A mitologia do mundo colonial português em decomposição na prosa romanesca de António Lobo Antunes
DOI:
https://doi.org/10.5433/1679-0383.2021v42n1p43Palavras-chave:
Os cus de Judas, Mítica colonial, DecomposiçãoResumo
A imagística colonial de um grande império luso torna-se o material revisitado pelo singular narrador do romance Os cus de Judas (1979), de António Lobo Antunes, uma vez que são retomadas as reminiscências trágicas da guerra colonial vivida por aquele em solo angolano. Nesse retorno fatídico, o narrador projeta uma imagem destrutiva dos valores que fizeram parte de sua formação como o “ser português esperado”, de maneira que, ao desmobilizar tais pensamentos, o sujeito encontra um outro caminho para olhar o passado sem que, necessariamente, tenha que lhe render homenagens. Por consequência, na narração são desenvolvidas estratégias específicas para que a mitologia que arregimentou a narrativa do mundo colonial lusitano seja posta em decomposição. São essas estratégias que caracterizam o foco da escrita aqui empreendida, de modo a analisar de que forma um dado modelo de epos nacional é alvo de questionamento e, assim, recebe um novo acento dentro da narrativa antuniana em foco. Para tanto, as concepções de Eduardo Lourenço (2001, 2016) sobre o desencanto cultivado no cenário português e a teorização de Bakhtin (1993, 1997) sobre as características da epicidade fazem parte do referencial teórico deste artigo.Downloads
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