“Na forma que com tanta justiça se requer”

O direito de petição no contexto da Independência do Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2022v15nEspecialp146-181

Palavras-chave:

Brasil-Império, Independência, constituição, direito de petição.

Resumo

O objetivo do artigo é propor uma reflexão sobre o mecanismo e a ação peticionária no contexto da Independência do Brasil considerando tanto a reflexão política coeva sobre os significados daquilo que viria a ser designado de “direito de petição” quanto às práticas sociais por ele abrangidas. Para tanto, analisamos, em um primeiro momento, os debates verificados nas Cortes de Lisboa sobre a constitucionalização do direito de petição; em seguida, as discussões verificadas na Assembleia Constituinte do Império do Brasil de 1823, que se concentraram, sobretudo, no processamento e nos encaminhamentos das petições. Por fim, a partir da análise da documentação da Assembleia, apresentamos uma proposta de categorização das petições e discutimos os usos concretos do mecanismo. Defendemos como hipóteses que a grande maioria das petições que chegaram aos deputados constituintes no Rio de Janeiro eram, em realidade, formas já conhecidas de peticionamento no Antigo Regime português; além disso, que o fato de que muitas não terem sido processadas, é um reflexo da sobreposição da projeção de um “direito de petição” frente à prática peticionária existente.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Andréa Slemian, UNIFESP

Professora Associada da UNIFESP

Renata Silva Fernandes, Universidade Federal de Goiás

Professora no Departamento de História da Universidade Federal de Goiás (UFG); Doutora em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Referências

ALMBJÄR, Martin. The problem with early-modern petitions: safety valve or powder keg? European Review of History: Revue européenne d'histoire, [s. l.], v. 26, n. 9, p. 1013-1039, 2019. DOI: https://doi.org/10.1080/13507486.2019.1575798

BERBEL, Márcia Regina. A nação como artefato: deputados do Brasil nas Cortes portuguesas, 1821- 1822. São Paulo: Hucitec: Fapesp, 1999.

BICALHO, Maria Fernanda. “Possuidores despóticos”: historiografia, denúncia e fontes sobre a corrupção na América portuguesa. Revista Complutense de História de América, Madrid, v. 43, p. 127-152, 2017a. DOI: https://doi.org/10.5209/RCHA.56729

BICALHO, Fernanda; RODRIGUES, José Damião; CARDIM, Pedro. Cortes, juntas e procuradores. In: FRAGOSO, João; MONTEIRO, Nuno (org.). Um reino e suas repúblicas no Atlântico: comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017b. p. 137-158.

CARDIM, Pedro. Os povos indígenas, a dominação colonial e as instâncias de justiça na América portuguesa e espanhola. In: DOMINGUES, Ângela; RESENDE, Maria Leônia Chaves de & CARDIM, Pedro (orgs.). Os Indígenas e as Justiças no Mundo Ibero-Americano (Sécs. XVI-XIX). Lisboa: CHAM, 2019.

CARDIM, Pedro. Cortes e cultura política no Portugal do Antigo Regime. Lisboa: Cosmos, 1998a.

CARDIM, Pedro. O quadro constitucional. Os grandes paradigmas de organização política: a coroa e a representação do Reino. As cortes. In: MATTOSO, José (dir.); HESPANHA, António Manuel (coord.). História de Portugal: o Antigo Regime. Lisboa: Estampa, 1998b, v. 4, p. 132-140.

CASTRO, Zília Osório. Constitucionalismo vintista: antecedentes e pressupostos. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 1986.

CEREZALES, Diego Palacios. Ejercer derechos: reivindicacion, petición y conflicto. In: MATEO, María Cruz Romeo; ALONSO, María Sierra (coord.). La España liberal 1833-1874. Madrid: Marcial Pons, 2014, v. 2, p. 253-288.

CEREZALES, Diego Palacios. Embodying public opinion: from petitions to mass meetings in Nineteenth Century Portugal. E-Journal of Portuguese History, [s. l.], v. 9, n. 1, p. 1-19, 2011.

