Escrita-ensino da história

uma abordagem amefricana da Revolução Haitiana

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2238-3018.2024v30n1p081-109

Palavras-chave:

Decolonialidade, Revolução Haitiana, currículo, ensino de história, pedagogias transgressoras

Resumo

A colonialidade trata-se de um conceito que define a herança da colonização/colonialismo mesmo após o fim do processo colonial, marcado pelas independências e libertações nacionais. A mesma se expressa de diferentes formas, manifestando-se nas relações de poder, possibilidades de ser e construções de saber. Na pesquisa dialoga-se com a colonialidade do saber e argumenta-se que tal conceito encontra expressão nos currículos ensinados, sobretudo no Ensino de História. Nesse sentido, investiga-se, nos Manuais de Professoras/es de História do 8º ano do Ensino Fundamental na Rede Municipal de Pelotas/RS, o componente curricular da Revolução Haitiana, com o objetivo de compreender como a presença do mesmo expressa uma potência decolonial na perspectiva de uma Escrita-Ensino amefricana da História. Para tanto, precisou-se identificar os Manuais de Professoras/es distribuídos na Rede Municipal de Ensino e analisar de que forma as categorias de colonialidade e decolonialidade se expressam nos mesmos. Em contraposição à tradição disciplinar eurocêntrica da história, reflete-se acerca da potência decolonial que a narrativa histórica pode assumir a partir da melhor compreensão de um processo revolucionário gestado na América. Em diálogo teórico-metodológico com pesquisas e investigações oriundas da crítica decolonial, constatou-se que o texto-base dos Livros da/o Estudante das coleções didáticas analisadas mantêm, em sua maioria, uma narrativa histórica tradicional, ancorada em uma perspectiva de tempo eurocêntrica e linear. Nestes, a Revolução Haitiana aparece como uma mera consequência dos acontecimentos e da racionalidade europeia. No entanto, nos Manuais das/os Professoras/es de História se faz presente referências e elementos que permitem pensar a Escrita-Ensino da História da Revolução Haitiana a partir de perspectivas outras, emergindo como potência decolonial em meio à tradição disciplinar da História.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Gabrielle de Souza Oliveira, Universidade Federal de Pelotas

Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas (2023). Licenciada e bacharela em História pela Universidade Federal de Santa Maria (2020). Membro do Grupo de Estudos sobre pós-Abolição (GEPA) da Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista CAPES durante o mestrado (2021-2023), no Programa Residência Pedagógica História/UFSM (2018-2019) e no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência História/UFSM (2016-2017). Possui interesse nos campos de Ensino de História; Teorias do currículo; História da Educação; Educação antirracista; Educação para as relações étnico-raciais; Escrita(s) da História; Educação popular; e História do pós-Abolição.

Madalena Klein, Universidade Federal de Pelotas

Possui graduação em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1981), mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003). Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Pelotas. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Currículo, atuando principalmente nos seguintes temas: educação de surdos, currículo, cultura surda, educação e diferença.

Referências

ARAUJO, Cinthia Monteiro de. Por outras histórias possíveis: construindo uma alternativa à tradição moderna. In: MONTEIRO, Ana Maria; GABRIEL, Carmen Teresa; ARAUJO, Cinthia Monteiro de; COSTA, Warley da (org.). Pesquisa em ensino de história: entre desafios epistemológicos e apostas políticas. Rio de Janeiro: Mauad X, 2014. p. 227-242.

BENTO, Maria Aparecida Silva. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. 2002. 176 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História Sociedade & Cidadania: ensino fundamental anos finais, 8º ano, manual do professor. 4. Ed. São Paulo: FTD, 2018. p. 103-119.

BRAGATO, Fernanda; COLARES, Virgínia. Indícios de descolonialidade na análise crítica do discurso na ADPF 186/DF. Revista Direito GV, São Paulo, v. 13. n. 3, p. 949-980, set./dez. 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rdgv/a/sxrsKHRzfc4rZrRKfhnC7BL/. Acesso: 20 fev. 2024. DOI: https://doi.org/10.1590/2317-6172201737

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. PNLD 2020: história - guia de livros didáticos. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2019. Disponível em: https://pnld.nees.ufal.br/assets-pnld/guias/Guia_pnld_2020_pnld2020-historia.pdf. Acesso em: 12 jan. 2025.

BRASIL. Presidência da República. Lei 10.639.

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2003. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm. Acesso em: 12 jan. 2025.

BUCK-MORSS, Susan. Hegel e Haiti. Novos Estudos, São Paulo, edição 90, v. 30, n. 2, p. 131-171, jul. 2011. Disponível em: https://novosestudos.com.br/produto/edicao-90/. Acesso em: 12 jul. 2023. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-33002011000200010

CAIMI, Flávia Eloisa. O livro didático de história e suas imperfeições: repercussões do PNLD após 20 anos. In: ROCHA, Helenice Aparecida Bastos; REZNIK, Luis; MAGALHÃES, Marcelo de Sousa (org.). Livros didáticos de história: entre políticas e narrativas. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2017. p. 33-54.

CALDERÓN, Patricia Asunción Loaiza. Abordagem metodológica em estudos decoloniais: possível diálogo entre a análise crítica do discurso e as epistemologias do sul. In: SEMEAD SEMINÁRIOS EM ADMINISTRAÇÃO, 20., 2017, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: FEA/USP, 2017. p. 1-12. Disponível em: https://login.semead.com.br/20semead/anais/resumo.php?cod_trabalho=2018. Acesso em: 27 maio 2023.

