Santuário de guerrilheiros

A floresta como espaço da guerra nos anos da Ditadura Militar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2023v16n31p087-113

Palavras-chave:

Florestas, Ditadura militar, Guerrilha, Espaço Social, Pensamento Militar

Resumo

Esse artigo discute as figurações da floresta, como espaço social, na Ditadura Militar brasileira. Para tanto, parte-se de uma breve discussão sobre como a tradição intelectual brasileira hegemônica lidou com o tema da floresta e da natureza tropical. Depois, comparam-se as percepções de militares e guerrilheiros sobre a floresta, em três situações distintas, a guerra do Vietnã, a guerrilha de Che Guevara na Bolívia e a Guerrilha do Araguaia, mediante o uso de instrumentos conceituais da filosofia de Henri Lefebvre. Os indígenas surgem, ainda, como uma outra voz, que traz para as florestas a dimensão de uma outra cosmologia. A proposta desse artigo não é procurar um denominador comum a essas diferentes figurações da floresta, mas mostrá-las em seus conflitos e sua complexidade, pensando a floresta como espaço de múltiplas e conflitantes concepções.

Biografia do Autor

Daniel Faria, Universidade de Brasília

Professor Adjunto do Departamento de História da Universidade de Brasília

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Publicado

18-09-2023

Como Citar

FARIA, Daniel. Santuário de guerrilheiros: A floresta como espaço da guerra nos anos da Ditadura Militar. Antíteses, [S. l.], v. 16, n. 31, p. 087–113, 2023. DOI: 10.5433/1984-3356.2023v16n31p087-113. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/47607. Acesso em: 2 jul. 2024.