Direito à convivência familiar e comunitária: interseccionalidades na destituição do poder familiar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1679-0383.2022v43n2p225

Palavras-chave:

Direitos coletivos, Destituição do poder familiar , Interseccionalidades

Resumo

 Este trabalho tem como objetivo refletir acerca da efetivação do direito à convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes quando se trata de famílias com menos acesso a bens e serviços, tendo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como referência normativa. Foi realizada revisão de literatura sobre a destituição do poder familiar no Brasil com embasamento teórico-crítico e interseccional. A pesquisa exploratória da literatura aborda, notadamente, a destituição do poder familiar no Brasil, bem como os desdobramentos que levam sua adoção como política pública. Os principais resultados evidenciam raízes que são produtos das opressões de classe, raça/etnia e gênero no Brasil, intersecções decorrentes e presentes em velhas práticas voltadas para famílias empobrecidas, atualizadas pelo desmantelamento das políticas sociais, promovido pelo capitalismo neoliberal no Brasil, a partir do lugar que ocupa no cenário mundial enquanto país periférico e dependente. Ademais, indica como estratégia de opressão uma separação em tom opositivo entre os direitos das crianças e dos adolescentes e de suas famílias.

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Biografia do Autor

Samira Safadi Bastos, Universidade Federal da Bahia - UFBA

Doutora pela Université de Mons (UMONS), Bélgica. Professora da Universidade Federal da Bahia (IPS/UFBA).

Elvira Simões Barreto, Universidade Federal de Alagoas - UFAL

Doutora pela Universitat Autònoma de Barcelona (UAB), Espanha. Professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Vanderlay Santana Reina, Universidade Federal da Bahia - UFBA

Doutora pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brasil. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa “Desigualdades sociais e interseccionalidades de classe, gênero, raça/etnia e gerações” da Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Andréa Cardello, Universidade Federal da Bahia - UFBA

Doutora em Antropologia pela Université de Montréal (UdeM), Canadá. Pesquisadora da Université du Québec à Montréal (UQÀM), Canadá. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa “Desigualdades sociais e interseccionalidades de classe, gênero, raça/etnia e gerações” da Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Ana Cláudia do Carmo Nascimento, Universidade Federal da Bahia - UFBA

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brasil. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa “Desigualdades sociais e interseccionalidades de classe, gênero, raça/etnia e gerações” da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Jamille de Santana , Universidade Federal da Bahia - UFBA

Pesquisadora do Grupo de Pesquisa “Desigualdades sociais e interseccionalidades de classe, gênero, raça/etnia e gerações” da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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Publicado

04.07.2023

Como Citar

BASTOS, S. S.; BARRETO, E. S.; REINA, V. S.; CARDELLO, A.; NASCIMENTO, A. C. do C.; SOUZA, J. de S. Direito à convivência familiar e comunitária: interseccionalidades na destituição do poder familiar. Semina: Ciências Sociais e Humanas, [S. l.], v. 43, n. 2, p. 225–232, 2023. DOI: 10.5433/1679-0383.2022v43n2p225. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/48159. Acesso em: 8 maio. 2024.

Edição

Seção

Dossiê