Vol. 12 Núm. 23 (2018)
Os Estúdios Disney têm tradição em lançar produções inspiradas em contos do mundo inteiro, principalmente europeus que se consagraram na literatura. A maior parte das animações traz a representação de mulheres como ponto fulcral de suas construções fílmicas. Notamos que tais representações tiveram uma mudança substancial após os anos 1990 e teve seu auge na animação Frozen (2012), inspirada no livro de Hans Andersen, A Rainha da Neve de 1844, justificada não só pela inserção da mulher na própria produtora, ocupando cargos de diretora e produtora executiva, mas também e, principalmente pela mudança na forma da sociedade ver a mulher. Conforme Moscovici nos lembra em relação às representações sociais:
"[...] não são criadas por um indivíduo isoladamente. Uma vez criadas, contudo, elas adquirem uma vida própria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações, enquanto velhas representações morrem”. (MOSCOVICI, 2003, p. 41).
Elsa, personagem principal de Frozen, animação que ultrapassou 1 bilhão de arrecadação, traz consigo uma renovação bastante importante na representação da mulher promovida pela Disney: é a primeira protagonista a não ter um caso amoroso. A realidade da rainha Elsa é bastante próxima de inúmeras mulheres que, como ela, dedicam-se aos seus trabalhos, e, até mesmo, às suas famílias, sem necessariamente, precisar de uma figura masculina para ser feliz. A aceitação de ser quem é e assumir o posto de rainha de Arendelle mostra-nos um empoderamento que revolucionou a história da produtora e do cinema.
Apesar desse empoderamento, inusitadas para o público acostumado com o romance das animações até A Princesa e o Sapo (2009), ter sido alvo de elogiosos comentários, também foi de críticas fundadas num conservadorismo que propõe à mulher um papel de submissão que fora naturalizado pela estrutura tradicional da sociedade. Mesmo acreditando que a mudança de representação da Walt Disney seja, não só uma questão cultural que vê na luta feminista um ideal justo de equidade social, mas também uma questão econômica que geraria trazer essa discussão para dentro da roteirização e construção fílmica, Elsa é um marco para toda a possibilidade de dizer “Livre estou”!