A escrita de mulheres negras e as cosmopercepções africanas em "Mata Doce" (2023), de Luciany Aparecida

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1678-2054.2025vol45n2p62

Palavras-chave:

Mata Doce, Luciany Aparecida, Ancestralidade, Tempo espiralar

Resumo

Este trabalho avalia como, no Brasil, a opressão de raça, gênero e classe potencializou os obstáculos para o fazer literário de mulheres negras, destacando a escritora Luciany Aparecida e seu livro Mata Doce (2023). Ambientado na zona rural baiana, Mata Doce é também o nome de um povoamento quilombola ficcionalizado. A narrativa do romance aborda as injustiças decorrentes dos conflitos agrários, da centralização e dos abusos de poder representados pelo coronelismo. A revisão de literatura acerca do romance observou que os poucos trabalhos publicados trataram vagamente dos elementos afrodiaspóricos da narrativa. Este artigo observa o alinhamento da obra à vertente da literatura afro-brasileira e considera a metodologia afrocêntrica para análise das concepções de ancestralidade, memória e tempo espiralar nas representações simbólicas dessas cosmopercepções contidas no romance. Para tanto, sustenta-se nas contribuições de Asante (2024), Hampâté Bâ (2010), Martins (2020) e Duarte (2014), entre outros. A análise das representações simbólicas das epistemes africanas expressas no romance revelou a essência contra-hegemônica da obra, ao conceder o protagonismo da narrativa a mulheres negras, bem como ao visibilizar elementos da cultura e da religiosidade do povo negro brasileiro, historicamente subalternizados e invisibilizados pelo epistemicídio do empreendimento colonial.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Jerson Oliveira Mendes Junior, Universidade Federal do Espírito Santo

Mestre em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal do Espírito Santo.
Doutorando bolsista CAPES. 

Vitor Cei, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UFMG

Professor Adjunto do Universidade Federal do Literatura do Espírito Santo

Referências

10 autoras que publicavam sob pseudônimos masculinos. CULT, 23 abr. 2018. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/10-autoras-que-precisaram-de-pseudonimos-masculinos-para-publicar-suas-obras.

APARECIDA, Luciany. Mata Doce. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2023.

ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricidade: notas sobre uma posição disciplinar. Elisa Larkin Nascimento, org. Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo Negro, 2009. 93-110.

ASANTE, Molefi Kete. Kemet, Afrocentricidade e conhecimento. Trad. Akili Oji Amauzo Bakari. São Paulo: Ananse, 2024.

BÂ, Amadou Hampâté. A tradição viva. Joseph Ki-Zerbo, org. História geral da África I: Metodologia e pré-história da África. Brasília: UNESCO, 2010. 167-212.

CUNHA JÚNIOR, Henrique. NTU. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, n. 108, p. 81-92, 2010. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/9385.

DUARTE, Eduardo de Assis. Faces do negro na literatura brasileira. Literafro, Belo Horizonte, 2014. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/artigos/artigos-teorico-criticos/1676-eduardo-de-assis-duarte-faces-do-negro-na-literatura-brasileira.

DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura afro-brasileira: um conceito em construção. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, nº. 31, Brasilia, p. 11-23, jan-jun de 2008. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/estudos/article/view/9430.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.

FARIAS, Ruberlandia Araújo de. Mulheres negras das letras: reflexões sobre a produção literária feminina negra no nordeste brasileiro. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 7, 2 de março de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/7/mulheres-negras-das-letras-reflexoes-sobre-a-producao-literaria-feminina-negra-no-nordeste-brasileiro.

GARUBA, Harry. Explorações no realismo animista: notas sobre a leitura e a escrita da literatura, cultura e sociedade africana. Trad. Elisângela da Silva Tarouco. Nonada Letras em Revista. Porto Alegre, ano 15, n. 19, p. 235-256, 2012. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/5124/512451673021.pdf.

GOMES, Loiany. C. Resenha de: APARECIDA, Luciany. Mata Doce. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2023. Literafro. Belo Horizonte, nov. 2023. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/resenhas/ficcao/1846-luciany-aparecida-mata-doce.

LOPES, Nei. Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africano. Rio de Janeiro: Malê, 2024.

MARQUES, Luciana A. Resenha de: APARECIDA, Luciany. Mata Doce. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2023. Quatro, cinco, um. São Paulo, out. 2023. Disponível em: https://quatrocincoum.com.br/resenhas/literatura/literatura-negra/narrar-vidas-fora-de-mim.

MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Trad. Marta Lança. Lisboa: Antígona, 2014.

OLIVEIRA, Luiz Henrique Silva de & Loiany Camile Gomes. Da desagregação familiar à conexão por afetos: os construtos raça e gênero como operadores de esfacelamento e resistência em Úrsula e Mata Doce, de Luciany Aparecida. Revista Cerrados, Brasília, v. 33, n. 65, p. 50–61, 2024. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/cerrados/article/view/54141.

OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ́. Visualizing the Body: Western Theories and African Subjects. Peter H. Coetzee & Abraham P. J. Roux orgs. The African Philosophy Reader. New York: Routledge, 2002. 391-415. Trad. Wanderson Flor do Nascimento. Disponível em: https://filosofia-africana.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/oy%C3%A8r%C3%B3nk%E1%BA%B9%CC%81_oy%C4%9Bw%C3%B9m%C3%AD_-_visualizando_o_corpo.pdf.

PIEDADE, Vilma. Dororidade. São Paulo: Editora Nós, 2019.

ROSO, Larissa. Resenha de: APARECIDA, Luciany. Mata Doce. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2023. GZH Livros. Porto Alegre, jan. 2024. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/livros/noticia/2024/01/os-segredos-de-sangue-de-mata-doce-romance-de-luciany-aparecida-clrhtn2on001o0150hyobytui.html.

SOUZA, Elio Ferreira de. A carta da escrava Esperança Garcia de Nazaré do Piauí: uma narrativa testemunho precursora da literatura afro-brasileira. Literafro, Belo Horizonte, 2020. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/arquivos/artigos/criticas/ArtigoElioferreira1cartaesperancagarcia.pdf.

SOUZA, Heleine Fernandes. A poesia negra feminina de Conceição Evaristo, Lívia Natália e Tatiana Nascimento. Rio de Janeiro: Malê, 2020.

TISCOSKI, Luciana. Resenha de: APARECIDA, Luciany. Mata Doce. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2023. Jornal Rascunho, Curitiba, mai. 2024. Disponível em: https://rascunho.com.br/ensaios-e-resenhas/gavetas-ocultas.

Downloads

Publicado

11-12-2025

Como Citar

Mendes Junior, Jerson Oliveira, e Vitor Cei. “A Escrita De Mulheres Negras E As cosmopercepções Africanas Em ‘Mata Doce’ (2023), De Luciany Aparecida”. Terra Roxa E Outras Terras: Revista De Estudos Literários, vol. 45, nº 2, dezembro de 2025, p. 62-77, doi:10.5433/1678-2054.2025vol45n2p62.