COSTA, João Paulo Peixoto Costa. Na lei e na guerra: políticas indígenas e indigenistas no Ceará (1798-1845). 2016. Tese (Doutorado em História) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.

CRUZ, Miguel Dantas da. The petitionary wave of the First Portuguese Liberal Revolution (1820-1823). In: CRUZ, Miguel Dantas da (ed.). Petitioning in the Atlantic World, C. 1500-1840: Empires, Revolutions and Social movements. London:

Palgrave Macmillan, 2022.

CURTO, Diogo Ramada. Cultura Imperial e Projetos Coloniais (séculos CV a XVIII). Campinas: Ed. Unicamp, 2009.

DOMINGUES, Ângela; RESENDE, Maria Leônia Chaves de & CARDIM, Pedro (orgs.). Os Indígenas e as Justiças no Mundo Ibero-Americano (Sécs. XVI-XIX). Lisboa: CHAM, 2019.

FERNANDES, Renata Silva. Um governo por conselhos: as províncias e o Império do Brasil (Minas Gerais, 1822-1834). Curitiba: Appris, 2021.

GARRIGA, Carlos. Gobierno y justicia: el gobierno de la justicia. Dossier Justicia y Administración entre el antiguo régimen y el orden liberal: lecturas ius-históricas, Plataforma del Programa Interuniversitario de Historia Política, n. 125, p. 1-40, 2021.

GARRIGA, Carlos; LORENTE, Marta. Cádiz, 1812: la constitución jurisdiccional. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales, 2007.

GARRIGA, Carlos; LORENTE, Marta. Responsabilidad de los empleados públicos y contenciosos de la administración (1812-1845). Una propuesta de revisión. In: IÑURRITEGUI, José María; PORTILLO, José María (ed.). Constitución en España: orígenes y destinos. Madrid: CEPC, 1998, p. 215-272.

HESPANHA, António Manuel. Como os juristas viam o mundo. 1550-1750: direitos, estados, coisas, contratos, ações e crimes. Lisboa: Createspace, 2015.

HESPANHA, António Manuel. Imbecilitas. São Paulo, Anna Blume, 2010.

HESPANHA, António Manuel. La gracia del derecho: economía de la cultura en la edad moderna. Madrid: CEPC, 1993

HESPANHA, António Manuel. História das instituições: épocas medieval e moderna. Lisboa: Almedina, 1982.

JESUS, Ronaldo Pereira de. Visões da monarquia: escravos, operários e abolicionismo na corte. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2009.

LORENTE, Marta. Las infraciones a la Constitucion de 1812: un mecanismo de defensa de la Constitucion. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1988.

MASTERS, Adrian. A thousand invisible architectis: vassals, the petition and response system and the creation of Spanish Imperial. Hispanic American Historical Review, Durham, v. 98, n. 3, p. 377-406, 2018. DOI: https://doi.org/10.1215/00182168-6933534

MONTEIRO, Nuno; COSENTINO, Francisco. Grupos corporativos e comunicação política. In: FRAGOSO, João; MONTEIRO, Nuno (org.). Um reino e suas repúblicas no Atlântico: comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017. p. 433-467.

NEVES, Guilherme Pereira das. E recebera mercê: a mesa da consciência e ordens e o clero secular no Brasil 1808-1828. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1997.

NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. Corcundas e constitucionais: a cultura política da independência (1820-1822). Rio de Janeiro: Revan: FAPERJ, 2003.

PEREIRA, Vantuil. Ao soberano congresso: direitos do cidadão na formação do Estado Imperial brasileiro (1822 – 1831). São Paulo: Alameda, 2010.

PIMENTA BUENO, J. A., Marquês de São Vicente. Direito publico brazileiro e analyse da Constituição do Imperio. Rio de Janeiro: Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e C, 1857.

PIRES, Maria Idalina Cruz Pires. Resistência indígena nos sertões nordestinos no pós-conquista territorial: legislação, conflito e negociação nas vilas pombalinas 1757-1823. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004.

