Entre giras e xirês
como o movimento negro e a universidade enegrecem o ensino de história no Ceará
DOI:
https://doi.org/10.5433/2238-3018.2024v30n2p079-105Palavras-chave:
Memória e história, Ceará, Escravidão e abolição, Movimento negro e universidade, História pública e ensino de históriaResumo
Este artigo se propõe a discutir o apagamento da história e da memória negra no estado do Ceará. Diante disso, diferentes eventos e personagens alusivos aos períodos escravista, abolicionista e pós-abolicionista são estudados, no sentido de se compreender como a memória oficial, configurada pelas elites brancas locais, reserva a população afrocearense um lugar vinculado ao esquecimento na história do tempo presente. O conjunto de fontes analisadas, bem como a bibliografia revisitada, indica-nos a preponderante presença negra neste território. Nesse sentido, demonstramos como o movimento negro, ao lado da produção do conhecimento no âmbito dos grupos e núcleos de estudos e pesquisas que pautam suas produções nas temáticas da afrodescendência nas universidades públicas cearenses, questionam essa memória enquadrada. Resulta deste processo uma produção historiográfica e um currículo em torno da ideia de História Pública que visa enegrecer o ensino de História no Ceará na educação básica. Desta forma, podemos considerar a existência de um conjunto de ações, em torno de parte dos movimentos sociais negros e de parte das universidades públicas cearenses, que incide no estabelecimento de uma nova consciência histórica, alinhada às políticas de reconhecimento e direitos da população negra no tempo presente.
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