"Muito tiro"
ensinando histórias da democracia na periferia
DOI:
https://doi.org/10.5433/2238-3018.2024v30n1p011-036Palavras-chave:
Ensino de história, Periferia, DemocraciaResumo
Apresentamos resultados parciais do projeto de pesquisa "A Aula Inacabada: democracia, utopia e ensino de História" (2020-2024), constituído por questionários respondidos por estudantes dos 7º e 8º anos de quatro escolas públicas de Porto Alegre e Região Metropolitana, os quais foram cotejados com os Projetos Político-Pedagógicos das respectivas escolas, e os testemunhos de cada professor/a, quatro dos autores deste artigo. Analisamos as respostas quanto a idade, cor/raça, gênero e sexualidade, condições socioeconômicas, bem como as opiniões sobre o bairro e a escola, para discutir as concepções de periferia que perpassam as aulas de História. O conceito de periferia de Tiaraju D'Andrea e o pensamento de Freire, hooks e Xakriabá sobre relações educacionais apoiaram nosso exercício de escuta. Identificamos uma proporção de estudantes pretos e pardos em relação aos brancos maior do que a média do estado do Rio Grande do Sul, o mesmo valendo para a razão de habitantes por moradia. Há diversidade em relação à sexualidade mais do que em gênero. Os estudantes demonstraram leitura crítica sobre a escassez, a violência, as injustiças e a falta de estruturas mínimas em suas casas, nas escolas e nos bairros onde vivem. Os bons professores, os aprendizados, a merenda, os espaços bonitos da escola e os amigos são elogiados, quiçá indícios de que a utopia de uma boa vida e de uma boa escola se anuncia. Essas periferias são lugares de tensão entre a falta de quase tudo e as relações humanas com seus afetos (positivos ou não) para seguir produzindo a vida. Recusamos a normalização da escassez e a romantização da resistência cotidiana. Com o apoio de Beatriz Nascimento, compreendemos essas escolas e periferias como novas formas de quilombos, onde procuramos, com respeito, criar aulas de história para o encontro da justa raiva, do sonho e da história.
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