seção

Artigos do dossiê