"Quarto de despejo": a escrita como reconhecimento

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1678-2054.2025vol45n2p156

Palavras-chave:

mulheres negras, Escrita, Carolina Maria de Jesus, reconhecimento

Resumo

Inicialmente, parafraseando Virgínia Woolf, é necessário perguntar qual é o espaço da mulher na literatura, no início do século passado. Mas, se consideramos o contexto de uma mulher negra, moradora de uma favela brasileira, a perspectiva para se consolidar como escritora é ainda mais árdua. Assim, o presente ensaio pretende demonstrar não apenas as dificuldades enfrentadas por Carolina Maria de Jesus para o exercício de sua escrita, mas como seu esforço para escrever representa um verdadeiro ato de resistência, no seu mundo permeado pela miséria, pela criminalidade e pela exclusão. Um mundo em que vidas são desperdiçadas ou simplesmente desprezadas pelas políticas sociais. A guerra cotidiana pela sobrevivência reduz a condição humana ao nível dos animais que habitam naquele ambiente, com quem disputam os dejetos que lhes servem de alimento. A luta pela sobrevivência, muitas vezes, pode suscitar um enfraquecimento do ânimo e da vontade de viver, conducente a um verdadeiro niilismo existencial. Desse modo, sua escrita de linguagem simples, porém profunda, ultrapassa os estreitos limites da favela, servindo como verdadeiro instrumento de reconhecimento e autopreservação, diante da desigualdade e do preconceito.

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Biografia do Autor

André Pascoal, Universidade de São Paulo

Doutor em Filosofia do Direito pela Universidade de São Paulo (USP).
Doutorando em Filosofia pela FFLCH-USP.

 

 

 

 

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Publicado

11-12-2025

Como Citar

Pascoal, André. “‘Quarto De despejo’: A Escrita Como Reconhecimento”. Terra Roxa E Outras Terras: Revista De Estudos Literários, vol. 45, nº 2, dezembro de 2025, p. 156-68, doi:10.5433/1678-2054.2025vol45n2p156.