Rompendo os muros da colonialidade
a literatura africana como ferramenta para o ensino de história
DOI:
https://doi.org/10.5433/2238-3018.2024v30n1p110-133Palavras-chave:
Ensino de História, Flora Nwapa, História da África, Igbos, Lei 10.639/2003Resumo
A colonialidade, uma lógica de dominação originada no contexto da expansão capitalista/imperialista e que persiste mesmo após o fim das colônias formais, influencia a produção e o ensino do conhecimento sobre a História da África. Este artigo propõe o uso da Literatura Africana como uma ferramenta para abordar eventos históricos relacionados à África e aos povos que lá habitam, adotando uma metodologia inspirada no 'giro decolonial'. Este giro busca superar os paradigmas eurocêntricos e hegemônicos, deslocando o locus de enunciação do sujeito que fala "sobre" para aquele/a que fala "com" e "a partir de". Exploro neste artigo como a obra 'Efuru', de Flora Nwapa, uma escritora igbo/nigeriana do século XX, pode ser utilizada no ensino fundamental para abordar conteúdos da disciplina de História. Através de suas narrativas e personagens, Nwapa oferece uma visão única da história das comunidades ribeirinhas igbos da Nigéria, impregnada de um caráter testemunhal que permite ao leitor compreender os significados atribuídos por ela à história igbo e ao colonialismo na Nigéria. Argumento neste artigo que a inclusão de obras como 'Efuru' no ensino de história das Áfricas pode ajudar a combater estereótipos e simplificações sobre os eventos históricos do continente.
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