Recordar é vencer: as dinâmicas e vicissitudes da construção da memória sobre o regime militar brasileiro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2015v8n15espp9

Palavras-chave:

Regime militar, memória e história, Memória, aspectos políticos, Brasil, história e memória

Resumo

Este artigo propõe uma periodização inédita para analisar o processo de construção da memória do regime militar brasileiro. Partindo do princípio que a memória social e a experiência histórica de uma dada sociedade estão conectadas, procuramos analisar a construção de uma “memória mutável” sobre o regime desde os anos 1970 até a primeira década do século XXI. Nossa hipótese central aponta para a existência de uma memória hegemônica, crítica ao regime militar, construída na confluência de setores liberais (críticos dos aspectos autoritários do regime a partir de meados dos anos 1970) com setores das esquerdas, notadamente a esquerda ligada ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). A partir destas premissas, procuro esquadrinhar e analisar de maneira mais detalhada, três das quatro fases da memória sobre o regime entre 1974 e 2004.

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Biografia do Autor

Marcos Napolitano, Universidade de São Paulo - USP

Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo. Professor da Universidade de São Paulo.

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Publicado

22-11-2015

Como Citar

NAPOLITANO, M. Recordar é vencer: as dinâmicas e vicissitudes da construção da memória sobre o regime militar brasileiro. Antíteses, [S. l.], v. 8, n. 15esp, p. 9–44, 2015. DOI: 10.5433/1984-3356.2015v8n15espp9. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/23617. Acesso em: 16 abr. 2024.