PIROLA, Ricardo Figueiredo. Cartas ao Imperador: os pedidos de perdão de réus escravos e a decisão de 17 de outubro de 1872. Almanack, Guarulhos, n. 13, p. 130-152, 2016. DOI: https://doi.org/10.1590/2236-463320161307

PORTUGAL. Diário das Cortes Geraes e Extraordinarias da Nação Portugueza. Sessão de 13 de fevereiro de 1821a, p. 81. Disponível em https://debates.parlamento.pt/catalogo/mc/c1821. Acesso em 20 set. 2021

PORTUGAL. Projeto para discussão. Constituição Política da Monarchia Portuguesa, feita pelas Cortes Geraes, Extraordinárias, e Constituintes reunidas em Lisboa no ano de 1821. Lisboa: Imprensa Nacional, 1821b.

PORTUGAL. Constituição Política da Monarquia Portuguesa decretada pelas Cortes Gerais Extraordinárias e Constituinte reunidas em Lisboa no ano de 1821. [S. l.: s. n.], 1821c. Disponível em: https://www.fd.unl.pt/Anexos/Investigacao/7511.pdf. Acesso em: 02 nov. 2021.

ROJAS, Beatriz. El derecho de petición y el sistema representativo mexicano. Istor: Revista de Historia Internacional, México, D. F., v. 16, n. 61, p. 159-186, 2015.

ROMEIRO, Adriana. Corrupção e poder no Brasil: uma história, séculos XVII a XVIII. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

ROSANVALLON, Pierre. El buen gobierno. Buenos Aires: Manantial, 2015.

SALAS, Ramón. Lecciones de derecho público constitucional para las escuelas de Españ. Madrid: Imprenta del Censor, 1821.

SILVA, Luiz Geraldo. Africanos e afrodescendentes na América portuguesa: entre a escravidão e a liberdade. 2018. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2018.

SILVEIRA, Marco Antônio. Acumulando forças: luta pela alforria e demandas políticas na capitania de Minas Gerais (1750-1808). Revista de História, São Paulo, n. 158, p. 131-156, 2008. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.v0i158p131-156

SLEMIAN, Andréa. La independencia de Brasil: constitucionalismo y derechos, 1820-1824. In: PIMENTA, João P. (org.). Y dejó de ser colonia: una historia de la Independencia de Brasil. Madrid: Sílex, 2021. p. 121-149.

SLEMIAN, Andréa. Sob o Império das leis: constituição e unidade nacional na formação do Brasil (1822-1834). São Paulo: Hucitec, 2009.

TILLY, Charles. Contentious repertoires in Great Britain, 1758-1834. Social Science History, Durham, v. 17, n. 2, p. 253-280, 1993. DOI: https://doi.org/10.1017/S0145553200016849

VARGUES, Isabel Nobre. A Aprendizagem da cidadania em Portugal (1820-1823). Coimbra: Minerva, 1997.

VIEIRA, Benedicta Maria Duque. O problema político português no tempo das primeiras Cortes Liberais. Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1992.

ZARET, David. Petition-and-response and liminal petitioning in comparative: historical perspective. Social Science History, Durham, v. 43, n. 3, p. 409-429, 2019. DOI: https://doi.org/10.1017/ssh.2019.16

ZARET, David. Petitions and the “invention” of public opinion in the English Revolution. American Journal of Sociology, Chicago, v. 101, n. 6, p. 1497-1555, 1996. DOI: https://doi.org/10.1086/230866

Downloads

Publicado

07-12-2022

Como Citar

SLEMIAN, Andréa; FERNANDES, Renata Silva. “Na forma que com tanta justiça se requer”: O direito de petição no contexto da Independência do Brasil. Antíteses, [S. l.], v. 15, n. Especial, p. 146–181, 2022. DOI: 10.5433/1984-3356.2022v15nEspecialp146-181. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/45121. Acesso em: 24 nov. 2024.