(Des)caminhos do ensino de história da África no currículo da Educação Básica
DOI:
https://doi.org/10.5433/2238-3018.2024v30n2p128-152Palavras-chave:
História, Ensino de História da África, Base Nacional Comum Curricular, Livro DidáticoResumo
Resultante de disputas curriculares, políticas e sociais, a BNCC fora elaborada de forma a normatizar os currículos das escolas públicas e privadas do Brasil. Neste artigo, objetivamos analisar como a Base, para o Ensino Médio, configurou propostas para o ensino de História da África e sua reverberação no livro didático, o qual fora avaliado em consonância com as competências e habilidades prescritas no referido documento. O momento de sanção da Base, em 2018, é o recorte temporal inicial desta pesquisa e se justifica pelo fato de a BNCC ser um documento normativo que rege a orientação da construção de materiais didáticos, do trabalho docente e os conhecimentos mínimos que todos os estudantes do país devem adquirir em sua formação básica. O recorte temporal finaliza em 2021, por ser o ano em que os livros didáticos de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas foram distribuídos nas escolas do Brasil. Para os objetivos enunciados, utilizamos a abordagem decolonial a partir de Quijano (2005), assim como a discussão de currículo de Arroyo (2013) e Sacristán e Pérez Goméz (1988). Notamos que a Base expressa um projeto educativo de grupos conservadores da sociedade que, aos poucos, almejam minguar o ensino de História e, consequentemente, o ensino de História da África, no Ensino Médio, uma vez que se pautam em critérios etnocêntricos ao enxergar, por exemplo, a África apenas como ponto de partida para verificar a presença dos povos afrodiaspóricos no Brasil.
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