Construção, canção de Chico Buarque, e os enredos do ensino de história

diálogos entre texto poético, música e contextos decoloniais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2238-3018.2024v30n2p054-078

Palavras-chave:

Música Popular Brasileira, Chico Buarque de Holanda, Conhecimento histórico, Debate decolonial, História do Brasil contemporâneo

Resumo

O presente artigo busca estabelecer possibilidades de diálogos entre a música Construção (1971), de Chico Buarque de Holanda, e as demandas da produção do conhecimento histórico no Brasil contemporâneo. Por meio da integração da tríade composta pelo texto poético, o texto musical (explorando uma das performances gravadas pelo próprio autor) e o contexto, almejamos estabelecer uma estrutura analítica que permita explorar os elos entre esses três elementos. Esse enfoque visa aprofundar a interpretação e compreensão da mensagem que a canção busca transmitir e as possibilidades de sua abordagem nas aulas de História. Temos a intenção ainda de, partindo do contexto da música Construção, criar conexões, estabelecer diálogos e identificar características que aproximam essa obra das discussões acerca do decolonialismo. Nesse sentido, entendemos que a produção artística, em suas diferentes categorias, se constitui como um indispensável instrumento que não apenas se levanta contra as tecnologias e as consequências da dominação e sujeição da modernidade/colonialidade (Quijano, 1992), como também é capaz de forjar uma consciência coletiva descolonizante e insurgente que evidencia as múltiplas facetas da leitura e produção da realidade emancipada.

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Biografia do Autor

Renilson Ribeiro, Universidade Federal de Mato Grosso

Bacharel e licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nesta instituição obteve o título de mestre e doutor em História Cultural. É professor associado IV do Departamento de História, do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPGEL) e Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Tem experiência na área de História, com ênfase em Ensino de História e Historiografia, atuando principalmente nos seguintes temas: História do Brasil, séculos XIX e XX, ensino de História, historiografia brasileira, literatura, identidades, memórias, patrimônio e instituições. Exerceu a coordenação de gestão de processos educacionais do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência da UFMT/Capes (2012-2016). Realizou estágio pós-doutoral em Educação na Universidade de São Paulo (USP) - 2016/2017, sob a supervisão da Prof. Dr. Kátia Maria Abud. Exerceu a função de Coordenador da Editoria Universitária - EdUFMT (2016-2020) e o cargo de Pró-reitor de Cultura, Extensão e Vivência - Procev (2020-2022) na sua instituição. É autor dos livros O Brasil inventado pelo Visconde de Porto Seguro: Francisco Adolfo de Varnhagen, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a invenção do Brasil Colonial no Brasil Império (1838-1860) (Entrelinhas, 2015) e Fazer história: a importância de ler, interpretar e escrever sem ala de aula (Appris, 2018). Organizador das obras: Ensino de História: trajetórias em movimento (EdUnemat, 2007); O negro em folhas brancas: Ensaios sobre as imagens do negro nos livros didáticos de História do Brasil (últimas décadas do século XX) (Appris, 2019); Diversidade étnico-racial e as tramas da escrita: historiografia, memória e ensino de história afro-brasileira na contemporaneidade (Appris, 2020); Cuiabá em enredos, tramas e paisagens: história, cotidiano e sociedade (EdUFMT, 2020); Territórios disputados: produção de conhecimento no ensino de história em tempos de crise (EdUnemat; Paruna Editorial, 2021); Diversidade étnico-racial e as tramas da escrita: historiografia, memória e ensino de indígena na contemporaneidade (Paruna Editorial, 2022); Porque sempre haverá o amanhã: linguagens, memórias e educação na contemporaneidade (Paruna Editorial, 2022); Estágio, práticas e extensão: vivências dos professores de história no tempo das incertezas e esperanças (Paruna Editorial, 2022) e O ofício das palavras: encontros entre Literatura e História (Paruna Editorial, 2023). Orientou 12 (doze) dissertações de mestrado e 6 (seis) teses de doutorado no Programa de Pós-graduação em História (PPGHis/UFMT). Orientou 5 (cinco) dissertações de mestrado no Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória/UFMT). Orientou 5 (cinco) teses de doutorado no Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagem (PPGEL/UFMT). Participa da linha de pesquisa Literatura, Sociedade e Identidades, no PPGEL/UFMT.

Dorit Kolling Oliveira, Universidade Federal de Mato Grosso

Dorit Kolling de Oliveira é mestre em História pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Doutoranda em Estudos Literários pelo Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagem (PPGEL) na mesma instituição. Professora adjunta do Departamento de Artes na UFMT e regente (maestra) do Coral UFMT.

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Publicado

2024-12-31

Como Citar

Ribeiro, R., & Oliveira, D. K. (2024). Construção, canção de Chico Buarque, e os enredos do ensino de história: diálogos entre texto poético, música e contextos decoloniais. História & Ensino, 30(2), 054–078. https://doi.org/10.5433/2238-3018.2024v30n2p054-078

Edição

Seção

Dossiê ENSINO DE HISTÓRIA EM "PERIFERIAS": ENSINAR E APRENDER EM MARGENS, BEIRAS, BORDAS E FRONTEIRAS