CARPENTIER, Alejo. O reino deste mundo. Tradução de Marcelo Tápia. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

CASSIANO, Célia Cristina de Figueiredo. Política e economia do mercado do livro didático no século XXI: globalização, tecnologia e capitalismo na educação básica nacional. In: ROCHA, Helenice Aparecida Bastos; REZNIK, Luis; MAGALHÃES, Marcelo de Sousa (org.). Livros didáticos de história: entre políticas e narrativas. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2017. p. 83-100.

CASTRO, Edna. Introdução. Razão decolonial, experiência social e fronteiras epistemológicas. In: CASTRO, Edna (org.). Pensamento crítico latino-americano. São Paulo: Annablume: 2019. p. 23-62.

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Tradução de Noémia de Sousa. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1978.

COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar, Ensino Fundamental - anos finais. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. p. 94-111. Disponível em: https://api.plurall.net/media_viewer/documents/2596116. Acesso em: 2 jan. 2025.

DIAS, Adriana Machado; GRINBERG, Keila; PELLEGRINI, Marco César. Vontade de saber: história, ensino fundamental anos finais. São Paulo: Quinteto Editorial, 2018. p. 82-141.

FERNANDES, Ana Claudia (org.). Araribá Mais: história, Ensino Fundamental anos finais. São Paulo: Moderna, 2018. p. 76-101.

GOMES, Nilma Lino. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. Currículo sem Fronteiras, [S. l.], v. 12, n.1, p. 98-109, jan./abr. 2012. Disponível em: http://www.curriculosemfronteiras.org/vol12iss1articles/gomes.htm. Acesso em: 27 jun. 2023.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de Amefricanidade. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 92, n. 93, p. 69-82, jan./jun. 1988, Disponível em: https://negrasoulblog.files.wordpress.com/2016/04/a-categoria-polc3adtico-cultural-de-amefricanidade-lelia-gonzales1.pdf. Acesso em: 28 jun. 2023.

GROSFOGUEL. Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistêmicos do longo século XVI. Sociedade e Estado, Brasília, v. 31, n. 1, p. 25-50, jan./abr. 2016, Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/i/2016.v31n1/. Acesso em: 1 nov. 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100003

GUELMAN, Anahí; PALUMBO, María Mercedes (org.). Pedagogías descolonizadoras: formación en el trabajo en los movimientos sociales. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: El Colectivo CLACSO, 2018.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução de Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Colección Sur Sur CLACSO, 2005.

MALDONADO-TORRES, Nelson. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores, 2007. p. 127-168.

MONTEIRO, Ana Maria; GABRIEL, Carmen Teresa; ARAUJO, Cinthia Monteiro de; COSTA, Warley da (org.). Pesquisa em ensino de história: entre desafios epistemológicos e apostas políticas. Rio de Janeiro: Mauad X, 2014.

PARAISO, Marlucy Alves. Metodologias de pesquisa pós-críticas em educação e currículo: trajetórias, pressupostos, procedimentos e estratégias analíticas. In: MEYER, Dagmar Estermann; PARAISO, Marlucy Alves. Metodologias de pesquisa pós-criticas em Educação. Belo Horizonte: Mazza, 2012. p. 23-45.

PRADO, Maria Ligia Coelho. Repensando a história comparada da América Latina . Revista de História, São Paulo, n. 153, p. 11-33, 2005, Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/19004. Acesso em: 8 jan. 2023. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.v0i153p11-33

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Colección Sur Sur CLACSO, 2005. p. 117-142.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2009.

SANTELLI, Ricardo Leme. Castas ilustradas: representação de mestiços no México do Século XVIII. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 26., 2011, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: USP, 2011. p. 1-13. Disponível em: http://www.snh2011.anpuh.org/site/anaiscomplementares#R. Acesso 12 jun. 2023.

SANTOS, Boaventura de Sousa. O fim do império cognitivo: a afirmação das epistemologias do Sul. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.

SERIACOPI, Gislane Campos Azevedo; SERIACOPI, Reinaldo. Inspire História, Ensino Fundamental anos finais. São Paulo: FTD, 2018. p. 85-131.

SILVA, Guilherme. H. da; LUCINI, Marizete. Prescrições colonizadoras e sobrevoos possíveis sobre o currículo de história . Práxis Educacional, Vitória da Conquista, v. 18, n. 49, p. 1-16, 2022. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/praxis/article/view/10499. Acesso em: 8 jan. 2023. DOI: https://doi.org/10.22481/praxisedu.v18i49.10499

STRECK, Danilo Romeu. Qual o conhecimento que importa? Desafios para o currículo. Currículo sem Fronteiras, [S. l.], v. 12, n. 3, p. 8-24, set./dez. 2012. Disponível em: http://www.curriculosemfronteiras.org/art_v12_n3.htm. Acesso em: 12 jan. 2025.

VIANA, Larissa. A independência do Haiti na Era das Revoluções. São Paulo: ANPHLAC, [2024]. Disponível em: https://www.anphlac.org/conteudo/view?ID_CONTEUDO=489. Acesso em: 11 jun. 2023.

WALSH, Catherine. Interculturalidade crítica e pedagogia decolonial: in-surgir, re-existir e re-viver. In: CANDAU, Vera Maria (org.). Educação intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas. Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2009. p. 12-42.

Downloads

Publicado

2024-06-30

Como Citar

Oliveira, G., & Klein, M. (2024). Escrita-ensino da história: uma abordagem amefricana da Revolução Haitiana. História & Ensino, 30(1), 081–109. https://doi.org/10.5433/2238-3018.2024v30n1p081-109

Edição

Seção

Dossiê ENSINO DE HISTÓRIA EM "PERIFERIAS": ENSINAR E APRENDER EM MARGENS, BEIRAS, BORDAS E FRONTEIRAS